segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ela não quer que eu case...

"Não case e não tenha casa..."
Conselho de mamãe. Seguir ou não seguir? Quando eu estiver perto de uma coisa ou de outra ou das duas, eu penso! Not now...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

...

Feeling blue. Needing blues...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Clarice


Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.

Lispector

sábado, 7 de novembro de 2009

Relatividade


Um dia falta tempo.
No outro parece sobrar.
Um dia você faz tudo o que pode.
No outro não faz absolutamente nada.
Um dia você ri até sua barriga doer.
No outro você chora até as lágrimas incharem o seu rosto.
Um dia você estuda.
No outro aprende.
Em outros você não estuda e também não aprende.
O que não quer dizer absolutamente nada.
Um dia você é o único na vida de uma pessoa.
No outro você é só mais um entre dezenas, centenas ou milhares.
Um dia você é o amor da vida de alguém.
No outro você ficou para trás e esse alguém nem lembra o seu nome ou o porquê te amou um dia.
Um dia te dizem que é pra sempre.
E no dia seguinte aquilo que era pra sempre acabou por morrer ontem mesmo.
Um dia te dizem nunca faça isso.
E no outro dia você faz exatamente o que não deveria. Quem mandou dizer que não pode?
Um dia você faz cagada e se arrepende.
Em outros você está tão puto de fazer cagadas que já não se arrepende de mais nada.
Um dia você pensa - exageradamente - que vai morrer depois de todas as frustrações, decepções e problemas intermináveis da sua vida.
E no outro você descobre que vai sobreviver a tudo isso, viver e reviver momentos muito melhores. Porque o bom da vida está no equilíbrio de todas as forças. Sempre.
Um dia você vive com toda a intensidade do mundo: sentimentos e atitudes transbordando o seu ser. Adrenalina a mil.
No outro você é apenas mais uma carcaça remendada por todos os lados pela mais completa e significativa indiferença. Essa sim é de matar.
Um dia você vai entender que não é apenas uma questão de tempo, pois o tempo é relativo. É só tempo que passa igual pra todo mundo.
Um dia você vai perceber que é uma questão de vida. Essa sim é diferente pra cada um.
E quando esse dia chegar você vai se dar conta - finalmente - que um dia...
Pode ser só mais um dia. Pode ser pouco, mas também pode ser muito.
Porque o tempo não respeita a vida, mas a vida também sabe abusar do tempo...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

We'll always have London...

Penso muito em você. Não queria que esse texto fosse tão pessoal, mas hoje eu não pretendo transferir aquilo que sinto ou meus momentos, para um personagem qualquer. São momentos meus. Ou melhor, nossos. Também não vou correr o risco de que a minha memória comece a esquecer cada detalhe, de cada dia, dos 3 meses em que passamos juntos. Às vezes eu penso em como teria sido mais fácil se tudo tivesse permanecido no campo virtual. Você a um oceano de distância e eu aqui. Foram meses assim e já estava bom. Mas algum tempo depois a gente quis mais. Era preciso tornar real. Você veio pra cá e quando te vi, tão diferente daquele garoto que conheci na faculdade, o friozinho na barriga foi um sinal: soube exatamente que queria isso e que já não tinha mais volta. O sofrimento por ter que ver você partir - cedo ou tarde - , naquele momento, parecia tão distante. Eu escolhi e aceitei todas as conseqüências. Sim, eu ainda penso muito em você, mas é difícil descrevê-lo com poucas palavras, pois você representou uma infinidade de coisas pra mim. É tudo tão maior que eu e qualquer palavra ou tentativa vai soar pequena ou insignificante. Prefiro lembrar os momentos e eu lembro de tudo, tudo, tudo... Das conversas intermináveis dentro do meu carro, com você deitado ao meu colo e falando sobre o rumo de nossas vidas. Com os vizinhos do prédio ao lado a nos observar. Das cervejas, ices e vinhos que compartilhamos nos lugares mais banais ou diferentes. Davam a coragem necessária pra falar aquilo que ninguém mais sabia a respeito de nós mesmos. Não sinto falta do bigodinho, mas adorei o souvenier que você me deixou. Sinto falta de observar as pessoas caminhando no parque nos dias frios. De ver seus olhos consumistas brilharem por qualquer parafernália eletrônica. De você brabo comigo no meio da rua e me impedindo de dirigir levemente alcoolizada. Dos seus abraços, dos seus beijos intensos e que percorriam o meu corpo inteiro. Do toque das suas mãos. Da sua pele na minha. De você dividindo a minha cama. De dormir e acordar feliz por ter você ali. Das nossas pernas entrelaçadas. Do seu cheiro. Da sua presença. Dos amassos. De todos os blues possivéis e imagináveis. Dos nossos apelidos. Dos filmes e seriados que assistimos. Das suas histórias. Das nossas sobremesas. Da sua risada. Da nossa preguiça. Dos amigos que conheci através de você. Das baladinhas com eles e os programas a dois. Do seu olhar sério e o medo do que você poderia vir a me dizer. Do ciuminho saudável. De saber ser observada por você e me sentir totalmente aceita. De analisar suas fotos. De você capturando os meus momentos. De você não conseguir ler nos meus olhos aquilo que eu queria que você enxergasse. Das nossas mãos dadas. Do carinho. Do seu cuidado comigo. Da sua preocupação. De me encorajar a todo instante. Das mensagens que deixei no seu celular e suas ligações como resposta. Do medo de me apegar. Medo que você também teve. Da caminhada quilométrica e sem rumo do nosso último sábado juntos. Do descanso. Das cervejas pra matar a sede. De ouvir os planos da sua viagem. Do meu último choro acompanhado do nosso alívio. De ver você feliz. De estar feliz junto. De ter vivido tudo isso. De saber que teve muito mais. De não saber que o último dia era realmente o último. Foi tão simples... Se eu apenas soubesse...
Não quero e nem vou repassar isso para personagens. Eles não teriam vivido tudo com a mesma intensidade e entrega que eu. Finalmente alguém me deu tudo aquilo que eu quis um dia. Mesmo que a curto prazo e distância cruéis. Espero ter conseguido proporcionar algo de bom em você e pra você. Que você se lembre de tudo com o mesmo carinho que eu. Talvez o seu afastamento nos últimos dias tenha sido a melhor opção. Eu sou tão ruim para despedidas e desapegos quanto você. Mas acho que também não teria mudado nada naquilo que a gente viveu. Podia ter feito mais? Ter sido melhor? Diferente? Não tem como saber agora, mas pelo menos we'll always have London e que é lá que você vai estar me esperando para o que ainda tiver que acontecer.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Coffee break

A amargura do café não. Hoje não. Quero algo mais doce, mais cremoso... Com os pés descalços e a camisola folgando no corpo ela caminha até a cozinha para o café da manhã. Pega as latinhas de café, achocolatado, açúcar, leite em pó... Tudo para fazer o seu próprio cappuccino. Enquanto separa ingredientes, pega canecas e bacias, vai ponderando sobre os rumos de sua vida até então. Como é bom estar de férias! Não admitir que já sente falta do trabalho é estratégia para enganar a mente. Ela já está quase enlouquecendo de saudade. E se eles gostarem mais do substituto? O que diabos irá acontecer comigo? E se ele me contradizer na frente dos outros? E se ele rir ou roubar parte das minhas idéias? E se... Ah, pára de pensar nisso! Relaxa enquanto você pode...
Havia aprendido a receita de cappuccino com a mãe. Não sabia se fazia uma medida para o momento ou se preenchia latas e latas com a mistura para semanas a fio. Peneirava pó por pó com uma paciência de Jó. Quem me disse que cozinhar pode ser uma terapia? Parou, olhou pela janela, para as plantas lá fora e lembrou. Foi ele. E uma avalanche de lembranças, de repente, se fez presente. O café na cama e a variedade de doces folhados que ele tinha escolhido só para ela. E as noites frias e de chuva em que ela acordava assustada, mas se acalmava ao sentir o calor, o abraço e o toque das mãos dele. E as tentativas frustradas de fazer com que ela se exercitasse no parque, mas ela insistia em que não precisava. Era movida a cafeína. E todos os lanches, doces, bebidas nos diferentes períodos do dia. E...
Quando se deu conta, já estava batendo aquela mistura com uma velocidade absurda e o pó que subia foi grudando em suas mãos e braços. Parou, num misto de euforia e desalento. Colocou a bacia na bancada. Apoiou as duas mãos e respirou fundo. Uma, duas, três vezes. Controle-se. Não chore porque você sabe que não vale a pena. Passou as mãos por entre os cabelos e aquele cheiro de café, mais chocolate fizeram-na sorrir. O cheiro já estava impregnado em suas narinas e a sensação de bem estar fez com que suas mãos percorressem o seu corpo inteiro. Espalhava aquele pó por entre braços, barriga, colo, nuca, costas e coxas.... Desenhos disformes que eram fixados à pele graças ao seu suor. E ela riu: sentada, sozinha e emporcalhada em sua cozinha. Já não tinha mais necessidade de provar do líquido amargo ou do cappuccino cremoso. Seu tato e olfato já tinham comunicado à sua mente da saciedade. Voltou para o quarto. Nem ao menos cogitou a possibiliade de um banho. Jogou-se na cama, forrada por lençóis brancos. Ficaria ali a manhã inteira. Rolando de um lado para o outro estampando desejos, saudades, lembranças... E lamentando, amargamente, o fato de ele conseguir odiar café...


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dor

Lembrar. Doer. Querer chorar. Mas não poder. Até pode. Mas você não quer. Não agora. Não ainda. Calma. Pode não ser nada. Só lembranças... Malditas! Benditas! Não sei e nem quero saber! Por que elas ficam se você tem que ir embora? Leva tudo com você. Sofre no meu lugar. Não quero... Leva, por favor? Vai, anda! Já disse que não quero! Merda! Você some e eu fico com tudo. Todas elas. Obrigada. Obrigada por me querer bem. Pelo seu egoísmo. Por pensar em mim. E é exatamente por isso que eu não vou chorar. Me proibo. Simples assim. Agir como você é fácil, só que eu não quero ser como você.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Alívio

Preocupação e ansiedade. Parece não ter fim.
Depois, bem depois vem o alívio. Mas não ainda.
Chorar e rir ao mesmo tempo. Para depois optar por um ou outro. Felicidade pela escolha. Tristeza pela que ficou para trás.
Depois, bem depois vem o alívio. Mas não ainda.
Desgaste físico. Mental. Estresse. Raiva. Angústia. E a calmaria. Tudo junto e misturado. Montanha russa emocional.
Depois, bem depois vem o alívio. Mas não ainda.
O respirar difícil. A decisão. A coragem. A ousadia. O medo de errar o básico. O coração batendo acelerado.
Depois, bem depois vem o alívio. Mas não ainda.
Encarar tudo. De frente. Com convicção. Com razão. Com justiça. Não tem como errar. Não tem como ficar mal. O resultado pode até não ser o esperado. Mas depois de tudo isso... Nada, mas nada é melhor do que a sensação seguinte.
Descanso... Repouso... Folga... Conforto...Consoloção...Chame do que quiser. Tudo é alívio... Puro! Aquele que você sente agora.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Descobrindo você...



Um dia, eu chamei ele: vem qui!
Ele não veio e eu chorei.
Não sei porque.
Não caí do balanço, não me ralei, não fiz dodói.
Mas doeu de um jeito diferente...
Lá bem dentro de mim.
No outro dia, ele veio.
Eu nem chamei...
Quando ele me tocou
Eu gritei: sai daqui!
Ele me olhou assustado.
Eu também me assustei...
Ele foi embora. Ele chorou.
E eu chorei também...



quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Hora de voltar...

Você caminha. Por horas e horas antes de parar para descansar. Você tem um rumo, mas não tem prazo ou data certa para chegar. Quem comanda o ritmo é você. Quem determina o quanto caminhar, também. E você vai... Segue. Para onde quiser. Livre de pensamentos. Outras vezes abarrotado por eles. É a tal viagem de autoconhecimento. De descobrimento. Chega de conforto. Você quer é sentir a dor na pele, nas juntas, nos músculos e articulações. Comendo e bebendo o suficiente para manter-se em pé. Vivendo como um andarilho. Aprendendo como ser humano.
E quando você liga pra casa, descobre a importância e a saudade que sente de seus familiares. Ouvir suas vozes faz com que você queira voar até sua casa só para poder estar perto. Só para poder abraçar, tocar, sentir o cheiro e ouvir - seja lá o que for - da boca daqueles que você tanto ama e que nem sempre consegue demonstrar. Você segura a lágrima, ordena a si mesmo não caia! Não quer que sua voz embargada entregue a falta que você sente daqueles abraços todos, de toda a atenção, daqueles 5 segundos de contato humano que fazem a diferença. Sempre...
E você pensa em suas dores. Nos seus amores. E não sabe se ri ou se chora. Não sabe o que fazer ou para onde ir. Mas vai... Porque sabe que cada detalhezinho desses, cada pedacinho de vida vai ficando pra trás... E as frustrações diminuem. Os arrependimentos também. Você vai perdendo-os, propositadamente, pelo caminho. Ou melhor, vai esquecendo-os por onde passa. Já não tem medo de olhar para trás porque sabe exatamente o que deixou para trás. E não quer tudo isso de volta. Nunca mais. Quer dores diferentes. Amores maiores. Perdas menores. Ganhos significativos. Quer mais da vida. Bem mais...
E quando sua mãe diz volte a vontade é de ir correndo. Você pensa e lembra de tudo o que passou e viveu para chegar até ali. De tudo o que ainda tem que viver e sofrer. De tudo o que ainda vai ter que abrir mão. Mas também pensa na felicidade. No aprendizado contínuo e duro. E por mais que te doa na cabeça e no coração você se prepara para uma resposta fria e calculada. Sabe que vai passar a próxima meia hora chorando em função dela. Mas diz: Não mãe, ainda não é hora de voltar... E desliga o telefone antes que ela possa responder ou perguntar qualquer outra coisa. E você se lamenta ainda mais que antes. Soluça e chora sem parar porque em sua pressa e em seu egoísmo momentâneo esqueceu de dizer a única coisa que ela esperava e precisava ouvir: te amo...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Seja o meu príncipe...

Porque o melhor beijo é o seu... O abraço mais apertado... O mais sincero... A risada mais gostosa... O choro mais doído... Os olhos azuis mais lindos e transparentes são os seus: que me desmontam com um simples oi ou um eu te amo muito... Mesmo que você ainda não entenda completamente e não perceba a importância daquilo que diz... Porque você me enxerga não apenas como dinda, mas como amiga. Como criança. Alguém igual a você. Porque diante dos seus olhos consigo perceber o melhor de mim...Porque você enxerga a minha beleza onde ela realmente está. Você me respeita. Você me faz feliz. Descubro você - e vice-versa - todos os dias. Dizem que príncipes encantados não existem. Mas que sorte a nossa vivermos em um outro mundo! No nosso mundinho imaginário você já é quase rei...

domingo, 13 de setembro de 2009

Definição de saudade

- Eu tô com saudade...
- Saudade*? O que ser isso?
- Ser um bichinho não domesticado que invade os cérebros das pessoas pra colocar lembranças de outras pessoas importantes e pra fazer com que se pense nelas frequentemente...

*Definição dada por uma criança de quase 30 anos à uma outra um pouco mais nova.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Por que eu gosto de você?

[Silêncio na linha...]
- É tão difícil assim você dizer o porquê gosta de mim?
- Não, não é difícil. Só não é um bom momento pra me perguntar. Eu estou levemente alcoolizada e não raciocino direito. Você sabe disso...
- E é exatamente por isso que eu pergunto. Eu adoro quando tua cabeça fica zureta porque ela pega tudo o que eu quero saber quando você muda de assunto e me conta de uma vez só!
- Manipuladorzinho barato você!
- Me diz, por favor...
- Tá, mas depois disso, podemos voltar a falar sobre amenidades? Como se eu nem tivesse me pronunciado a respeito?
- Vai ser como se você nem tivesse mencionado nada. Prometo!
- Tá...Bom, eu gosto de você pelo homem que você me mostra ser, pelo amigo que é e não deixou de ser - mesmo depois de tanto tempo - e ainda mais agora... Eu gosto de você por me respeitar, por me querer bem, por não me fazer chorar - porque isso é tão fácil e por mais que eu me mostre uma fortaleza humana... E se eu choro é pela saudade e por querer coisas que estão fora do meu alcance e mais ainda por querer que você me dê tudo isso... Eu gosto de você porque você me faz rir, porque se preocupa comigo e porque é solidário aquilo que é importante pra mim ou que faz parte da minha vida... Eu gosto de você porque por mais que você diga o contrário, tudo aconteceu de forma espontânea e sem esperar... Eu gosto de você porque você é um tanto diferente de mim e me mostra outras várias coisas que eu talvez nem tivesse - um dia - a intenção de considerar... Eu gosto de você porque você me faz bem, porque está sempre comigo - da melhor maneira que a gente pode - e porque eu não sentia nada assim fazia tempo... Gosto de você porque eu estou feliz, mesmo você estando tão longe... E não é pra se assustar porque eu tenho muito bem noção da nossa situação, tá... Se eu falo é porque prefiro liberar à ficar guardando aquilo que eu sinto só pra mim... Eu te gosto por tudo isso e talvez mais, mas minha cabeça já tá meio zureta e... Bom, deixa pra lá... Acabei... Que horas você viaja amanhã?
[Silêncio na linha... ]...
- Você ainda tá aí?
[Silêncio continua na linha...]

sábado, 29 de agosto de 2009

Pensar e pensar

O que dizer? Como definir o atual momento? Não convém pensar muito, pois o desgaste mental também é traiçoeiro. Pensar e pensar. E não encontrar. Não é isso o que eu quero dizer. Falta aquela palavra. Falta aquele sentimento. Falta lapidar aquela idéia. E ele precisa dela tanto quanto eu. Pensa, por favor, pensa. Na atual conjuntura não adianta forçar. Na falta de tu, vai tu mesmo. Roteiristas, compositores e escritores: me definam! Me 'dêem' algo que seja traduzível... Me ajudem!
Sorte de hoje: Lembrar que você deve frases sábias (de filmes,
músicas e livros) para aquele que te presenteou com um elefante imaginário...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dúvida

- Me beije, me tenha, mas nao me ame... É isso?
- Não. Eu acho que está mais para: me beije, me tenha, mas não pense no amanhã....

domingo, 23 de agosto de 2009

Relógios

"Como vocês conseguem dormir? São quase 15 relógios de parede e antigos espalhados pela casa!"
É uma questão de costume, ela responde. Na verdade, ela acredita ser isso. Nunca tinha pensado a respeito. Nunca tinha visto os relógios batendo como um problema. À ela, não incomodam. É uma verdadeira sinfonia para meus ouvidos, pensa. Ouví-los dá a noção e a dimensão do que é o seu mundo. Mas hoje eles estão parados. Todos eles. Já faz quase 50 dias. Silêncio que incomoda. Não combina. Quem vê de longe não entende. Pensam que eles são prisioneiros das horas. Prisioneiros do tempo. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Cada relógio tem seu tempo próprio. 2 minutos, 5 minutos, 10 minutos de diferença entre todos eles para o badalar das horas cheias não ser ensurdecedor e incômodo. É possível perder a hora sim. É possível adiantar-se à ela também. Depende da forma com que cada um guia sua própria vida.
Ela pensa em dar corda em cada um deles, mas ele teria um ataque se soubesse que ela tentou fazê-los funcionar. "Não faça isso. Você vai acabar tirando eles do eixo". Admira a dedicação que ele tem para com cada uma das peças. Como limpa e espana cada detalhe. Como sente prazer em ajustá-los e alinhá-los. Como dedica tempo e atenção a uma tarefa ridiculamente simples, mas que muitos não teriam capacidade ou paciência de fazê-la.
Ela sente falta de - mesmo do quarto - não conseguir ouvir os relógios tocando. De perder sua referência de horário em plena madrugada. De acordar e ouvir o silêncio. Já faz quase 50 dias que não se ouve mais nada. Hoje é domingo e ela já está acordada - não sabe há quanto tempo -, mas continua deitada na cama. Pensa na semana que irá começar. Pensa no trabalho. Pensa em você e na próxima viagem. Pensa em... Barulho. Ou melhor, música para os ouvidos. E sorri. Por dentro e por fora. Batidas compassadas como a de dois corações ou de alguns relógios... Eles voltaram a badalar. O que significa dizer que você, finalmente, voltou pra casa...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Vício

Um novo vício chamado língua...
Ou melhor: idioma.
Livemocha
Enjoy!

domingo, 26 de julho de 2009

ps: anônimo

Não sei quem você é. Não sei se é homem ou se é mulher. Não sei de onde veio nem para onde vai. Desconheço suas crenças. Não sei da sua família, da sua vida, não sei nada. E mesmo assim, você fez a diferença. Mesmo assim eu penso em você. Nas coisas que deixou de fazer. No que te aconteceu ou em como as pessoas que você amava estão. Como pode um único fato proporcionar sentimentos tão diametralmente opostos àqueles que estão envolvidos? É difícil... A minha alegria acarreta a tristeza de alguém importante pra você. Mas ao mesmo tempo eu penso que você fez uma escolha. Simples - ou de repente nem tão simples assim -, mas o seu gesto foi extremamente nobre e humano. Uma única escolha que representa vida nova para tantas outras, apesar da dor e sentimento de perda que permanece para aqueles que estavam ao seu lado. Rezo por eles. Rezo por você e agradeço todos os dias. Porque o seu rim possibilitou e deu nova vida ao meu pai. Muito obrigada...

sábado, 25 de julho de 2009

Continuar

Continuo a te buscar, mas você já não quer ser encontrado.
Continuo a te sentir, mas não com a mesma intensidade de antes...
Continuo a falar e a perguntar, mas você não me responde.
Continuo a ouvir, mas seu silêncio já não me diz nada...
Mas eu continuo. Sabe-se lá o porquê.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Deadline

Já são quase 23h e eu ainda estou escrevendo a 7a página de uma história que eu comecei há umas 4h. Na verdade é mais um capítulo de um romance, mas deixei meu personagem tão complexo e ambíguo que por vezes fica difícil determinar onde ele começa e eu termino. Ou vice versa. Hoje está simplesmente impossível entrar na cabeça daquele homem xucro e turrão. Será que eu sou assim mesmo? A essa hora você deveria estar em casa. Anda estressado com o trabalho e resolveu sair para beber com os meninos. Esqueceu que eu tenho um puta deadline pra cumprir e também queria a sua companhia: me acalmando e sendo paciente com o meu desespero. Não faz drama, pequena! Vai dar tempo perfeitamente!
Ao me espreguiçar, olho para o lado. Minha vista já cansada consegue visualizá-lo entrando no quarto. Anda em minha direção, depois de largar seus pertences todos em cima da cama. Me beija a testa e pergunta sobre a minha produção. Vai para o banho enquanto eu solto e desamarro todos os meus lamentos. Sempre vou atrás de você. É a minha recompensa depois de horas de trabalho. Eu não sei o que é, mas o seu ritual me acalma. Me dá idéias. Não para a história do homem xucro e turrão, mas para a minha.
Recomeço a digitar, mas já estou tão cansada que não ouso revisar nada. Estou no meu limite físico e mental. Cinco linhas depois e eu disperso de novo. Sua presença - fruto da minha imaginação - se faz novamente no quarto. Não ouso te olhar porque meus olhos entregariam o grito de socorro que eu não quero dar... E eu continuo.
...Toda vez que ele lê aquele nome, - onde quer que seja -, ele sorri. Um sorriso contido, meio triste, daqueles que guardam as lembranças de um tempo bom, mas que já não volta mais... Um sorriso que lembra saudade. Nunca soube ou entendeu o porquê do fim. Mas ele veio. Cruel e devastador. Escorraçou toda a ingenuidade do sentimento. Aquele que cresceu devagar para se transformar no 'complexado amor': sólido, firme e consistente. Pelo menos pra ele foi assim. Durou e ainda dura em seu coração agora amargurado. Ela partiu deixando para trás sonhos compartilhados, beijos apaixonados e abraços intermináveis. Mas ele não consegue chorar. Ou melhor, ele se nega. Daquele nome ele esperou tudo, mas terminou com um grande nada... Um vazio que consome a alma...
E agora ela chora, com seus dedos finos apoiados ao teclado. Seus olhos lacrimejam a história do homem xucro e turrão. Soluça e lamenta algo que consome as suas energias. Uma história que poderia ser a dela. Porque ela já não entende e não sabe onde ela mesma começa... E ele termina...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Porque você é assim...

Um momento de beleza

(...)
Às vezes as pessoas são bonitas.
Não pela aparência física.
Nem pelo que dizem.
Só pelo que são.

Markus Zusak - Eu sou o mensageiro

Porque você é assim... Pra mim...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Home is where the heart is...
E eu nem sei onde o meu está.

Home is where the mind is...
E a minha ainda viaja por aí.

Home is where the soul is...
E a minha está em algum lugar...
Que não é aqui.

domingo, 31 de maio de 2009

Orfandade

Órfã de você eu fiquei.
Foi só eu te descobrir e te gostar para você partir.
Como tantos fazem. Foi embora de vez e já não existe volta.
Só me resta olhar para trás. Se vou sentir saudade?
Se vou continuar carregando novas dores?
Se vou lembrar dos velhos amores?
Se as alegrias esporádicas me encontrarão pelo caminho? Certamente que sim...
Mas de repente, não mais que de repente, me vi órfã de me encontrar por entre seus pensamentos confusos.
Aqueles que tanto me fascinaram um dia porque foram os únicos em que consegui me reconhecer. Você sempre falou e se expressou para mim.
Quanto egoísmo o meu. Quanta saudade. Quanto amor. Quanto tesão. Quanta decepção.
E no entanto, me sinto orfã de todos estes entusiasmos mutáveis e contraditórios, mas sempre sinceros que poucos - como você - conseguiram aflorar.
Órfã de me enxergar e de poder me buscar - por e através - de você.
Te buscaria sempre. De novo e de novo.
Não importa o tamanho da dor que a sua ausência me causa.
É pior que qualquer vício.
Orfã de suas estórias de amor eu estou.
Órfã de mim mesma.
Órfã da sua vida entrecruzando à minha.
Órfã de nossas almas que talvez nem fossem gêmeas, mas se entendiam.
Como poucas...
Maldita a hora em que fui me acostumar...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Saudade de você amargando a vida...
Aquela que eu finjo ser doce.

Saudade de você adoçando a vida...
Aquela que é.

Saudade de não saber mais do que sentir saudade...
Saudade de sentir.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Cadê o erro?

São quase 2h. Ela entra em casa cambaleando e se esforçando para não fazer barulho. Mal deixa as chaves na bancada da cozinha e ele acende a luz. Olha pra ela com uma cara de reprovação. Antes que ele possa dizer alguma coisa, ela já se defende.
- O meu dia foi péssimo e eu te disse que ia a um happy hour. Precisava espairecer...
- Sei que o seu dia foi uma merda, mas podia ao menos atender o telefone...
- Desculpa, eu devo ter esquecido o celular no silencioso...
- Juro que a minha vontade é de brigar!
- Depois do dia infernal que eu tive...E eu é que ainda levo?

Ele esboça um sorriso que a irrita.
- Não é engraçado! Você devia passar a mão na minha cabeça, me dar um abraço e não brigar comigo! Diga que me entende...
- Ok, eu te entendo e não vou brigar. O quanto você gastou nessa brincadeira?
- Quase nada e eu nem bebi tanto...
- Sei! Eu devia é puxar tua orelha, mas prefiro o abraço e a mão na cabeça...
- Por que diabos você puxaria a minha orelha? Até agora eu não entendi onde errei!
- Tá bom, você não errou...

Estava indignada e quase não conseguia ficar em pé. Com o tom de voz cada vez mais alto exigia uma resposta.
- Ah, fala sério! Onde eu errei? Eu tô tão puta que não consigo perceber! Vai, me ajuda!
- Não vai ficar de cara comigo?
- Não...
- Bom, o seu chefe te frustrou. Você ficou de cara, se deprimiu com razão porque estava esperando a retribuição do seu trabalho. Daí o quê você fez? Ao invés de respirar fundo e procurar manter o controle você se auto flagelou. Foi tomar um porre pra esquecer! Mas não dá pra esquecer disso em um dia então o porre não serviu de nada. Te enganaram e logo depois você se enganou. Liberar endorfina é bom, mas de maneira saudável... Não dá pra usar o alcóol como muleta...

Nossa, que soco no estômago. Não, foi pior e muito mais doído que um soco no estômago. Sem perder a dignidade, retrucou.
- Você sabe que eu sou exagerada, mas eu só sai pra beber. Era o meu plano independente do que aconteceu. Acho que depois do mês de trabalho intenso que eu tive, em que eu me dediquei, me esforcei, me desgastei por miséria...eu merecia algum tipo de recompensa!
- Ainda bem que eu perguntei se você não ia ficar de cara...
- Eu não fiquei de cara! Só estou respondendo... Ou era só pra ouvir?
- Não, relaxa. Podia ter réplica sim...

Ela odiava não conseguir entender e decifrar aquilo que ele pensava. Ou nas coisas que ele queria dizer e não dizia. Pelo menos não com todas as letras. Estava alcoolizada demais pra isso.
- Quem ficou de cara foi você, pelo visto...
- Claro que eu fiquei de cara! Eu quero te ver bem, porra! Não quero que você se deixe vencer por esse filho da puta... Só isso!
- Eu também não, mas foi mais forte que eu! Levei uma puta rasteira, só isso. Não vou ficar no chão, remoendo o que aconteceu. Mas quero me levantar com elegância e estilo e não fazendo cena... Agora dá pra parar de brigar comigo?
- Eu não estou brigando...
- Então por que diabos você ainda não me deu o abraço e nem passou a mão na minha cabeça?
- Porque eu quero e vou fazer muito mais que isso...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ele é vazio ou é de pedra...

Não quero me justificar. Só vou dizer o que é e como é pra mim. É só um desabafo. Relacionamentos não me fazem bem, não me fazem melhor, só me sugam o que eu tenho de bom e me fazem sofrer. Não existe troca.... Cansei de esperar e me dedicar por algo ou alguém que nunca vem ou que nunca se entregou por completo. Pelo menos não a mim. Não quero mais. Se tudo o que eu quisesse fosse viver uma historinha de cinema, daquelas bem besta onde tudo é tão perfeito e maravilhoso que irrita, eu até entenderia minhas frustrações e meus planos malfadados. Mas não. Só queria alguém disposto a aceitar e entender minhas neuras. Me esforçaria para entender as suas também. Alguém que me mostrasse caminhos ou escolhas. Alguém que se importasse comigo e que tivesse a certeza da reciprocidade na relação. Aceitaria suas dúvidas, te ajudaria a elucidá-las - se estivesse ao meu alcance. Ficaria feliz com suas certezas e conquistas. Viver a idéia de um aprendizado contínuo e de aceitar as diferenças é um desafio. É algo que exige, mas que tem lá as suas recompensas. Se escrevo sobre relacionamentos é porque gosto, porque são pequenos fragmentos de uma vida que eu queria ter e não tenho. Acredito neles, mas não consigo vivê-los. Não me pergunte o porquê, não me mostre a minha teimosia, não aponte só os meus defeitos, não me diga que ou o que eu mereço. Eu sei aonde está a minha culpa. Eu sou o sabotador da minha própria vida... Talvez a (des)graça esteja aí, não? Não seja como eu. Não se agarre aquilo que não existe. Dói ler tudo isso, eu sei. Mas você não tem a mínima idéia da dor que é realmente viver isso... Ou o coração está vazio ou ele virou pedra.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mundo pequeno

- É uma coisa da minha cabeça procurar a motivação de um acontecimento e tentar eliminar o acaso.
Por um acaso você está querendo dizer que eu sou este acaso? Ela pensa antes de responder:
- Olha, não sei explicar o porquê a gente voltou a conversar. Simplesmente aconteceu. Você não gostou? Tem algum problema? Estou ficando confusa, como se tivesse pisando em ovos pra falar com você...
- Se você está pisando em ovos é porque está sem jeito. Se está sem jeito é porque tem motivo. E se tem motivo eu quero saber. Me conta, vai...
- Achei que já tivesse contado antes. Não podemos simplesmente deixar 'as coisas' como estão?
- Você quis saber o que acontece e eu respondi. Não me pergunte o nome do que rola, mas claro que alguma coisa rola. Se foi e é algo natural, deixemos como está. A gente continua conversando, afinal você me faz bem. O que é que tem?
- Não tem nada. Quem está encucado com alguma coisa é você. Mas tudo bem, podemos deixar assim...
- O que foi?
- Nada, só estava pensando. Claramente a gente é diferente. Enquanto você tenta racionalizar o acontecido eu 'apenas' sinto sem me preocupar com o porquê das coisas...
- Não briga comigo...
- Eu não estou brigando. Me fala o que você está pensando nesse exato momento!
- Eu acho que o mundo, às vezes, podia ser mais pequeno...
- Ai que fofo! Juro que eu achei que você fosse fugir a uma resposta. Você anda meio tímido ultimamente...
- Com tanta água no meio, às vezes, fugir de uma resposta não seja timidez. Até mesmo porque a resposta está na cara... Na verdade é só uma maneira de estender essa coisa que acontece...
- E o que acontece?
- A gente ainda não sabe. Me diz o que você está pensando nesse exato momento...
- Eu acho que o mundo poderia ser mais pequeno... E que o Brasil e a Espanha fossem próximos o suficiente para que a distância pudesse ser percorrida por uma simples ponte...

domingo, 5 de abril de 2009

Entre o real e o imaginário

Não queria que as coisas que você escreve tocassem tanto o meu coração. Não queria sentir que vez ou outra perco meu próprio controle em função sua. Não queria acreditar nas maravilhas que você descreve, muito menos acreditar em suas dores. De uma forma ou de outra, elas acabam virando as minhas também. É algo maior que eu. A racionalidade - aquela que uso como armadura - se desmancha quando você me toca. Não fisicamente, mas com suas palavras. Não basta aflorar as emoções que eu tento esconder ou disfarçar, mas você também quer gerar a discórdia entre aquilo que penso e sinto. Por que é tão difícil balancear as duas forças? O que eu deveria aniquilar? Você já escreveu sobre essa disparidade. Parece simples, mas é algo que foge a minha compreensão que sempre buscou o complexo.
Às vezes, me assusto como suas estórias me consomem por dentro. Por vezes me falta o ar. Outras me sinto queimar de raiva ou de tanta paixão. Tem vezes em que eu me desmancho em lágrimas. É como se seus personagens ganhassem vida de encontro à minha. São tão reais quanto a minha existência. Sentem o mesmo que eu. Condenam outros da mesma forma. Sofrem, desistem, voltam atrás e apesar de todas as contradições, eles vivem. Fica fácil acreditar em você e naquilo que você tão habilmente me diz. Ou me escreve. Ou me inventa. Ou me conduz. Ou me induz.
Mas são apenas palavras e talvez eu não devesse fixar-me tão ingenuamente à elas. A sua vida não é aquela que você me faz acreditar, mas é aquela que por vezes me dói imaginar. Queria poder te dizer que eu sei o que é real. Que eu sei de onde todas as suas histórias partem. Que eu sei o porquê você escreve o que escreve. Que eu sei exatamente onde o real e o imaginário se misturam ou se separam por entre as linhas e as entrelinhas dos seus contos. Mas eu não sei. E existem certas coisas que a gente não deve buscar entender. Porque doem, porque ofendem, porque permanecem obscuras - quando e onde - não deveriam estar. Porque a razão é carrasca e o sentimento ingênuo. Porque ainda não sabem conviver. Porque se digladiam e já não se sabe mais o que pensar ou sentir. O que importa é que toda vez que eu te sinto, eu me sinto. Eu vivo. Eu sigo. Mesmo que no escuro e sozinha, mas sigo. E é o que vou continuar fazendo. Sabendo ou não de onde tudo vem. Sabendo ou não o que diabos você tenta e quer me dizer.

domingo, 29 de março de 2009

Estranho pode ser bom

Estranho pode ser bom. Lembra? A gente costumava dizer isso quando algo incomodava. Não era exatamente um incômodo, pois não sabíamos ao certo definir se era algo bom ou ruim. Mas quando não se sabia ler e entender o próprio pensamento ou quanto mais entender um sentimento, a salvação era essa. Dizer que o estranho pode ser bom... E a gente ria pois era melhor acreditar nisso a tentar compreender aquilo que não se conseguia. O estranho era o elo. Você era a minha versão masculina. Éramos e ainda somos - de certa forma - tão parecidos que chega a ser assustador.
Ela costumava dizer que não existia ninguém no mundo como ele: ele era a versão masculina dela. E vice-versa. Nunca tinham encontrado alguém que satisfizesse tanto as expectativas um do outro. Não só eram fisicamente parecidos, como gostavam e acreditavam nas mesmas coisas. O que era importante para um, tinha o seu grau de importância para o outro.
Está estranho agora. Mas já não é o estranho bom. É uma sensação ruim. Como se a vida fosse retroceder de alguma forma. Como se fosse algo que fugisse ao meu controle ou ao seu. Talvez seja medo. Mas não entendo, pois eu julguei estar preparada. Medo do vácuo que irá surgir. Medo da ausência que já foi sentida tantas vezes. Medo de que eu não te perceba mais por entre os seus textos. Medo que você não tenha mais tempo para escrever. Medo de ter outro amigo indo pra longe do meu alcance. Medo e vergonha de chorar na frente de outro sem me preocupar com a cara vermelha ou o nariz de rena. Medo de que ninguém mais me entenda e que mesmo assim me considere como você. Medo de que ninguém mais me dê duras, diretas ou indiretas do ato sublime que é viver. Medo de perder o que de alguma forma já foi perdido. Medo de que eu não possa estar junto ou vê-lo concretizando seus sonhos. Medo de não me acostumar... Pela primeira vez, depois de vários anos de convivência, sei perfeitamente dizer que tudo está estranho. Não é o estranho bom que muitas vezes sentimos ou fingimos sentir (por medo do que aquele maldito incômodo pudesse significar), mas é assim que é. Pra mim...
Boa sorte! Que o estranho possa ser bom novamente quando você já estiver lá...

quinta-feira, 19 de março de 2009

A que preço?

"Quando a gente não sabe se chora ou se ri...Ou quando faz as duas coisas ao mesmo tempo é sinal de estresse... Você ainda não percebeu que está trabalhando demais?" Aquele olhar de preocupação que ele lança faz com que ela pare pra pensar no caso. Eu mal comecei a trabalhar e já estou estressada? Isso não pode ser normal... Por que eu não aguentaria o tranco?
Ela se sensibiliza com o comentário e ri, meio sem jeito. A vontade era chorar... Se ela não tinha percebido o excesso daquela jornada de trabalho absurda, ele sim. Bom, hoje eu entrei às 8h30 e só saio às 22h... Será mesmo um exagero? Mal sabe ela que sim, mas de que adianta? Trabalhar mais ou menos é uma questão que foge totalmente ao seu controle. Ela não manda, é mandada. E obedece. Não basta jogar (in)diretas à gerência, pois ninguém parece ligar. E porque ligariam? Ela é apenas mais uma pecinha totalmente substituível em caso de algum dano irreversível. Já teve uma crise nervosa uma vez. Resolveu não se responsabilizar se tiver uma próxima e bem no meio ou no fim do expediente. Foram avisados. E antes que possam mandá-la embora, ela mesma irá pendurar as próprias chuteiras. Tô trabalhando e ganhando dinheiro a que preço? Já não durmo, quase não como, não paro de pensar em trabalho, não tenho mais vida social, muito menos tempo pra mim. Aquele tempo indispensável e só pra mim. Dizer que ela era feliz e não sabia é até maldade. Já sentia saudade daquele tempo, da vida que levava antes - não quando estava desempregada - mas quando podia fazer seu próprio horário e ainda recebia pra isso.
Enquanto ela pensa, sentada à mesa ele está se servindo de café e preocupado com algumas anotações sobre a aula. Não quer olhá-lo nos olhos porque se o fizer vai chorar. E ela não quer que ele tenha razão sobre o que disse antes. Disfarça brincando com um guardanapo entre os dedos para se acalmar. Sabe que a vida não está fácil, mas não vai desistir. Não mesmo. Enquanto aguentar, enquanto conseguir disfarçar seus problemas, seu cansaço, suas carências e limitações, ela vai levando. Até mesmo por que, ela faz isso por ele. Ajudá-lo, vê-lo sorrindo em função de algo que ela proporciana é a maior recompensa. Se não a única. Não estava disposta a perder isso ainda...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Correio do Tempo

No correio do tempo se acumulam
a paixão desolada/ o gozo trêmulo
e lá fica esperando seu destino
a paz involuntária da infância/
há um enigma no correio do tempo
uma aldrava de queixas e candores
um dossiê de angústia/ promissória
com todos os valores declarados

No correio do tempo há alegrias
que ninguém vai exigir/ que ninguém nunca
retirará/ e acabarão murchas
suspirando o sabor da intempérie
e no entanto/ do correio do tempo
sairão logo cartas voadoras
dispostas a fincar-se em algum sonho
onde aguardem os sustos do acaso

Mario Benedetti
- Escritor uruguaio de 80 e poucos anos que me entende e me faz entender...

domingo, 8 de março de 2009

Me deixa...

Você associa cobiça ao meu nome como se me conhecesse. Como se eu quisesse roubar alguém que - por livre e espontânea vontade - é seu. Ele não me interessa. Pelo menos não do jeito que você pensa. Mas você, com o seu ciúme besta e infantil, quer mantê-lo longe de quem julga ser uma ameaça ao seu conto de fadas moderno.
Sim, o amor é lindo. Mas não é o único sentimento que existe. Meu carinho e preocupação sempre foram reais e muito antes de você aparecer. Frutos da minha mais sincera amizade. Existe maldade nisso? Em querer bem? Ou eu sou muito démodé ou sou muito burra e ingênua por acreditar que a amizade - sem máscaras ou segundas intenções - entre um homem e uma mulher pode existir...
Não questiono seus motivos por me querer longe. Não quero nem ao menos entendê-los. Não me dizem respeito. Ou melhor, quando você me xinga gratuitamente e me cria como um monstro ao seu bel-prazer, até dizem. A única conclusão a que chego é que você - apesar de toda esclarecida - é uma baita de uma preconceituosa. Emite opinião e afirma coisas a respeito de uma pessoa que nem conhece e muito menos viu na vida. Tenho é pena do seu modo de agir e pensamento pequeno. Do seu medo infundado. Mas me nego a fazer o mesmo que você. Não pretendo devolver todas as pérolas que você espalhou por aí. O engraçado de tudo isso é que eu realmente não me preocupo com aquilo que você fala ou deixa de falar e pensar ao meu respeito. Da minha essência entendo eu. Não você. Se tem uma coisa que aprendi com esse caso é que se algum dia eu for como você, quero que me deixem. Sem dó, nem peso na consciência. Por que você não sabe amar. Você só sabe prender e tolher a quem você ama. Isso não é amor. Isso é egoísmo. Como se a única coisa que restasse a ele fosse viver em função sua. Como se o mundo se resumisse a vocês 2 apenas. O mais triste de tudo isso é perder um amigo por causa de um amor doente. O mais triste de tudo isso é você enxergar maldade onde não tem. O pior de tudo é você achar que a culpada sou eu quando a maior culpada é você mesma. Não te desejo nenhum mal e nem nunca pronunciei palavras contra você, mas tente aprender algo você também. Dê adeus à sua insegurança e se abra para o mundo. Não prive o seu amor da convivência com a amizade. Você já conseguiu privá-lo da minha, mas permita que ele viva para todas as outras. Assim como o amor, a amizade não se compra e não se impede. Pode-se rejeitá-la, mas na maior parte das vezes ela é conquistada e reconhecida. E vivida...

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Beba!

Tomara que ele não venha hoje. Tomara que ele não venha hoje. Calma. Ela não estava querendo evitar um carinha mala qualquer. O problema não era o cara. Aliás, ele era ótimo. Inteligente, carinhoso e de riso fácil. O problema era que, além de estar numa baladinha que odiava, ela estava com uma cólica terrível. Sabia que não seria a melhor companhia aquela noite. Deixou de beber porque achou que pioraria a dor. Quase não falou, mas sorria ao ouvir as histórias de seus amigos. Foi uma boa ouvinte. Mas, cedo ou tarde, ele chegou. Merda! E apesar de todo o esforço dela para ser simpática e querida, ele percebeu que tinha algo errado...

- O que você tem, hein? Tá meio quieta, distante...
Ela não tinha o porquê mentir. O problema não era ele. Era puramente fisiológico.
- Desculpe, é que eu estou com uma cólica gigantesca. A dor tá insuportável...
- Você está bebendo?
- Não, achei que poderia piorar, sei lá...
- Hum, você devia ter bebido algo...
Ela não soube dizer se ele estava falando sério ou se era brincadeira. Ele insistiu.
- É sério! Não é a melhor solução, mas já que não temos analgésicos... O álcool ajuda a anestesiar a musculatura lisa que é...
- Ah, que ótimo! Eu sofrendo enquanto uma cervejinha ou uma dose cavalar de vodca aliviaria toda a minha dor? Por que você não me disse isso antes?
- Como eu iria saber? Você também não perguntou!
- Ah, tá...

Ele riu e foram os dois em direção ao bar. Ela sorriu de volta ao lembrar que ele era farmacêutico. É claro que ele sabe o que está falando. Não havia razão para não seguir aquela recomendação. Isso aconteceu há 10 anos quando ela era jovenzinha o suficiente, mas foi um belo conselho. Atualmente, eles já não têm mais contato direto, mas ele ficou marcado. Não como o cara que estava tentando embebedá-la para, com sorte, levá-la pra cama. Mas sim como o 'cara que pagou um drinque simplesmente para livrá-la de uma cólica'. Quer atenção maior que essa? Por sorte, ele resolveu aparecer aquela noite...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ritual

Cama de casal só pra mim? Pode ser interessante, ela pensou antes de deitar. Pegou o travesseiro dele e abraçou junto ao corpo. Ainda era possível sentir o cheirinho de maracujá. Fechou os olhos e já sentiu a falta. Dele. Foi se arrastando de leve para o outro lado da cama como se ele estivesse ali para escorá-la. Mas ele não estava. Só voltaria de viagem dali 3 dias. O lençol estava gelado e ela não parava de se arrastar de um lado para o outro. Não conseguia sossegar e achar uma posição confortável. Precisava que seu espaço fosse delimitado. Precisava sentir o calor do corpo dele. O mínimo contato para conseguir dormir. "Só eu mesmo pra te aguentar!", ele costuma dizer. Mas quando o assunto é dormir realmente ela não é fácil. É pior que criança. Às vezes tem pesadelos e acorda assustada. Sofre de insônia quando está estressada ou ansiosa. Geralmente é vencida pelo próprio cansaço ou pela sessão vigorosa de sexo de quase todo dia...
O que diabos eu vou fazer pra dormir? Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. Ficou tão aflita que acabou batendo o dedinho do pé na quina da cama. A dor e a raiva foram tantas que ela não conseguiu nem gritar. Lágrimas escorriam sem parar e ela jogou-se, diagonalmente, na cama. Olhou para o teto e esperou. Sabia que só iria apagar vencida pelo cansaço... Na noite seguinte, encostou a cama contra a parede. Deitou-se bem junto a ela e com o travesseiro dele entre os braços. A parede era gelada e dura demais. Colocou algumas almofadas para amenizar, mas foi inútil. Olhou novamente para o teto pensando em como aquilo era absurdo. Passei mais de 20 anos da minha vida dormindo e acordando sozinha todo santo dia... E agora, não consigo mais?
Na última noite forrou o meio da cama com almofadas e travesseiros extras. Quase teve um sono agradável. De tanto se mexer acabou deitando por cima de todo aquele monte e acordou toda desconjuntada. Ela tentou, mas já não sabia mais dormir sem ele. Sem um abraço ou dedos alisando as suas costas. Ou aquela mão pesada em sua barriga. Ou sem a briga desigual pelas cobertas quando está frio. Ou por quererem distância um do outro quando está calor. Por se aproximarem sobremaneira quando estão os dois com calor e excitados. A mesma aproximação acontece no frio. Cutucá-lo no meio da noite para que não ronque é quase um ritual. Assim como a respiração quente dele em sua nuca ou ouvido. Ou como ele canta para ela dormir. Ou inventa histórias para que ela não consiga lembrar no dia seguinte...
Essa noite ele vai voltar. Ela preparou um chá e sentou-se no sofá para esperá-lo. Seus olhos pesavam e suas olheiras refletiam o resultado de 3 noites mal dormidas. Ele chegou e olhou para ela assustado. Ela sabia que estava parecendo um zumbi, mas ele tinha noção do porquê. Não era preciso perguntar. Foi até ele, puxou-o pelo braço e fez com que ele se deitasse com ela na cama. De conchinha. Antes de fechar os olhos disse:
- A próxima vez eu vou junto com você. Ou você não viaja. Ou ao menos, me dê um cachorro que possa dormir ao meu lado. Ou aos meus pés. Considere alguma dessas hipóteses. Ou pense em outras. Mas, por favor... Me ajude a dormir...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Almost there!

Hoje o dia foi estranho, mas o estranho - às vezes - até que cai bem. Acordei às 7h para o meu teacher training às 9h. Tenho acordado sem a ajuda do despertador em função da minha ansiedade e medo de perder a hora. Ter responsabilidade funciona que é uma beleza nesse caso. Passo 3 horas observando os outros teachers, gritando e gesticulando feito um bando de condenados. Não tem como escapar. Tem que dar a carinha pra bater. Palhaçada pura. E o mais legal: em outra língua. Mais dinamismo, pessoal. Mais rápido, mais alto. Vocês são os regentes! E funciona assim: Eu falo, você repete. Eu falo, você repete. Eu falo, você repete. Falar e repetir insistentemente por 1 hora. É bem fácil... Cheguei em casa exausta só de imaginar que estou - momentaneamente - disposta a 'gastar' 8 horas ou mais do meu dia assim. Mas por enquanto, vamos apenas focar no treinamento.
Depois do meio dia, o sono habitual vem com toda força, mas dormir no meio da tarde está fora de questão. Além do mais eu não sei cochilar 15 minutinhos. Eu só sei dormir algumas horinhas. E isso compromete a qualidade e o grau da minha insônia mais tarde. Já a partir das 14h me vejo obrigada a tomar copos e mais copos de café para me manter acordada. Bendito café, mas a azia é totalmente dispensável. De qualquer forma sobrevivi: escrevi e pensei besteiras, conversei um pouco, ouvi músicas, li alguns blogs com verdadeiras pérolas do orkut (juro que não sei se dou risada ou se choro com tanta cretinice junta). Tomei banho e fiquei cheirosinha para eu, eu mesma e eu... De novo.
Hoje não é dia de sair? É sim, mas você não tem dinheiro. Então sossega o facho! A única alternativa é tomar a cervejinha em casa mesmo. O macarrão que eu fiz virou papa e só eu vou comer. Lógico. Sem molho porque não tem. Será que dá pra enganar com catchup e muito queijo ralado? Ai que delícia: adoro dormir com fome. Aí vou lembrar que amanhã já é carnaval e as pessoas vão aproveitar a 'folia'. Ah, fuck it! Não sejamos tão ingênuos, as pessoas vão aproveitar o início da putaria. 5 dias assim até tudo voltar ao normal. E pensar que a única coisa (mentira, mas finge que acredita, tá) que eu queria era ir pra praia e poder deixar meus passinhos na areia, pegar um solzinho e congelar o meu corpinho no azul do mar... Me sentindo linda, leve e solta porque afinal de contas a vida só começa depois do carnaval...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Pensamento de uma vida

É engraçado pensar nas recordações que as pessoas costumam carregar relacionadas à infância. Eu, por exemplo, lembro de ter 8 anos e ficar com medo de não ter alguém em quem eu pudesse me apoiar (não emocionalmente e todos os 'entes' possíveis). Lógico que eu nem sabia o que era isso. O apoiar é no sentido de estar junto. Ou seja, naquela época eu devia estar mais preocupada em ter alguém para simplesmente brincar comigo. E só comigo, se fosse a nossa vontade (pois as crianças também podem ser más e cortar as outras das brincadeiras). Na minha cabeça meio precoce - eu imagino - as coisas funcionavam bem assim: o papai tinha a mamãe. O meu irmão mais velho tinha o irmão mais novo. Na sequência, eu. E depois de mim, vieram as gêmeas. Ou seja, quem ficou sem par na brincadeira da minha família fui eu. Até os cachorros tinham um ao outro. Mas eu, com 8 anos de idade não tinha ninguém. Acho que esse medo permaneceu comigo mesmo que em estado latente e eu acabei me isolando em várias situações ao longo da vida. O pai e a mãe continuam juntos. Os irmãos casaram. Cada um tem sua esposa. E o casal de sobrinhos (tem um ao outro, vejam só). E as irmãs continuam solteiras, mas elas têm uma à outra. E eu? Já quando criança não tinha par. E agora, depois de velha, continuo sem par. Não quero morrer sozinha e desamparada. Será que a nóia de criança cresceu e virou uma puta nóia de adulto? Só pode e eu continuo com medo. Talvez por isso o meu desejo de ser mãe seja enorme. Pelo menos teria alguém pra mim... Faz sentido?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Quando...

Amanhã completo 77 anos. Há 1 ano fiquei viúvo. Só Deus sabe o quanto eu sinto falta da minha polaca. Não sei como ainda não perdi a noção do tempo, pois os dias depois de uma certa idade parecem todos iguais. Não existe mais novidade, não tenho mais ao meu lado a pessoa que fazia a diferença. Rezo todos os dias para o fim dos meus dias. Já vivi o suficiente, já vi muita coisa, ainda guardo na memória os momentos e pessoas que fizeram a nossa vida valer a pena. Claro que muita coisa já se perdeu aqui dentro, mas a idade e o passar dos anos também passam a ser cruéis com as melhores lembranças...
Há 2 meses saí do apartamentinho onde morei nos últimos 50 anos. Vou passar o resto dos meus dias sendo cuidado por minhas 3 filhas. Todas casadas e com filhos. A cada 6 meses, vou para a casa de uma delas. Vida nômade depois de velho. Pode ser interessante. É o que eu digo para me conformar já que elas não me deixariam sozinho. Hoje entreguei - modo de dizer, pois a decisão partiu das minhas filhas - o meu antigo apartamento a um jovem casal. O apartamento já estava vazio, sem os móveis e objetos de outros tempos. Não se parece mais com o aconchego daquele que foi o meu lar. É estranho... Como se fosse um lugar que eu não deveria lembrar ou que não fizesse parte da minha história pessoal, mas que ainda assim permanece na memória.
Enquanto a minha hora não vem sigo trabalhando. Não com a mesma intensidade e disposição de antes, mas pelo menos assim me sinto útil. Hoje sou empacotador num supermercado da região. Tenho colegas com a mesma idade. Somos poucos, mas ao menos o nosso medo é compartilhado. O mundo hoje é muito rápido e incerto. É assustador e é exatamente por isso que eu preciso me ocupar. O trabalho é mecânico e não ajuda muito a desanuviar, mas quando os clientes pedem ajuda ou informação eu preciso raciocinar rápido. Tão rápido que, às vezes, eu me perco em minhas idéias. Olho para os clientes e eles devem pensar "que tolice perguntar algo a um velho esclerosado". Ah, mas eu nem ligo... Minha filha mais nova reclama. Diz que eu não deveria e nem precisava me sujeitar ao trabalho depois de tanto tempo. Agora estou com ela e meus 3 netos mais novos. Nos meus momentos de folga (trabalho 3X por semana) gosto de remanejar o jardim dela. Tem flores lindas. Dou um auxílio ao jardineiro já que podar está fora de cogitação. Meus dedos não aguentam. Meus netos vivem brincando por ali. Acabam destruindo as flores mesmo que sem querer. Também gosto de observá-los. Na rua, em casa, no jardim, na frente daquela máquina que só mostra barbaridade. Videogame? Computador? Já não sei qual é o mais atual...
O diálogo com as filhas já é difícil. Com os netos é pior ainda. Muitas gírias e termos que não existiam na minha época. Parece uma outra língua... É muita mudança e modernidade pra minha cabeça secular, mas são garotos felizes e privilegiados. O mais velho gosta (aposto que a mãe dele o obriga) de caminhar comigo. Minha filha está certa em preocupar-se, mas ao mesmo tempo, o que poderiam querer roubar de um velhote como eu? Tanta coisa que eu já não entendo... Tenho quase 77 anos e agora espero minha hora chegar. Já não tenho medo. Fui muito feliz, aproveitei o que me foi permitido. A morte que não me erre a porta (não sei onde estarei quando ela chegar). Sei que a polaca já está a minha espera.
Vivo e caminho firme como se a cada esquina eu pudesse dar de cara com a morte. Seria um belo encontro e ela não me pegaria totalmente desprevinido. Se bem que preferia morrer dormindo... Já acordaria no paraíso ao lado da minha polaca.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Cuido sim...

Seu psicólogo me ligou ontem querendo conversar. Quase tive um infarto ao imaginar que alguma coisa pudesse ter te acontecido, mas ele disse que você está bem. Hoje fui lá e ele me entregou uma carta. Pelo que entendi era um exercício e ele pediu que você a escrevesse justamente com a intenção de me entregar. Não quis ler na frente dele. Enquanto caminhava rumo ao escritório tentava adivinhar o conteúdo daquele envelope. A curiosidade era enorme, mas o medo ainda era maior... Estou no meu cubículo e acabei de lê-la. Não queria responder agora, no calor do momento, mas ao mesmo tempo não quero deixar os pensamentos e as respostas irem embora ou perderem força. Sempre senti um puta orgulho de você e das coisas que você escreve. Você sempre foi tão boa com as palavras, mas estas - carregando suas dúvidas e medos - só ajudaram a me estraçalhar ainda mais por dentro.
Minha vontade agora era a de estar bem aí do seu lado compartilhando da sua dor e vivendo a nossa vida. Mas isso só faria com que o seu sofrimento, suas incertezas e medos aumentassem. Eu estaria de corpo presente, mas minha cabeça continuaria presa no labirinto em que eu mesmo criei e me perdi. Sozinho... E você continuaria se sentindo culpada quando na verdade você é a vítima. Falhei miseravelmente quando você mais precisou e ainda precisa, mas te olhar virou um suplício. Porra, eu já me sentia tão culpado pelo acidente, pelo motivo besta com o qual te questionei, por não ter entendido o seu afastamento, pela sua dependência de mim. A cada cirurgia sua fui perdendo a fé no homem que eu acreditava ser... Sinto uma dor excruciante por ter sido o responsável por toda essa merdarada que está acontecendo com você. Eu é que deveria estar sendo remendado, costurado e o caralho a quatro. Não você! A minha vergonha era e ainda é tanta que eu não aguentei mais olhar nos seus olhos - sempre tão compreensivos - e dar de cara com o homem de merda que eu me tornei. Não que você me veja dessa forma, mas foi como eu passei a me enxergar. Justamente nos olhos da minha mulher...
Não sei o porquê saí de casa. Covardia? Culpa? Me senti tão pequeno. Não vi outra saída e ao tentar facilitar as coisas dificultei ainda mais. Não pensei que você fosse se sentir assim tão abandonada e descrente. Imaginei, estupidamente, que o afastamento fosse nos beneficiar de alguma forma. Mas é lógico que iria voltar. Errei ao decidir isso sozinho, errei ao pensar que você não poderia me ajudar. Errei porque deixei de me comunicar com você quando a conversa poderia ter facilitado todos os nossos tormentos...
Sinto tanto a sua falta... Queria poder deitar no seu colo e esquecer de mim e de tudo enquanto você mexe no meu cabelo. Ouvir e fingir que entendo suas neuras e rir por dentro em função delas. Gosto de te ver cantar fora do ritmo e desafinada quando está feliz. Te ajudar - ficando acordado - em suas crises de insônia. Fazer compras no supermercado enquanto você coloca 1, 2, 3 barras de chocolates, 1 ou 2 pacotes de balas no carrinho imaginando que eu não perceba. Sentir aquele friozinho na barriga ao olhar para sua cara emburrada e ter a certeza de que eu fiz alguma cagada. Observar você fazendo palavras cruzadas antes de apagar a luz pra tentar dormir. Ou da sua concentração sobrenatural quando está lendo um livro ou filme que goste muito. Decora falas, repete-as pra mim. Sinto falta das suas demonstrações de carinho gratuitas depois de um dia infernal de trabalho. Da forma como prepara o meu banho, da forma como cuida de mim. Dos seus beijos na minha testa, no meu queixo, nas bochechas e orelhas... Aliás, sinto falta de você inteira. Do seu calor, das suas mãos delicadas, do seu corpo que me enlouquece. Te amo tanto... Mesmo que nem sempre consiga demonstrar... É claro que eu vou cuidar de você, amor. Mas antes preciso voltar a acreditar em mim. Me ajuda?
Eu voltei. Estou aqui na sua frente, de joelhos, enquanto você lê essa minha resposta e chora compulsivamente... Quero te abraçar, te beijar e conversar sobre a gente. Meu medo, meu único medo é perder aquilo que eu tenho de melhor e que é justamente você... Me perdoa? Quero me sentir completo novamente, mas isso é impossível sem estar ao seu lado...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cuida bem de mim?

Ainda não acredito que você levou embora o laptop (que também é meu). Agora eu preciso escrever minhas matérias, textos, lembranças e o escambau a quatro tudo a mão! O pior tem sido recordar. O choro vem rapidinho e eu desisto das lembranças. Às vezes parece melhor esquecer, mas o psicólogo disse que me ajudaria. Não só a minha recuperação, mas também a entender o que acontece com a gente. Em função do acidente eu acabei quebrando as pernas e você saiu ileso. Não consigo nem lembrar o maldito porquê daquela discussão. Foi apenas um desvio de olhar e pronto. Hoje já faz uma semana desde a minha última cirurgia. Uma semana que eu estou deitada na nossa cama sem poder levantar pra quase nada. A Valéria às vezes me coloca na janela. " É bom pegar um solzinho. Vai levantar o astral da senhora". Engraçado como ela tem razão. O movimento na rua é incessante. O mundo acontece lá fora e eu esqueço de mim. Tenho tanto a observar...
A Valéria tem sido um anjo na minha vida. Tem me trazido muitos filmes da locadora. Assisti a todos os lançamentos. Revi boa parte das minhas séries preferidas. Já me sinto tão alienada que até às novelas eu me rendi. Justo eu que odeio televisão. Não parece, mas o acidente já tem 2 meses e meio e você saiu de casa a apenas um. Não me aguentou. A minha maldita crise da meia idade também veio em péssima hora. Justo agora que eu estava totalmente dependente de você. Pra tudo. Até tomar banho. Nunca tinha me sentido assim: tão inútil. Tô com tanta raiva de mim e de tudo que o processo de recuperação deve demorar mais ainda em função daquilo que está preso e me corroendo por dentro. É muita mágoa... Estou tentando - com o que resta das minhas forças - não enlouquecer. Mas não sei até quando eu vou aguentar. Faz 5 dias que você já não aparece aqui. Deve estar precisando de roupas já que não levou quase nada. Seus projetos e papéis continuam em cima da mesa no escritório. Pedi pra Valéria não mexer em nada. Minha mãe tem vindo aqui ajudar dia sim, dia não. Não sei quem dá mais trabalho: se é ela ou eu. Sua mãe também tem ligado. Quer saber de você, mas eu não tenho idéia do que responder. Ela não sabe que você está na sua irmã? De qualquer forma, você não me ligou mais... Não procura saber como eu estou... Me sinto abandonada à própria sorte. Ou azar.
Não sei se é a fase que a gente está. Não sei o porquê tudo desandou. Da minha chatice você já estava vacinado há tempos. Monotonia? Desgaste natural da relação? Isso é tudo muito modernoso pra mim. Não entendo e a minha cabeça deu um nó. Nada faz sentido e eu me sinto uma idiota por ser a única a insistir na gente... Não queria brigar, nem gritar, nem xingar você... Sinto falta da sua paciência. Queria um pouco dela pra mim. Queria seus cuidados... A sua companhia... E agora preciso escrever pra que você saiba aquilo que eu penso ou quero. Na verdade esse desabafo nem é pra você. Sabe-se lá o que o Dr. César vai dizer de tudo isso...
Eu só queria conversar com você, rir, beber, ouvir seus problemas, compartilhar os meus. Discutir nossos planos, os seus, os meus... Como era antigamente... Cuida bem de mim? foi o que te perguntei quando a gente entrou aqui pela primeira vez: no auge da nossa vidinha de recém-casados... Não tinha sido uma simples pergunta. Tinha sido um pedido sincero. Pedido esse que você não soube atender...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Como se fosse a última vez...

Ele finalmente foi promovido. Além disso, vai poder escolher o país que pretende desbravar e continuar o seu trabalho. Tem como opções a Polônia, os Estados Unidos, o Peru e até os Emirados Árabes... Mas não é com o local que ele está preocupado agora. É com ela. Ela passou meses desempregada e justo agora que estava trabalhando em algo que gostava, ele ia estragar tudo. Pra ela. Ou para os dois. Não tem como não dar merda, ele pensava. Deitado no sofá e bebendo até neutralizar suas dúvidas, ele a esperava.
Ela vai entender. É compreensiva como ninguém. Sempre me apoiou. Ela vai largar tudo pra ir comigo. Eu sei que vai! Entre um gole e outro, a certeza de segundos atrás, descia amarga goela abaixo. Puta que pariu! Ela não vai entender. Vai dizer que estou sendo egoísta e que só penso em mim. Vai querer ficar aqui, trabalhar nas exposições e ela ainda pode crescer tanto! Nosso canto já está quase com a nossa cara. Ela não vai querer trocar o certo pelo duvidoso! É tão cagona quanto eu...
A promoção veio antes da hora. Só Deus sabe o quanto ele veio se esforçando pra isso ao longo dos últimos 2 anos. Agora ele tem a oportunidade de assumir um cargo de chefia em alguma das filiais espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Passaria 3 anos longe de casa... Não parece, mas é muito tempo. Ela não precisaria ir já, poderia se acostumar com a idéia antes. E depois, não deve ser tão complicado ela encontrar algum trabalho. Dependente minha eu sei que ela não vai querer ficar. É orgulhosa demais pra isso...
Quanto mais pensava, mais deprimido ficava. Nenhuma saída parecia fácil. Essa porra de vodka nem pra me apagar ou me ajudar! Já não queria que ela chegasse logo. Não sem antes ter noção do que dizer, de como dizer e do que fazer. Longe um do outro não teria razão de ser e continuar. Não seria justo pra mim, muito menos pra ela... E eu trabalhei tanto pra isso. Não posso simplesmente fechar os olhos para a chance de uma vida. Mas como deixar a mulher que amo pra trás? Continuava deitado, pensando, quando ouviu o barulho da chave na fechadura. Ela mal abriu a porta, viu ele deitado e já entrou toda animada com aquele sorriso certeiro no rosto...
- Bb, você não vai acreditar no que a cliente número 1 me disse hoje...
Ele a interrompe.
- Não, pequena. Quem não vai acreditar no que aconteceu hoje é você...
Ela olhou pra ele assustada. Sabe que aqueles olhos lindos que ele tem não sabem esconder nada. O medo dele se instalou de vez enquanto ele a abraçava forte. Como se fosse a última vez. Lágrimas começaram a escorrer sem parar e ele já soluçava que nem criança pequena. Não imaginava que todo sonho a ser concretizado carregaria um pedacinho - minúsculo ou gigante - do inferno junto...

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Desejo insano

Era uma sexta-feira a noite e eles não quiseram sair. A semana já tinha sido regada a jantares com amigos, happy hours e eles estavam quebrados. Assistiam a um filme de aventura onde o mapa da mina deve estar localizado no inferno, ela pensava. Já não aguentava mais tanta cretinice. Virou para ele e disse:

- Amor, preciso de chocolate...
- Agora não é hora, pequena! Vai perder a melhor parte!
- Melhor parte do que, meu Deus?

Ele não respondeu. Olhava fixadamente a TV como se aquele fosse o melhor filme do mundo. Ela esperou 2 minutos e saiu batendo o pé em direção a cozinha. Nem precisou acender a luz. Abriu a geladeira e seus olhos brilharam ao olhar o conteúdo da gaveta de verduras (que de verduras não tinha nada). A gaveta era forrada por barras de chocolates, bombons, caramelos, balas 7 belos, balas de iogurte, mentos de todas as cores e sabores, chicletes e todas aquelas guloseimas que toda criança adora. Ela diz que a gaveta existe para os sobrinhos. É bom estar prevenida, caso eles apareçam. De joelhos no chão, revirava a gaveta em busca do "melhor chocolate para aquele momento". Abriu um pacotinho de M&M's azul, olhou a validade e a 'composição' dos mesmos e jurou a si mesma que: assim que o estoque acabasse a gaveta voltaria a abrigar todas aquelas verdurinhas verdinhas, laranjinhas, amarelinhas, roxinhas e vermelhinhas que ela nem sabia os nomes direito. Sua promessa foi interrompida pelo clarão da luz da cozinha. Ele apareceu indignado.

- O que diabos você está fazendo?
- Comendo chocolate, oras. Eu disse que precisava...
- Amor, são quase 2 da manhã! Tem idéia de onde esse chocolate todo vai parar?

Ela levantou mais indignada que ele e com a boca cheia de M&M's respondeu:
- Sei, sim senhor! Vai parar tudo bem aqui na minha bunda! Exatamente onde eu quero e preciso, ó! E apertou-a com força e sem dó.
Ele ficou mudo diante da resposta inesperada. Ela voltou a ficar de joelhos e pegou o saquinho de M&M's que estava comendo quando ele a interrompeu. Ele aproximou-se a ajoelhou-se ao lado dela.

- Posso comer um?
- Não, não pode! Tem idéia de onde vai parar? Nhé, nhé, nhé!
- Desculpe. Eu sei que você é tarada por açúcar e é isso que te acalma algumas vezes. Enquanto você continuar esse palito, tudo bem. Coma todos os chocolates do mundo. Não vou mais reclamar...
- Mesmo? E se eu virar uma baleia assassina? Você ainda vai me amar?
- Não sei, mas antes que isso aconteça, a gente vai caprichando nos exercícios...
- Exercícios? De que tipo?
- Do tipo que os adultos fazem e você bem que está precisando... Além do mais, aquele filme é uma merda e eu prefiro gastar todo o meu tempinho com você...

Ele fechou a gaveta. Levantou-a pela mão e fechou a geladeira.
- Precisa de mais alguma coisa, madame?
- Um copo d'água... Pode?
- Pode sim...

Enquanto ele a puxava rumo ao quarto, o restante dos M&M's ia derretendo em sua boca. Sorria sozinha e de puro prazer. E pensar que agora viriam os exercícios...

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cadê você?

Você me disse para escrever minhas idéias e sentimentos numa folha de papel, pois fluem melhor. Talvez você tenha razão. Apesar da pressa e do garrancho - ao qual tenho a coragem de chamar de letra - os sentimentos tornam-se claros como o verde dos seus olhos. "Aí vai a sua porção de piadinhas diárias como parte do tratamento, baixinha". Não tem depressão que resista ao seu esforço. Mesmo a vontade sendo a de chorar você conseguia me arrancar gargalhadas com as tirinhas infames do Dr. Pepper. Sempre me largava uma mensagem no msn com pensamentos positivos e querendo saber como eu estava. Mesmo longe, sua preocupação para comigo sempre foi real e sincera. Desde lá trás. Já não conseguimos falar com a frequência de antes, mas fazemos questão de lembrar ao outro a nossa existência. Continuo sempre aqui, polaco. Quando puder e tiver tempo, me chame... Quando finalmente conseguimos nos cruzar na nossa correria - mais sua do que minha - não perdemos tempo com nossas lamentações ou frustrações profissionais. Nem parece que o tempo passou, nem parece que ficamos meses sem trocar palavras. "Você é péssima pra se esconder, invocadinha. Sei exatamente quando está aí". Rimos das nossas besteiras, das piadas, da nossa vida, das nossas desgraças, mas sempre crentes de que tudo pode piorar. E é exatamente por isso que até estamos bem, eu diria.
Hoje passei boa parte do dia pensando e conversando com você. Escrevendo, lendo seus textos e rindo das nossas barbaridades. Gosto de você porque você me aceita e me respeita como sou: uma baixinha maluca e invocadinnha. Nunca precisei te passar uma imagem que não fosse verdadeiramente a minha. Você fez o mesmo comigo. Sabemos dos nossos defeitos, assim como nossas qualidades. Nos respeitamos e nos admiramos por aquilo que somos: amigos, autênticos e reais.
Quando disse para escrever minhas idéias e sentimentos no papel, pois tudo flui melhor, você acertou. Escrevi esse texto em menos de 15 minutos, tamanha a minha amizade e admiração para com você, general.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Plural

Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Não consigo pensar em nada que tenha superado o atual momento. Assim que abri o resultado do exame e me vi grávida* chorei de tanta emoção. O sonho - o maior de todos - estava crescendo bem ali dentro de mim. Depois do choque, da euforia inicial, do susto e de todas as sensações conflitantes dignas de uma gravidez não planejada, pensei em você. E me deu medo. Muito medo.
Medo porque a nossa relação é conturbada. Depois de inúmeras idas e vindas finalmente estamos vivendo um momento de paz. Paz que custou a reinar. Às vezes é difícil entender como as nossas diferenças podem ser nossas mais fortes aliadas para que permaneçamos juntos. O que nos derruba é justamente aquilo que somos e queremos de comum acordo. Como se o fato de não estarmos morando no loft dos nossos sonhos fosse somente minha culpa (por não ter grana para pagar o aluguel). Ou como se o fato da gente não conseguir fazer aquela viagem de 1 mês pela Europa fosse somente culpa sua (por nunca ter tempo disponível). É fácil jogar nossas frustrações ou nossos medos em cima um do outro. Aí a raiva aparece mostrando a sua cara, a indiferença aparece mostrando a minha. Acabamos nos separando mais uma vez porque é o caminho mais fácil e cômodo. Só que não conseguimos ficar longe por muito tempo. Não sei se o que vivemos é realmente amor ou se é dependência pura. Mas sempre voltamos ao nosso pequeno ciclo vicioso de amor, paixão avassaladora e uma pitadinha de ódio que, dependendo dos casos, até faz bem.
O bebê não fazia parte dos planos ainda, mas a gente já discutiu a respeito. Você sabia que era algo que eu queria muito e estava disposto a ter um comigo. Um dia. Também sei que você tem um certo receio, pois não se sente preparado pra ser pai. Sempre disse que não saberia lidar com crianças e que elas dariam um trabalho sobrenatural. Fora os gastos absurdos ou que elas acabariam com a nossa vidinha social pra lá de agitada. O medo que todo pai ou mãe de 1a viagem sente...
Não sei qual será a sua reação. Não espero que, finalmente, me peça em casamento em função da gravidez. Você sabe que não acredito nisso. Filho nenhum segura casamento. Ainda mais nos dias de hoje. A gente só casa se achar que deve. Pelo nosso bem. Não sei se você teria coragem de pedir pra eu tirar. Sabe muito bem que eu nunca o faria. Se essa for a sua melhor solução, te largo. Sem dó. Dele eu não abro mão. Mas, depois de muito pensar que você acabaria nos deixando na rua da amargura, resolvi confiar nas diferenças. Aquelas que sempre nos salvaram. Aquelas que sempre nos uniram. Eu sempre quis ser mãe. Você nunca se imaginou pai. Pode dar certo! Vou ser e permanecer confiante como o nosso atual momento merece. Espero que você me aceite como a mãe do seu filho. Ou será filha?


*Aviso aos navegantes: Eu, Letícia, não estou grávida realmente. Tive um sonho e resolvi escrever sobre algo que poderia ser, mas ainda não é. De qualquer forma o sentimento seria exatamente esse ou quem sabe até maior!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Garotos

Estamos conversando cara a cara e eu sei dizer que a sua vontade é a de me beijar. É algo evidente em seus olhos e seus gestos demonstram certo nervosismo. Seu sorriso é contido. Você fala coisas sem sentido e que não me interessam, pois está com medo do silêncio. Aquele que abre espaço ao beijo. Sei que é a sua vontade, mas você não vai me beijar. Não vou dizer que te falta coragem, acredito que seja uma questão de respeito. São quase 10 anos de diferença. A única explicação plausível é a de que eu sou uma mulher e você é um garoto. Poderia facilitar a sua vida e eu mesma partir para o ataque. Por que não? Sou uma mulher de atitude que nunca negou suas vontades e você é maior de idade. Poderia facilitar, mas não vou.
Enquanto você fala, penso nos outros 2 garotos que cruzaram o meu caminho recentemente. Nunca tive algo contra (mentira, pois tive um trauma enorme na adolescência), nem a favor de relacionamentos com diferença enorme de idade. Mas, depois de muita conversa e 15 anos após o maldito trauma, acabei cedendo a minha própria curiosidade. O primeiro era garoto, mas tinha cara e atitude de homem. Era novo, mas sabia muito bem o que queria. Cheio de convicções e não fazia promessas despropositadas. Ele sabia que eu não cairia em qualquer ladainha porque àquela altura eu era uma das pessoas mais desconfiadas da face da Terra. E no entanto, com ele me senti mulher de verdade. Ele até me ajudou em uma ou outra crise existencial. E ele nem tinha idade para saber o que era isso! É alguém incomparável e dele eu tenho saudade. O segundo tinha cara de menino, mas não sabia exatamente em que estágio estava: se ainda era o garoto pegador e que tentava impressionar os amigos ou se era homem o suficiente para prestar atenção e dedicar-se a impressionar uma única garota. Gosto de mulheres mais velhas, ele dizia. Claro que gosta. Elas são diretas, desafiadoras e de tapadas não têm nada. Ou quase nada. É lógico que você gosta, vai ganhando experiência, né espertinho. A lábia dele era forte. Algumas atitudes também. Mas este, estava mais preocupado na quantidade do que na qualidade. Pega e come quem você quiser, novinhas ou velhas, mas já pode me deixar em paz, viu? Eu 'si cansei' dessa conversinha mole. Não tenho mais saquinho.
Não tenho como dizer em que lado da moeda você cairia. Mas também não pretendo pagar pra ver. Pelo menos você tem noção de que qualquer idiotice que você faça, por menor que seja, pode te comprometer. Maturidade não tem nada a ver com a idade. É uma questão de vivência. Muitos homens com seus 30, 40 anos têm mentalidade adolescente. E não tem nada mais frustrante ou broxante que isso: a falta de maturidade em quem, teoricamente, deveria ter...
Poderia beijá-lo. Facilitar a minha vida ou a sua. Mas não vou. Cedo ou tarde você vai ter que lidar com suas próprias in(decisões). E eu é que não pretendo apressar ou interromper suas escolhas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

É assim que é...

Ainda estou acordada e lutando com todas as minhas forças para me manter assim. Sentada na poltrona junto à cama, observo você dormir. Agora só me resta guardar na memória aquilo que minhas mãos, lábios, pernas e nariz sentiram em contato direto com o seu corpo. Tento capturar como uma máquina fotográfica cada detalhe minúsculo e que por ventura tenha passado despercebido tamanho o nosso desejo e afobação de horas atrás. Difícil tentar determinar a reação que você causou para cada um dos meus sentidos. Com minhas mãos percorri seu corpo inteiro entre toques suaves e vigorosos. Era essencial, como se me provassem que você realmente estava ali. Sua pele tão macia e branca feito leite contrastava com a minha que é morena. Reparei nas pequenas sardas dos seus ombros e que arranhei de leve como se pudesse apagá-las dali. Seu cheirinho de pêra me fez querer te lamber, morder e chupar feito fruta madura. O tempo todo. Meus lábios molhados percorreram cada pedacinho do seu corpo sem secarem uma única vez. Descobri que aquela sua marquinha abaixo do umbigo é irresistível. Minhas pernas, apesar da diferença de altura, procuravam o encaixe perfeito entre as suas. Você buscava me ler tanto quanto eu. Sua barba cerrada e me arranhando inteira de cima abaixo me levou à loucura. Seus beijos se alternavam tanto que eu já não conseguia corresponder à minha própria urgência de você. Seu hálito de cigarro, disfarçado pelas balas de menta, refrescavam a minha boca quente e sedenta. Seus dedos compridos e delicados sabiam exatamente onde eu queria e precisava ser tocada. Seus olhos me diziam todas as coisas que sua boca não conseguia e nem podia dizer na hora...Você apareceu do nada na porta da minha casa. Mal entrou e já foi me agarrando, arrancando minhas roupas com violência enquanto me beijava furiosamente e me apertava contra a parede, contra você. Cedi na hora. Formalidade pra quê? Já esperamos tempo demais... Só queria saber e sentir o seu corpo colado e transpirando junto ao meu e em perfeita sintonia. Até o fim. Foi uma briga de igual pra igual onde os dois sairam vitoriosos, mesmo que o atual cansaço mostre o contrário. Agora, estou aqui sentada e bebendo uma cerveja pra me acalmar. Não sei quando irei vê-lo novamente e eu preciso guardar esse momento com a maior riqueza de detalhes possível. Não posso e nem quero dormir. Quero estar acordada quando você for embora...Velando o seu sono tenho a certeza de que poderia ser mais do que isso. Respiraria, transpiraria, me alimentaria de você todos os dias, todas as horas, por tempo indeterminado... Mas eu só tive uma noite pra isso, pois amanhã você já está indo embora e não sei quando e se pretende voltar...

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um sonho que se sonha junto...

Faz alguns anos que não nos vemos e temos falado muito pouco. Você mudou de mala e cuia para a França e pelo que me consta, não parece querer voltar. Sua vida de escritor renomado tem tomado muito do seu tempo. No entanto, não posso deixar de te contar a novidade. Saiba que ao menos um de nossos sonhos saiu do papel. A nossa livraria está de pé e é exatamente do jeito que imaginamos um dia. Foi difícil no começo, pois a idéia sempre foi que a construíssemos e mantivéssemos juntos, mas já não tinha certeza da sua real vontade. Nosso mundinho está localizado em uma estrutura toda de tijolinhos. O espaço é lindo e não tão pequeno como o previsto. Consegui implantar as minhas idéias, sem esquecer-me das suas. Nada de abrir filial de alguma grande rede, nada de modernidades e distanciamentos para livros que vêm se mantendo ao longo de séculos. Estantes de madeiras, livros acessíveis e variados, atendentes solícitos. O tempo todo. É um cantinho perfeito. Não sei como descrever, mas imagine aquela sala de estar abarrotada de livros, almofadas coloridas para se ler deitado e algumas poltronas. As bancadas centrais respirando História, as paredes com quadros cheios de versos ou pinturas. Já não consigo mais ficar longe. Respiro, transpiro e me alimento de todo aquele saber 'semi embutido' nas estantes que são da cor de chantily. Temos uma programação cultural diferenciada. Principalmente para os idosos. Adoram os saraus e eu tenho me esforçado na minha péssima oratória. O que importa é que eles sentem-se em casa aqui. Acho que o que mais atrai nosso público é o fato de nossos exemplares poderem ser lidos sem a obrigação da compra. Se gostar, leva! Se não gostar devolve e muda o foco! Uma hora acha. A meta principal nunca foi a de lucrar horrores em função dos livros, mas fazer com que as pessoas criassem hábitos de leitura e viajassem a universos antes desconhecidos. Como a gente fez e ainda faz. É por isso que damos atenção especial às crianças. Se você apenas soubesse o papel de palhaça que eu faço nas oficinas ou encenações, ficaria horrorizado. Ou admirado, não sei. Parece bobo, mas na maior parte das vezes fico imaginando como seria ter você aqui. Sei que se ocuparia absurdamente nas estantes e bancadas dos clássicos, os seus preferidos. Poderia passar horas ali espanando e colocando os livros em ordem; lendo as orelhas de edições novas ou de exemplares que ainda nem chegou a devorar... Ao olhar para o lado me encontraria fácil nas estantes dos romances e escritores latino-americanos, os meus preferidos. Escolheríamos livros ainda não lidos, para no fim do expediente, nos encontrarmos nas mesinhas de café (sim, temos uma cafeteria minúscula, mas que faz toda a diferença). Comentaríamos sobre o nosso dia; discutiríamos formas de manter a 'casa' em ordem e as novidades das editoras. Você até poderia ter suas tardes e noites de autógrafos bem aqui. No seu lugar... É engraçado, mas hoje vejo que não tenho apenas o melhor trabalho do mundo. Eu simplesmente vivo esse mundo. Nunca havia me sentido tão realizada como agora... Saiba que quando vier e se vier, as portas - com a sineta anunciando - estarão abertas para você e o pão de queijo estará quentinho. Nossa livraria, como você mesmo previu, fica ali mesmo: just around the corner...
Um beijo com sintomas de saudade,
Srta.