domingo, 30 de novembro de 2008

Garrafa ao mar...

Não achei que fosse uma pessoa de juntar tralha, mas fuçando e limpando minhas gavetas, me assustei. Encontrei textos, trabalhos e provas da época da faculdade e lá se vão 5 anos. Relendo as folhas já amareladas, encontrei um desabafo. O texto não é bom, está mal escrito, pois muito provavelmente eu deveria estar alcoolizada quando o escrevi. O que importa é que dá pra ter uma idéia daquilo que eu quis dizer. Nunca o entreguei para avaliação ou qualquer coisa do tipo, mas este eu teria jogado ao mar, dentro de uma garrafa transparente. Quem sabe a pessoa que a encontrasse, se a garrafa fosse descoberta um dia, entendesse o meu estado de espírito daquela época e fosse solidária à minha crise profissional-existencial ou seja lá o que for. Aliás, esse deve ter sido o meu primeiro Porre Literário. Segue o texto amador e sem cortes (mentira, editei o mínimo possível) para a posteridade.

Curitiba, 11 de maio de 2003.

Mensagem errada

Hoje é dia das Mães e o meu dia foi normal. Não sou mãe, mas tenho a minha, que tem a dela e é assim com tantas outras mulheres...
Uma redescoberta, porém, me fez vibrar no dia de hoje. Perguntei aos meus pais se eles lembravam o que eu costumava responder à pergunta: o que você quer ser quando crescer? Eles disseram que eu sempre quis ser escritora. Engraçado como eu não me recordava disso, e no entanto, estou cursando jornalismo. Se for parar pra pensar, é o caminho mais curto para se alcançar ao 'status' almejado. Isso mostra como nunca tive dúvidas do que eu realmente queria ser ou fazer.
Logo após a conversa relembrei momentos da minha infância. O quanto gostava de ler e escrever. Tenho certeza de que inventei e viajei em várias estórias. Se não faziam sentido, não tinham pé nem cabeça, já não importa. O que importa é que elas estavam ali e eu tinha facilidade em encontrá-las e transcrevê-las numa folha de papel. Já sentada em frente ao computador, querendo desabafar com a máquina, comecei a questionar se a realidade nua e crua do jornalismo diário pudesse afetar esse meu 'poder de criação'. Não consigo encontrar essas minhas estórias antigas. Perdi em algum lugar, ou pior: elas simplesmente deixaram de existir.
Quero escrever, gosto, preciso disso para viver. Não me sinto nada, não me sinto gente sem poder me expressar dessa forma. Quando criança, pude fantasiar o meu próprio mundo. Acreditava que tudo era bom e bonito. Hoje, a fantasia morreu e eu me vi obrigada a crescer. Tudo ficou e é mais difícil. Pensei que em minha profissão de jornalista fosse me realizar, mas sinto que não é algo pra mim. E isso dói. Dói porque as palavras que os jornalistas usam, dependem de verdades, de fatos, de ideologias que nem sempre são as minhas, que nem sempre são as suas e que eu não quero ser obrigada a passar para você...
Nunca tive a intenção de manipular ou enganar as pessoas. Só gostaria de mostrar outras idéias, outras reflexões e opiniões, não necessariamente as minhas. Queria dizer que algumas coisas podem ser diferentes. Não sou filósofa, nem historiadora, não sei nada de nada. Minha única certeza é gostar de escrever. Minha única intenção é de te ajudar.
Sim, o mundo pode ser lindo, tem pessoas boas e as coisas podem dar certo. Em contrapartida, também sou obrigada a mostrar aquilo que ele tem de pior. Quero te mostrar caminhos e dizer que você pode fazer alguma coisa. Você não precisa aceitar aquilo que não quer e nem deve esperar que os outros realizem mudanças por você. Quero mostrar sua capacidade, te dar o valor merecido e respeitar aquilo que você acredita. Quero te ver muito mais crítico, apesar de todos os problemas ou entraves. Quero te ajudar, mas já não estou sabendo como...
O engraçado ou triste de tudo isso é que qualquer jornalista sabe que eu não sobreviveria nem uma semana neste jornalismo diário. Sorte deles, azar e infelicidade a minha... Espero que você, leitor, não se entregue tão facilmente. Encontre outros caminhos e não se fixe a quase nada. Não sei quem poderá te ajudar e te informar da maneira que você merece. Só espero que essa ajuda venha. Independentemente de onde, de quem e de quando ela vier. Que ela apenas venha...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quando a chuva cai...

Hoje ela conseguiu acordar mais cedo que o habitual. Também pudera: é seu aniversário. Abriu as janelas com pressa na expectativa de ver o que o céu preparava para aquele dia. Não parece que vai chover, pensou ao olhar para o alto. Os últimos anos foram comemorados com muita ou pouca chuva. Já não sabia comemorar de maneira diferente. A purificação de sua alma era certeira. A entrada de um novo ano, uma nova idade a faziam sorrir e até mesmo chorar de tanta alegria. Mesmo que isso significasse uma leve dor de garganta no dia seguinte. Quando não, alguns espirros esparsos. Sempre valia a pena...

Passou o dia limpando seu próprio quarto, livrando-se de tudo aquilo que considerava velho e dispensável. Prender-se ao passado é não ter expectativa de futuro, pior: é esquecer de viver o presente, ponderou enquanto revirava tudo. Separava roupas usadas e que já dançavam em seu corpo agora esquálido; alguns objetos já não tinham significado algum. Olhava fotos de uma época que nunca mais iria voltar, entre outras quinquilharias perdidas e escondidas em suas gavetas e armários ao longo dos anos. O dia seguinte marcaria o início de uma nova fase: mais madura, mais independente e mais feliz. Assim esperava e tinha determinado.

De hora em hora, olhava pela janela para ver se o céu escurecia um pouco mais, mas não havia ameaça de chuva. O sol, apesar do vento frio, brilhava como nunca. Lamentou-se por desejar ardentemente que chovesse, pois lembrou que outros sofriam com o excesso de pingos não muito longe dali. A chuva caiu sim, mas resolveu cair no lugar errado e de forma insistentemente cruel...

Sempre gostou de dias chuvosos. Os pingos, leves ou pesados, juntos ou espaçados caíam para abraçá-la. Um abraço igual, por inteiro e livre de preconceitos. Um abraço que lava e que acalma até o mais aflito dos corações. O dela estava assim: aflito, ansioso e perdido. Ora batendo tranqüilo, ora rápido e à beira da exaustão. O dia passava normalmente, com alguns telefonemas de pessoas próximas e várias mensagens de amigos. Sentia-se importante, em maior ou menor grau, para aqueles que fizeram questão de lembrá-la naquele dia que era quase só seu. Hoje, mais do que nunca, sabe em quem pode confiar. Sabe que habita em alguns poucos corações e isso já lhe basta.

Adiou a hora do banho até o último momento. Olhou pela janela novamente. Se for para chover, que seja agora! Pedido ou ordem em vão. Preparou-se para a noite que começava, como se ela fosse fazer toda a diferença. Talvez ainda chova, sua esperança não a abandonava. Não fugiria do seu compromisso de dançar, pular, cantar e conversar com a chuva, caso ela chegasse com algumas horas de atraso. É sempre bem vinda, independente do dia, da hora, da situação e do ânimo.

Mas a chuva realmente não veio e foi um tanto estranho. Mudanças podem assustar de vez enquando, mas sabe que amanhã tudo será diferente, mesmo que pareça tão igual. Comemorando com sua família, riu de vários episódios e de outros que foram um tanto quanto doloridos. Lembrou do ano vivido e de tudo o que tinha acontecido até ali. Lamentou a chuva ter escolhido outro lugar para cair, pois na única hora em que chorou - e chorou com gosto - , não teve pingo, nem gota, nem água que pudesse ajudá-la a disfarçar a dor e o alívio daquele momento: o de transição. Não teve como esconder suas lágrimas e a chuva falhou pela primeira vez. Com ela...

Não tem problema. Foi a primeira vez, mas não será a última. Hoje, diferente de anos anteriores, teve sol e ele brilhou insistentemente. Talvez não seja de todo ruim. Talvez seja apenas um sinal de que ela irá começar a brilhar. Irá brilhar a partir de agora e, mais importante: por conta própria... Finalmente!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Universo Paralelo

Existe um rio imenso e caudaloso a nos separar. Não sei a que distância estamos um do outro, mas estamos longe o suficiente. Mesmo assim, consigo te enxergar do outro lado do rio: você é um pontinho amarelo a caminhar... Vou caminhando ao seu lado mesmo estando na margem oposta. Às vezes você acelera o passo e me vejo obrigada a correr pra te alcançar. Esquece que sou pequena e que preciso me equilibrar por entre as pedras que existem do meu lado. Às vezes, você pára do nada pra descansar e fumar o seu maldito cigarro. Sento em uma rocha, cruzo os braços ao redor dos joelhos e fico a te observar. Tão lindo, tão longe e, no entanto, tão impregnado e presente em mim. Te observo e espero pacientemente pelo nosso próximo passo...

Forço a vista para tentar enxergar o seu rosto, mas não enxergo tão longe e tão nitidamente. Não sei dizer quando você ri, chora, está brabo ou chateado. Não visualizo a movimentação da sua boca ao falar. Tento compreender através dos seus gestos, mas até mesmo esses me parecem contraditórios. É desesperador te ver e não saber ao certo como você está. Nesses raros momentos em que você pausa, tenho vontade de me fazer enxergar. É minha única chance de conseguir sua atenção. Aceno descontroladamente, pulo feito uma louca, grito como se minhas cordas vocais fossem arrebentar, mas é inútil. Você já não me ouve e não me vê. Pelo menos não como antes.

Todos os dias acordo decidida a cruzar o rio a nado, sem medo do que ele esconde em suas profundezas ou da turbulência de suas águas. Mas sei que a minha necessidade urgente de você acabaria por me matar no meio da travessia. Ao menos morreria tentando. Como o kiwi e seu desejo enorme de voar. Lembra? É triste, mas ainda não encontrei um barquinho a remo que pudesse me levar até aí, muito menos uma ponte que pudesse ligar o seu lado ao meu.

Faz quase 2 anos que estamos caminhando e a distância entre as margens antes parecia menor. Mesmo usando óculos você me enxergava. Costumava gritar palavras de carinho e dedicação e eu conseguia retribuir à altura. Fez com que eu acreditasse em nós, apesar das dificuldades. E elas eram tantas... Caminhávamos com pressa; ora rindo, ora chorando, os dois com o coração apertado. Não foi nada fácil e ainda não o é. Pelo menos não pra mim. Tínhamos esperança de nos encontrarmos na junção ou na nascente do rio. Essa hora mesmo que distante, contraditoriamente, parecia próxima.

Ao longo do tempo, o rio foi se alargando mais e você parou de olhar para o lado de cá. Escolheu não me ver. Nem ao menos disse adeus e isso é o que dói mais. Hoje caminho com um certo desânimo no olhar e um sorriso falso no rosto. O coração e a alma choram as lágrimas que meus olhos não conseguem derramar. Enquanto isso, a vida segue e vai se transformando à sua volta. Você se afastou da margem e está adentrando a floresta maravilhosa que existe aí do seu lado. Por entre árvores esparsas e arbustos isolados , vejo coisas que me cortam o coração. Mesmo estando longe, mesmo que não enxergue claramente. Você fez sua escolha e cabe a mim respeitá-la. Tenho tentado me afastar também, mas aqui só existem pedras e uma montanha íngreme que eu tenho preguiça e medo de escalar. Medo do que encontrar no outro lado ou lá no alto. A margem é minha segurança. Você foi e continua sendo o meu porto seguro.

Sei que de alguma forma você está bem deste lado. Tranqüilo e vivendo o presente sem se preocupar com o amanhã. Isso me consola: a sua felicidade é a minha e você deveria acreditar em mim. Você ainda caminha apressado, mas eu já sigo a passos lentos, bem mais pra trás. Não quero ver para onde o rio vai te levar, pois claramente não é pra perto de mim. Nosso universo é paralelo: os caminhos nunca se cruzam por mais que a gente queira. Por mais que eu queira... Siga sempre em frente e sem medo de olhar para o lado ou para trás. Uma hora já não estarei mais aqui... Deixe-me, pois aquela montanha ainda me espera. Mudar o rumo deveria ser fácil, mas o problema é que ainda te amo e insisto em seguir o curso do rio. O nosso rio...

Continuo sentada na rocha, com o mesmo coração apertado de outrora, vendo você se afastar cada vez mais. Ainda é possível te enxergar... Será que o amor e o desejo deixaram de existir em nós? E as alegrias e os sofrimentos terão sido em vão? E quanto aos sonhos: os meus, os seus, os nossos? O tempo foi pouco, mas há inúmeras recordações por trás e que você já não se lembra mais... Tínhamos esperança de nos encontrarmos na junção ou na nascente do rio. Foi doce a nossa ilusão. O rio, o nosso largo e vasto rio, parece desaguar de braços bem abertos... Para o mar...

sábado, 22 de novembro de 2008

Só mais um!

Babaca. O último pensamento que me vem à cabeça quando penso em você é esse. Você é um grande babaca, mas isso não muda nada. Somos amigos. Se quiser menos, somos meros colegas de trabalho. Ou fomos... Whatever também!

Você é um babaca, mas não consigo conter o sorriso quando penso em todas as coisas legais que aconteceram ou que você fez pra mim ao longo de 2 anos. Não bebo cerveja, obrigada. Foi o que eu disse no dia em que te conheci. Você me olhou incrédulo, mas eu juro que era verdade! Pelo menos era até então... Na primeira vez em que me levou pra casa, fiz você parar no supermercado só pra me comprar modess (não que eu precisasse na hora, mas foi a melhor desculpa que encontrei pra ganhar tempo com você) e um saco de balas 7 belo. Você acabou me beijando por entre os corredores . Isso tudo de madrugada e levemente alcoolizados. Na única vez em que você me cedeu um ingresso para assistir ao Furacão, o time perdeu e foi eliminado da Copa do Brasil. Só por causa disso, você me chama de pé frio até hoje. Juro que não sou, mas também não pisei mais na Baixada desde aquela vez...

Você não é o cara mais lindo que já conheci na vida. Mas isso não me impede de querer agarrá-lo quase toda vez que o vejo. Você compensa de outras formas e que me atraem muito mais do que o rostinho bonito ou físico sarado. Às vezes, você é tão orgulhoso que me tira do sério. Às vezes, não te agarro só de birra. Sigo o seu orgulho besta pra mostrar que eu também posso. Não somos namorados, apenas ficamos juntos quando temos vontade. Gosto desse nosso acordo...

Você me irrita profundamente e como ninguém. Pode me chamar de louca, mas eu adoro isso. E o pior é que você sabe. Idiota! Consegue me fazer rir até quando eu não quero, não posso ou não devo. Adoro quando você me olha fixadamente só pra me deixar sem jeito. Sabe que eu odeio ser observada ou ser o centro das atenções. Mesmo que seja só o seu. Segura minhas mãos ou meus braços para que eu não possa cobrir o rosto de vergonha. Não quero que você descubra o que penso a seu respeito através do meu olhar. Não queria ser tão transparente: olhos, boca e sorriso me entregam de mãos beijadas a você. Mesmo quando você não me merece...

Adoro suas mensagens no celular. Geralmente você manda de madrugada. Tanto faz o dia da semana. Acordo só para poder dormir com um sorriso no rosto outra vez. Tem vezes em que eu nem durmo, pois suas mensagens picantes - como você mesmo diz - , me acendem sobremaneira. Nessa hora te xingo, espumo em minha própria raiva e desejo. Quero transformar em ação cada palavra escrita por você naquela mesma hora. Se eu sou a chatinha, você continua sendo o falcatrua...

Odeio ter que admitir - pois você também é um tanto quanto convencido - , mas suas caronas são as melhores. Adoro ver sua empolgação ao cantar e a forma como descansa sua mão em minha coxa. Dá um jeito de sempre me 'roubar' um brinco, um anel ou o que quer que seja só pra poder me ver de novo. E ainda diz que EU faço isso e de propósito. Os absurdos que você fala me fazem bem. O seu olhar, o seu beijo, o seu toque me fazem bem. É sempre bom estar ao seu lado.

No entanto, fico levemente chateada com a sua falta de sensibilidade. Você já tem 30 anos, mas às vezes age como se tivesse 18. Você tá braba?, ainda ousa me perguntar antes de eu ir embora. Imagina, é claro que não... Eu adoro ver o cara que eu fico se atracando com outra. É tão legal! Qualquer mulher que se preze teria ficado, no mínimo, chateada. Até a mais moderninha e descolada. É fato! A máxima de que "o que os olhos não vêem, o coração não sente" nunca se fez tão presente na minha vida como nesse dia. Não te vi ainda depois disso e também nem sei se quero. Só queria ver o que você faria se eu tivesse feito a mesma coisa com você... Dói. Pode esperar porque dói...

Babaca. Você é um grande e um verdadeiro babaca. Perdeu alguns vários pontos depois dessa brincadeira, mas isso não é o pior. O pior é que você continua sendo o meu babaca preferido. Pelo menos por enquanto.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Insônia

Ela nunca foi de dormir muito bem. É raro conseguir pregar os olhos assim que deita. Só consegue essa proeza quando volta de uma balada, às 6h. Aí dorme feito uma pedra. Mas como não vive de baladas... Às vezes, passam-se horas até que ela consiga sossegar. Deita na cama e leva seus problemas, preocupações, tormentos, esperanças e alegrias, todos juntos para uma orgia sem fim. Continua pensando na vida, em tudo e ansiosa com o dia seguinte. Com o que fazer no dia seguinte, com o trabalho do dia seguinte, com o amor do dia seguinte, com as pessoas do dia seguinte. Ela lamenta a situação afundando o travesseiro em seu rosto como forma de protesto! No relógio, o tempo não pára de correr. Pensa que são 15 minutos a menos pra dormir... 1 hora a menos e esse hábito de cronometrar o sono vai tornando a madrugada ainda mais desesperadora... Não consegue desligar. Simplesmente não consegue. Voltou a sofrer de insônia...

Enquanto parte do mundo está dormindo, sonhando, recuperando suas energias e disposição para (re)começar tudo outra vez - no dia seguinte - , ela não pára de se virar e revirar pelo colchão. Abaixa o edredon até o pé, pois sente calor. Três minutos depois - talvez mais - puxa de volta o edredon, pois sente frio. Tira a meia, estrala os dedos, recoloca a meia. Roça um pé no outro para justamente perder as meias de vez. Adora fazer isso sem a ajuda das mãos. Acende a luz pra checar se o seu mundo continua lá, tal qual ela o deixou. Bebe água, folheia o livro de cabeceira. Reza, pois acha que talvez tenha rezado de menos naquela noite. Vai ao banheiro, faz xixi. Olha-se no espelho e se assusta com o tamanho de suas olheiras. Amanhã elas vão estar bem piores, maiores e horrorosas. Já que está lá, passa o creme anti rugas e anti olheiras, pela segunda vez. Mal não há de fazer, pensa enquanto se lambuza inteira. Perambula pelo corredor, vai analisando os títulos da biblioteca de seu pai. Talvez essa seja a minha próxima leitura. Ainda está ligada. Se estivesse na rua, provavelmente estaria cansada e louca por sua cama. É do contra. Impressionante.

Imagina que dormir também tenha um ritual - de preparação - e que seguindo todos os passos ela alcance o sono profundo, despreocupado e totalmente reparador. Mas não é boa com passos: faz o que quer e pula o que não quer. Talvez esse seja o seu problema. Às vezes, ela se imagina a maior retardatária do planeta. A única que não conseguiu fazer o que precisava ser feito - no dia - e que pensa ser possível resolver - algo ou tudo - agora, na hora de dormir. Afinal o seu dia ainda não acabou e pra ela, só é outro dia depois que se dorme...

Continua pensando nos seus próximos passos. Já chorou a falta de algumas coisas e pessoas - pois o choro tem vindo em doses homeopáticas ultimamente -. Já pensou naquilo que deixou de fazer, naquilo que fez, ou que ainda pode fazer. Lembrou dos shorts que comprou pra usar na festa do dia anterior e acabou usando o velho mesmo. Pensa que precisa engordar, pois está definhando a cada dia e está ficando horrorosa. Sua luta é desigual, ela tem muito o que comer. Muito o que pensar. Agora são quase 4h da manhã. Pensa no open bar de amanhã. Pensa em como seria bom estar na praia, pois lá ela dorme e acorda ao som das ondas do mar... Lá, seu relógio biológico funciona perfeitamente. Faz cafuné no próprio cabelo. Costuma fazer rolinhos com as mechas entre os dedos. Passa suas mãos pelos braços até os pelinhos arrepiarem. Pensa em como queria que ele estivesse ali. Não estariam dormindo, é fato. Mas estariam se esforçando horrores para chegar a esse fim... Pega o fone de ouvido e liga o som. Música ajuda às vezes. Se forem tristes demais, ela chora. Se forem animadas demais, ela começa a batucar mãos e pés no colchão. Não, música definitivamente não vai ajudar hoje...

Pensa no brinco que perdeu semanas antes quando ele a agarrou no carro. Por que será que ainda não devolveu? Pensa em todos os sinônimos para o ato sexual: transar, trepar, foder, fornicar, comer, cruzar, fazer sexo, dar... Não adianta, já são quase 4h30 e ela mistura prazer e amenidades com assuntos sérios e complexos ... Tudo isso ela faz e pensa enquanto você ainda dorme... E quando você acorda, pronto para outro dia, ela continua lá. Da maneira que queria estar desde o ínicio da saga: dormindo...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tudo é você...

Lembro de você toda vez que me deparo com a sinceridade e a preocupação genuína daqueles que gostam de mim ou me amam;

Lembro de não te conhecer e viver um Amor Platônico digno de filme. Lembro de então te conhecer e perceber - ao longo do tempo - que a amizade era o nosso melhor caminho. Foi linda e incondicional.

Música - Dazaranha, Capital Inicial, Tihuana -, violão, céu azul, sol, pancadas de chuva... Alegria sincera, sorrisos despreocupados e piscina me lembram você. Me lembram o melhor de você.

Porres com cachaça Luis(a) Alves e ressacas homéricas também me lembram você. Visualizar você ainda bêbado, mergulhando na piscina e saindo com um puta calombo na testa me faz rir até hoje. "Não tô bem ainda, galera. Acho que vou subir", foi o que vc disse na ocasião. Todos rimos horrores do seu já aparente e imenso galo, além da ressaca. Justo você, que quase não as tinha. Não era de beber muito. Eu em compensação, já era um verdadeiro caso perdido naquela época.

Lembro de você toda vez que vou à praia e vejo o seu apartamento ocupado por uma família que não é a sua. Chapéu de caçador, óculos escuros, cabelos desengrenhados, bermudas de surfista - vermelhas ou azuis - também me lembram você. Seu corpo escultural (desculpe, nunca consegui evitar de te olhar e mais ainda de te espiar pela janela do meu quarto, no 1o andar)... Meninas na sua cola, sem dar trégua, também me lembram você e me irritavam absurdamente. Ciuminho besta, - eu sei - , pois tive você da melhor maneira que eu pude e me foi permitido.

Lembro de você toda vez que tenho dificuldades tecnológicas ou exatas, pois é muita novidade e números pra uma cabeça tão desprovida deste tipo de razão. Palavras cruzadas, esportes 'radicais' com a galera (mesmo eu sendo a pereba de qualquer time), caminhadas pela areia também me lembram você. Nossas conversas ao vivo - sobre música, livros, baladas e casinhos complicados - ou pelo icq também me fazem muita falta.

Lembro do dia em que me declarei, mas já priorizando nossa amizade. Precisava tirar aquilo do meu sistema e foi difícil! Depois de 5 minutos estávamos os dois rindo da situação. Se tem uma coisa da qual não me arrependo foi de um dia ter te contado que você foi o mundo pra mim. Isso me conforta, de alguma maneira... Você ficou sabendo e o 'segredo' de então não morreu comigo... Ele foi declarado e foi embora com você...

Lembro da culpa enorme que você sentiu quando seu pai morreu naquela BR assassina em função de um acidente 'causado por você'. Era doído ver o seu sofrimento, era difícil saber o que te falar. Você também já não se abria mais. Mas isso já não importa, pois 2 anos depois, foi sua vez de partir... Vítima de uma meningite maldita...

Lembro do quanto era bom estar ao seu lado e penso na saudade absurda que sinto de você e o seu ombro gigante (de lutador de jiu-jitsu) a me consolar. Eu não mudei muito, o que significa dizer, que hoje você ainda estaria rindo de todas as coisas absurdas que fiz ou deixei de fazer. As minhas coisas complicadas...

Tenho tantas lembranças suas e de um tempo que foi curto demais... Pra você. Hoje, vivo com uma saudade imensa daquela época. Saudade essa, que nunca tinha conseguido disfarçar quando vc ainda era vivo e tampouco consigo agora...
Te amo, Gaban. E é pra sempre...