segunda-feira, 20 de julho de 2009

Deadline

Já são quase 23h e eu ainda estou escrevendo a 7a página de uma história que eu comecei há umas 4h. Na verdade é mais um capítulo de um romance, mas deixei meu personagem tão complexo e ambíguo que por vezes fica difícil determinar onde ele começa e eu termino. Ou vice versa. Hoje está simplesmente impossível entrar na cabeça daquele homem xucro e turrão. Será que eu sou assim mesmo? A essa hora você deveria estar em casa. Anda estressado com o trabalho e resolveu sair para beber com os meninos. Esqueceu que eu tenho um puta deadline pra cumprir e também queria a sua companhia: me acalmando e sendo paciente com o meu desespero. Não faz drama, pequena! Vai dar tempo perfeitamente!
Ao me espreguiçar, olho para o lado. Minha vista já cansada consegue visualizá-lo entrando no quarto. Anda em minha direção, depois de largar seus pertences todos em cima da cama. Me beija a testa e pergunta sobre a minha produção. Vai para o banho enquanto eu solto e desamarro todos os meus lamentos. Sempre vou atrás de você. É a minha recompensa depois de horas de trabalho. Eu não sei o que é, mas o seu ritual me acalma. Me dá idéias. Não para a história do homem xucro e turrão, mas para a minha.
Recomeço a digitar, mas já estou tão cansada que não ouso revisar nada. Estou no meu limite físico e mental. Cinco linhas depois e eu disperso de novo. Sua presença - fruto da minha imaginação - se faz novamente no quarto. Não ouso te olhar porque meus olhos entregariam o grito de socorro que eu não quero dar... E eu continuo.
...Toda vez que ele lê aquele nome, - onde quer que seja -, ele sorri. Um sorriso contido, meio triste, daqueles que guardam as lembranças de um tempo bom, mas que já não volta mais... Um sorriso que lembra saudade. Nunca soube ou entendeu o porquê do fim. Mas ele veio. Cruel e devastador. Escorraçou toda a ingenuidade do sentimento. Aquele que cresceu devagar para se transformar no 'complexado amor': sólido, firme e consistente. Pelo menos pra ele foi assim. Durou e ainda dura em seu coração agora amargurado. Ela partiu deixando para trás sonhos compartilhados, beijos apaixonados e abraços intermináveis. Mas ele não consegue chorar. Ou melhor, ele se nega. Daquele nome ele esperou tudo, mas terminou com um grande nada... Um vazio que consome a alma...
E agora ela chora, com seus dedos finos apoiados ao teclado. Seus olhos lacrimejam a história do homem xucro e turrão. Soluça e lamenta algo que consome as suas energias. Uma história que poderia ser a dela. Porque ela já não entende e não sabe onde ela mesma começa... E ele termina...

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