terça-feira, 26 de outubro de 2010

Para quem já foi criança II...

Ando pensando muito na minha infância. Acho que porque vou experimentar e ver uma de muito perto daqui alguns meses. E eu nunca imaginei que fosse admitir isso, mas eu era mega medrosa quando criança. Pelo menos a noite. Pelo menos no escuro. Não enxergar nada e imaginar seres de outros planetas, bicho papão, fantasmas e monstrengos te puxando o pé quando se está deitada na cama pode ser assustador. Ninguém mandou assistir filmes de terror achando que era muito grande para tanto. Ficava tão impressionada que não dormia e imaginava mil coisas. Acho que minha insônia pode vir dessa época. De qualquer forma, dormir com minhas irmãs gêmeas no mesmo quarto não me bastava. Eu dormia no beliche (em cima) e sempre imaginava uma cobra subindo e rastejando pela parede que era exatamente onde eu ficava encostada de olhos bem abertos e pronta pra sair correndo, caso acontecesse alguma coisa. Até que eu era vencida pelo cansaço e dormia. Mas às vezes, algumas poucas vezes, eu sentia tanto medo que acordava as irmãs mais novas e contava uma estória de como era bacana dividir a cama uma com as outras. Ficar conversando baixinho, bem pertinho. Mal elas sabiam que por trás da 'brincadeira' de dormir juntas ou a de conversar baixinho pro pai e a mãe não ouvirem, tinha um medinho real da irmã mais velha aqui. Eu me sentia mais segura bem no meinho das duas e com as pernas bem flexionadas para que nada, absolutamente NADA pudesse alcançar ou puxar minhas pernas indefesas. Mas aí o dia clareava e eu já podia ser forte e corajosa de novo. Pelo menos até a noite.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Para quem já foi criança I...

Meu primeiro ursinho de pelúcia ainda existe. Falta um olho e ele está encardido, mas ainda existe. Lembro que quando eu apertava a patinha dele e falasse algo próximo ao seu coração vermelho, ele gravaria e repetiria as mesmas palavras. Acho que ele era moderninho para época. Nas costas do ursinho tinha um zíper. Ao abri-lo, existia um espaço considerável para a bateria e os fios necessários para fazê-lo funcionar. E eu brinquei muito com ele. De escolinha, mamãe ursa e filhinho e tudo mais. Um belo dia, resolvi usar esse compartimento como esconderijo. Era perfeito. E eu explico o porquê. Minha bisa, vivia chupando balas o tempo todo. De todos os tipos e sabores, mas as que ela mais gostava eram aquelas balinhas 'soft' (que nem existem mais, mas eram uma delícia) e que se entalassem na goela das crianças era um pandemônio só! Ela vivia distribuindo balas para meus irmãos e eu. Somos em 5. E eu não era lá muito fã de compartilhar ou dividir balas e brinquedos. Pelo menos não toda hora. Um dia, resolvi esconder minhas balas no tal do ursinho falante. E meus irmãos nunca descobriram esse esconderijo e eu passei a usá-lo várias vezes para esconder coisas que eu não queria que fossem encontradas de jeito nenhum. Até que um belo dia, eu escondi milhares de balas acumuladas (soft de laranja e morango - as preferidas) ali dentro. Forrei as costas do urso até ele praticamente começar a cuspir balas... Mas eu acabei esquecendo. Dele e das balas. Por um bom tempo. E quando eu fui brincar com ele novamente e olhei meu esconderijo fantástico, as balas tinham derretido. Lambuzado tecido e só não encontrei formigas de todos os tamanhos porque, bom, eu não sei o porquê. Mas, como toda criança que acredita que as coisas não estragam, ainda tentei fazer o ursinho funcionar, só que ele obviamente não me obedeceu. E acho que talvez eu tenha aprendido a lição de que brinquedos, esconderijos e gula podem não combinar tanto assim quando se é criança.