quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

2009 tá aí...

Fecho o ano com um texto que recebi por e-mail na virada de 2007/08. É lindo e traz o espírito que quero carregar comigo ano que vem. 2008 já é passado. 2009 está aí e é nele que eu quero pensar... E viver!


Dentro de alguns dias estaremos no último dia do ano de 2008...
E depois da meia-noite, virá o Ano Novo...
O engraçado é que - teoricamente - continua tudo igual....
Ainda seremos os mesmos.
Ainda teremos os mesmos amigos.
Alguns o mesmo emprego.
O mesmo parceiro.
As mesmas dívidas, emocionais e financeiras.
Ainda seremos fruto das escolhas que fizemos durante a vida.
Ainda seremos as mesmas pessoas que fomos este ano...
A diferença, a sutil diferença, é que quando o relógio nos avisar que é meia-noite do dia 31 de dezembro de 2008, teremos um ano in-tei-ri-nho pela frente!
Um ano novinho em folha!
Como uma página de papel em branco, esperando pelo que iremos escrever.
Um ano para começarmos o que ainda não tivemos força de vontade, coragem ou fé...
Um ano para perdoarmos um erro, um ano para sermos perdoados dos nossos...
365 dias para fazermos aquilo que quisermos...
Ou para deixarmos que façam o que quiserem conosco...
Sempre há uma escolha...
E, exatamente por isso, eu desejo que os meus amigos façam as melhores escolhas que puderem.
Desejo que sorriam o máximo que puderem.
Cantem aquilo que quiserem.
Beijem muito.
Amem mais.
Abracem bem apertado.
Durmam com os anjos.
Sejam protegidos por eles.
Agradeçam por estarem vivos e terem sempre mais uma chance para recomeçar.
Agradeçam suas escolhas, pois certas ou não, elas são suas.
E ninguém pode ou deve questioná-las.
Eu gostaria de agradecer aos amigos que tenho.
Aos que me acompanham desde muito tempo.
Aos que eu fiz este ano.
Aos que eu escrevo pouco, mas lembro muito.
Aos que eu escrevo muito e falo pouco.
Aos que moram longe e não vejo tanto quanto gostaria.
Aos que moram perto e eu vejo sempre.
Aos que me seguram, quando penso que vou cair.
Aos que eu dou a mão quando me pedem ou quando me parecem um pouco perdidos.
Aos que ganham e perdem.
Aos que me parecem fortes e aos que realmente são.
Aos que me parecem anjos, mas estão aqui e me dão certeza de que existe algo de divino neste mundo.
Porque ninguém seria um anjo na vida de outra pessoa, se não tivesse uma centelha divina dentro de si.

Obrigada por fazer parte da minha história!

(autor desconhecido)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Ver você dormir...

É curioso como fico desperta ao seu lado. Quando sozinha sofro horrores com a minha maldita insônia e os malabarismos que preciso fazer pra conseguir dormir. Mas com você a noite é pura calmaria. Não me preocupo se e que horas vou dormir ou com a qualidade do meu sono. É indiferente. À meia luz, fixo meu olhar em você. E observo. Me pergunto o que será que está pensando. Será que sonha? Seu semblante me passa uma paz que eu geralmente não consigo sentir. Nem acordada, muito menos dormindo. Aproximo meu rosto ao seu. Quem sabe estando bem pertinho eu consiga entender ou perceber a sutileza dessa entrega. Qual é o segredo?, sussuro ao seu ouvido. Gosto de sentir sua respiração quente de encontro à minha pele: faz cócegas e eu sorrio. O hálito que sai da sua boca é a certeza de que você está bem. Meu coração pequeno agradece o conforto que você me proporciona. Ao contemplá-lo, me agarro a um fio de esperança de que as pequenas coisas, as mais simples e os pequenos gestos não são tão banais assim. Mesmo que quase tudo me prove o contrário. Nada é banal quando se está com alguém que te ama.

Sei que não é a hora mais apropriada, mas preciso - de alguma forma - te mostrar todo o meu carinho. Não que você vá perceber, é lógico. A verdade é que eu aprendo demais com você. Nossa proximidade faz com que eu renove todos os sentimentos bons que existem em mim, mas que insistem em serem pisoteados como se fossem ou não representassem nada. Parte da culpa é minha, pois continuo permitindo que isso aconteça. Mas nem é isso que me importa no momento. Agora eu só quero você e a sua paz mostrando à minha mente inquieta tudo aquilo que eu preciso pra sair deste marasmo. Não parece, mas respeito o seu momento de descanso mesmo que a minha vontade seja a de te ouvir falando pelos cotovelos. Meus lábios, suavemente, beijam a sua testa. Delicadamente passo meus dedos pelo seu rosto... Suas pálpebras e sobrancelhas. Desenho círculos em suas bochechas para depois contornar sua fisionomia. Sua testa é lisinha e despreocupada, seu nariz pontudinho sangra com facilidade. Sua boca é tão serena e suas palavras têm poder de cura... Te amo tanto e você ainda nem sabe direito o quanto isso significa...

Minha mão sobe novamente de encontro aos seus cabelos. Adoro sentir suas madeixas por entre os meus dedos finos. É como se você precisasse disso para continuar dormindo e sonhando o seu sonho mais lindo. Mesmo no frio, você sua bastante quando coberto. Como sou friorenta do nariz aos pés, abaixo um pouco a manta para que seu corpo possa respirar. Tão lindo, tão calmo, tão em paz. Tudo aquilo que eu queria pra mim na noite de hoje... E sempre. Seguro a sua mão, brinco com seus dedos entrelaçando-os aos meus. Sua mão quente contrasta com a minha que é fria. Seguro-a até que alcancemos o equilíbrio de nossas temperaturas. Depois de todo esse tempo a observar os sinais do seu corpo, você ainda dorme. Abaixo a manta de vez para sentir os seus pés. Quando frio nem tiro sua meia, mas quando calor gosto de brincar com os seus dedos. Tocá-los um a um e passear os meus dedos pela sola do seu pé comprido. Às vezes você sente um leve incômodo, mas tem vezes que não. Quando sua posição me permite, tento dormir abraçada a você - de conchinha. É uma forma de te proteger. Proteção essa que um dia eu também quero poder sentir. Você ainda é uma criança de 4 anos e é o mundo pra mim... A tranqüilidade que eu quero viver é justamente essa: a que eu encontro ao te observar. A que eu sinto ao cuidar de você...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

(in)diretas

Você não sabe e nem vai acreditar, mas sou um homem claro e objetivo. Isso não quer dizer que seja grosso, apenas não sei enrolar. Sou assim com qualquer pessoa e sobre qualquer assunto. Esperava que você fosse assim comigo também, mas a verdade é que você tem me confundido do início ao fim. Não consigo entender suas palavras, muito menos suas atitudes. É tudo tão incoerente...

Nem sempre tenho opinião formada sobre alguma coisa. É fato. Nesses casos, fico quieto e escuto as demais pessoas. Quando tenho que falar, falo sem pestanejar. Dou a cara pra bater, sem medo de ser (in)feliz. Só assim para crescer enquanto pessoa e fortalecer opiniões. Mas funciono assim com coisas pequenas, do cotidiano e que, às vezes, nem têm tanta importância assim. Banalidade gera mais banalidade. Esse é o meu lema! O que me preocupa é não me fazer entender em relacionamentos interpessoais. Sim, porque eu me entendo de alguma maneira! Não entendo o nosso relacionamento e nem sei dizer se temos algum... Será que dá pra ser mais (in)direta?

Há 1 mês, depois de vários sem contato, consegui beijá-la pela primeira vez. Não sei se você estava esperando, mas sei que gostou. Através do seu olhar, percebi o quanto me queria. Insisti em você, mesmo com o seu aparente (des)caso. Não me diga que foi vencida pelo cansaço porque não condiz com a urgência dos seus lábios colados e brigando junto aos meus. Você me queria tanto quanto eu te queria. Foi um ataque surpresa: você deu bobeira e eu aproveitei. Você deixou-se aproveitar. E foi bom, muito bom. Algo arrebatador...

Não me preocupei em pegar seu telefone, nem você o meu. E agora? Quero falar e sair com você, mas não sei exatamente o que dizer. Estávamos pra lá de bêbados quando tudo aconteceu? Poderia beijá-la de novo sem achar que seu irmão, meu brother, me excluiria da sua lista de amigos? Você me 'joga' algumas (in)diretas e eu respondo com algo que julgo (in)direto. Como diabos vamos no entender? Sejamos honestos com relação ao que sentimos ou queremos, pelo amor de Deus!

Trocamos mensagens banais e até mesmo estas já me perturbam. Sempre procuro algo nas entrelinhas. Algo que talvez (in)exista. A sensação de estar pisando em ovos ainda é grande. Das duas uma: ou você é a mulher mais cruel que já conheci na vida ou decididamente é a melhor de todas! Me deixou sem rumo, sem me entender, mas louco pra passar mais tempo com você. Não sei dizer quanto tempo... Você é um poço de mistérios a descobrir...

Estou confuso e ansioso, mas ao mesmo tempo feliz e esperançoso. Estou sendo brega, eu sei! Te quero, mas não sei dizer o que você quer. Uma hora diz uma coisa, na outra se contradiz inteira. A sua (in)decisão leva à minha. Caceta! Ou eu sou muito burro ou você gosta de fazer os outros sofrerem com essa sua aparente (in)diferença. No fundo, como toda mulher, você quer ser (re)descoberta e amada pela contradição ambulante que é. O que você não sabe é que eu estou mais do que disposto a ir até o fim com você. Até o ponto em que todos os seus mistérios me sejam revelados para que alguns novos possam (re)nascer.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Como é grande o meu amor por você...

Você sabe que eu te amo. Nunca cheguei a dizer isso o bastante, mas eu amo e muito. Quando você partiu eu era pequena o suficiente pra não saber a importância de ouvir isso. Toda vez que você me chamava, eu fugia com um já vou, já vou! E quase não ia. Quando desatenta, me agarrava, me segurava forte e falava coisas ao meu ouvido, enquanto eu tentava me desvencilhar pra voltar a brincar. Se eu apenas soubesse, teria feito todas as suas vontades. Teria parado toda vez pra te ouvir, te encher de beijos e brincar com você. Teria feito mais, muito mais do que pude fazer. Eu só tinha 8 anos e o nosso tempo foi tão curto...

Você foi a primeira pessoa importante que eu perdi na vida. Aquela que doeu mais. Meu avô, meu herói. Lembro do último dia que te vi aqui em casa. Você estava sentado no sofá e eu estava em pé ao seu lado. Tinha um tubinho, - parecia um caracol - , com seu sangue correndo por dentro, grudado à sua mão. Deve ter me chocado, mas eu imaginava que tudo ia ficar bem. Você me explicou o porquê daquilo, mas na minha vida tão compromissada de criança, logo deixei você pra trás, mais uma vez. Também foi a última...

Meu pai foi o responsável por contar a notícia. À medida em que ele falava, meus olhos já estavam arregalados de tanta apreensão. Sabia que as pessoas partiam para um outro lugar... Só não imaginava que pessoas da minha família também fossem obrigadas a partir um dia. Nunca tive pressa em crescer e o medo de esquecê-lo depois disso era enorme... Lembro da 1a viagem com você e a vó Nina, sem meus pais junto. No meio do caminho estava chorando e pedindo pra voltar. Vocês fizeram de tudo pra me bajular e me acalmar durante o período. Também teve o dia em que caí da barra de flexão que fica presa entre o vão da porta. De tantas cambalhotas que dei, me achando a ginasta, afrouxei a maldita e ela caiu na minha cabeça. Desmaiei. Você estava lá pra acalmar os nervos da minha mãe e levar-nos ao pronto socorro.

E aquele jacaré que peguei com você? Nos embolamos na hora. Enquanto a onda me levava, ralei pernas, queixo, mãos. Quando consegui subir, avistei você: sorrindo como que para acalmar a minha cara assustada. Os apelidos carinhosos que você me deu são usados até hoje. Continuo sendo a neguinha fedida para o meu pai, ou a nega difícil. Mais do que ninguém, você já sabia que eu era dura na queda... Difícil de domar. Lembro do dia em que a minha sandalinha da Xuxa ficou presa na escada rolante. A escada parou e eu não conseguia desprendê-la. Você me acalmava enquanto tirava a dita cuja do meu pé. Também detonei meu joelho - a cicatriz ainda é visível - naquele escorregador de cimento que ficava na pracinha em frente ao seu prédio. Mais uma vez, você estava lá pra mim... Como sempre esteve. Eu só era muito nova pra perceber...

Não muito depois de você morrer, rezei por dias e dias. Talvez anos, pedindo a Deus que não levasse mais ninguém da família, pois a saudade e a falta doíam na alma. Criança nenhuma merece sofrer tamanha ausência. Você foi um excelente jogador de futebol, mas era cardíaco e diabético. Mentia inocentemente pra minha mãe e pra vó quando dizia que não estava mais jogando. Na verdade você jogava com a mesma freqüência e intensidade. O médico te alertava, mas você era teimoso e não iria deixar de fazer aquilo que amava. Se tem uma coisa que me consola é saber que você morreu feliz. Não me importo com o tempo, pois essas e outras lembranças permanecem fortes e eu já não tenho medo de esquecê-lo. É impossível. Seu coração parou de bater, mas o meu ainda não. Você ainda está aqui, eu só não posso te ver ou te abraçar. Hoje, mais do que nunca, sei que você sofre, vibra, vive e permanece com a sua neta mais velha e a mais complicada. Sei que está rindo de tudo isso enquanto eu choro a minha saudade. Vai ter volta! Te amo, vovô Bastos. Desde aquela época, até os dias de hoje e mais forte ainda, no amanhã...

domingo, 7 de dezembro de 2008

Bola na rede

Ela amanheceu um tanto agitada. Ansiosa talvez seja a palavra mais adequada. Hoje acontece a última rodada do campeonato brasileiro e o São Paulo vai ser campeão, mas ela pouco se importa com isso. Está mais preocupada com a situação do seu time entre aqueles que ainda correm o risco de serem rebaixados. A verdade é uma só e nem adianta disfarçar: ela viveu num estado de nervosismo puro e constante a semana inteira e dali 90 minutos tudo estaria acabado. Ou ela iria lamentar e viver uma situação nunca vista antes - por ela - (seu time caindo pra segundona) ou comemoraria a permanência na primeira divisão como se fosse o título!

Às 17h já estava em frente ao computador, acompanhando os resultados dos demais jogos e com o rádio ligado no seu jogo. O time jogava em casa, mas ela preferiu não se aventurar, pois a última vez que pisou na Baixada o time foi eliminado de uma outra competição qualquer. Não quero ficar com fama de azarada, até mesmo porque eu nunca fui uma. Aguentar os amigos fanáticos culpando-a por uma possível derrota não foi lá muito animador. Pior, os amigos que torcem para o rival iriam pentelhá-la até o ano que vem! O mais prudente era ficar em casa e sofrer sozinha. Ou quase sozinha...

Aquela foto 3X4 do avô já está borrada. Ela costumava carregá-la a todos os jogos do Furacão. Guardava no bolso da jaqueta quando estava frio ou no bolso da sua calça quando estava calor. Quando muito nervosa, se agarrava aquela foto com tanta intensidade e fé que ao menor contato de suas mãos suadas o rosto do avô começou a sumir. Não importa, pois ela sabe que é ele, sabe o que ele representa e sabe o quanto era louco por futebol (foi jogador também) e atleticano fanático. No fundo, ele deve estar feliz por saber que tem uma neta tarada pelo esporte e que lembra de levá-lo toda vez para curtir aquela que foi sua grande paixão: o futebol.

À medida que os gols iam saindo, ela pulava, vibrava, aumentava o som para que a família soubesse da situação do time. Ah, mas a gente não vai cair mesmo, gritava e saia correndo feito uma criança pelos cômodos da casa. Os irmãos eram tomados pela sua alegria, assim como seus pais. Ninguém estava indiferente e cada um acompanhava à sua maneira. Ela tomava água sem parar, antes que a garganta secasse de tanta euforia. Nem os gols do time adversário desanimaram aquela que se redescobriu fanática. Tentava escrever algo que prestasse ao mesmo tempo em que ouvia o locutor exaltado e os repórteres mais ainda. Todo mundo torcendo junto. That's the spirit!, ela pensava. O nervosismo imperou do começo ao fim, mas foi um dia lindo. Pra ela, para o avô e para toda torcida atleticana.

O Atlético salvou o ano de 2008 para aquela que continua com sorte no jogo. O desgosto de cair para uma segundona está e continua bem longe dali. Já no bar, bebendo todas e rindo de tal façanha, decidiu que em 2009 voltaria a freqüentar o Caldeirão juntamente com o seu amuleto: a fotinho 3X4 do avô. Momentos de alegria como esse não podem mais ser evitados, Vô. Ainda mais tendo a certeza de que você estará ao meu lado. Seja lá qual for o resultado...

domingo, 30 de novembro de 2008

Garrafa ao mar...

Não achei que fosse uma pessoa de juntar tralha, mas fuçando e limpando minhas gavetas, me assustei. Encontrei textos, trabalhos e provas da época da faculdade e lá se vão 5 anos. Relendo as folhas já amareladas, encontrei um desabafo. O texto não é bom, está mal escrito, pois muito provavelmente eu deveria estar alcoolizada quando o escrevi. O que importa é que dá pra ter uma idéia daquilo que eu quis dizer. Nunca o entreguei para avaliação ou qualquer coisa do tipo, mas este eu teria jogado ao mar, dentro de uma garrafa transparente. Quem sabe a pessoa que a encontrasse, se a garrafa fosse descoberta um dia, entendesse o meu estado de espírito daquela época e fosse solidária à minha crise profissional-existencial ou seja lá o que for. Aliás, esse deve ter sido o meu primeiro Porre Literário. Segue o texto amador e sem cortes (mentira, editei o mínimo possível) para a posteridade.

Curitiba, 11 de maio de 2003.

Mensagem errada

Hoje é dia das Mães e o meu dia foi normal. Não sou mãe, mas tenho a minha, que tem a dela e é assim com tantas outras mulheres...
Uma redescoberta, porém, me fez vibrar no dia de hoje. Perguntei aos meus pais se eles lembravam o que eu costumava responder à pergunta: o que você quer ser quando crescer? Eles disseram que eu sempre quis ser escritora. Engraçado como eu não me recordava disso, e no entanto, estou cursando jornalismo. Se for parar pra pensar, é o caminho mais curto para se alcançar ao 'status' almejado. Isso mostra como nunca tive dúvidas do que eu realmente queria ser ou fazer.
Logo após a conversa relembrei momentos da minha infância. O quanto gostava de ler e escrever. Tenho certeza de que inventei e viajei em várias estórias. Se não faziam sentido, não tinham pé nem cabeça, já não importa. O que importa é que elas estavam ali e eu tinha facilidade em encontrá-las e transcrevê-las numa folha de papel. Já sentada em frente ao computador, querendo desabafar com a máquina, comecei a questionar se a realidade nua e crua do jornalismo diário pudesse afetar esse meu 'poder de criação'. Não consigo encontrar essas minhas estórias antigas. Perdi em algum lugar, ou pior: elas simplesmente deixaram de existir.
Quero escrever, gosto, preciso disso para viver. Não me sinto nada, não me sinto gente sem poder me expressar dessa forma. Quando criança, pude fantasiar o meu próprio mundo. Acreditava que tudo era bom e bonito. Hoje, a fantasia morreu e eu me vi obrigada a crescer. Tudo ficou e é mais difícil. Pensei que em minha profissão de jornalista fosse me realizar, mas sinto que não é algo pra mim. E isso dói. Dói porque as palavras que os jornalistas usam, dependem de verdades, de fatos, de ideologias que nem sempre são as minhas, que nem sempre são as suas e que eu não quero ser obrigada a passar para você...
Nunca tive a intenção de manipular ou enganar as pessoas. Só gostaria de mostrar outras idéias, outras reflexões e opiniões, não necessariamente as minhas. Queria dizer que algumas coisas podem ser diferentes. Não sou filósofa, nem historiadora, não sei nada de nada. Minha única certeza é gostar de escrever. Minha única intenção é de te ajudar.
Sim, o mundo pode ser lindo, tem pessoas boas e as coisas podem dar certo. Em contrapartida, também sou obrigada a mostrar aquilo que ele tem de pior. Quero te mostrar caminhos e dizer que você pode fazer alguma coisa. Você não precisa aceitar aquilo que não quer e nem deve esperar que os outros realizem mudanças por você. Quero mostrar sua capacidade, te dar o valor merecido e respeitar aquilo que você acredita. Quero te ver muito mais crítico, apesar de todos os problemas ou entraves. Quero te ajudar, mas já não estou sabendo como...
O engraçado ou triste de tudo isso é que qualquer jornalista sabe que eu não sobreviveria nem uma semana neste jornalismo diário. Sorte deles, azar e infelicidade a minha... Espero que você, leitor, não se entregue tão facilmente. Encontre outros caminhos e não se fixe a quase nada. Não sei quem poderá te ajudar e te informar da maneira que você merece. Só espero que essa ajuda venha. Independentemente de onde, de quem e de quando ela vier. Que ela apenas venha...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quando a chuva cai...

Hoje ela conseguiu acordar mais cedo que o habitual. Também pudera: é seu aniversário. Abriu as janelas com pressa na expectativa de ver o que o céu preparava para aquele dia. Não parece que vai chover, pensou ao olhar para o alto. Os últimos anos foram comemorados com muita ou pouca chuva. Já não sabia comemorar de maneira diferente. A purificação de sua alma era certeira. A entrada de um novo ano, uma nova idade a faziam sorrir e até mesmo chorar de tanta alegria. Mesmo que isso significasse uma leve dor de garganta no dia seguinte. Quando não, alguns espirros esparsos. Sempre valia a pena...

Passou o dia limpando seu próprio quarto, livrando-se de tudo aquilo que considerava velho e dispensável. Prender-se ao passado é não ter expectativa de futuro, pior: é esquecer de viver o presente, ponderou enquanto revirava tudo. Separava roupas usadas e que já dançavam em seu corpo agora esquálido; alguns objetos já não tinham significado algum. Olhava fotos de uma época que nunca mais iria voltar, entre outras quinquilharias perdidas e escondidas em suas gavetas e armários ao longo dos anos. O dia seguinte marcaria o início de uma nova fase: mais madura, mais independente e mais feliz. Assim esperava e tinha determinado.

De hora em hora, olhava pela janela para ver se o céu escurecia um pouco mais, mas não havia ameaça de chuva. O sol, apesar do vento frio, brilhava como nunca. Lamentou-se por desejar ardentemente que chovesse, pois lembrou que outros sofriam com o excesso de pingos não muito longe dali. A chuva caiu sim, mas resolveu cair no lugar errado e de forma insistentemente cruel...

Sempre gostou de dias chuvosos. Os pingos, leves ou pesados, juntos ou espaçados caíam para abraçá-la. Um abraço igual, por inteiro e livre de preconceitos. Um abraço que lava e que acalma até o mais aflito dos corações. O dela estava assim: aflito, ansioso e perdido. Ora batendo tranqüilo, ora rápido e à beira da exaustão. O dia passava normalmente, com alguns telefonemas de pessoas próximas e várias mensagens de amigos. Sentia-se importante, em maior ou menor grau, para aqueles que fizeram questão de lembrá-la naquele dia que era quase só seu. Hoje, mais do que nunca, sabe em quem pode confiar. Sabe que habita em alguns poucos corações e isso já lhe basta.

Adiou a hora do banho até o último momento. Olhou pela janela novamente. Se for para chover, que seja agora! Pedido ou ordem em vão. Preparou-se para a noite que começava, como se ela fosse fazer toda a diferença. Talvez ainda chova, sua esperança não a abandonava. Não fugiria do seu compromisso de dançar, pular, cantar e conversar com a chuva, caso ela chegasse com algumas horas de atraso. É sempre bem vinda, independente do dia, da hora, da situação e do ânimo.

Mas a chuva realmente não veio e foi um tanto estranho. Mudanças podem assustar de vez enquando, mas sabe que amanhã tudo será diferente, mesmo que pareça tão igual. Comemorando com sua família, riu de vários episódios e de outros que foram um tanto quanto doloridos. Lembrou do ano vivido e de tudo o que tinha acontecido até ali. Lamentou a chuva ter escolhido outro lugar para cair, pois na única hora em que chorou - e chorou com gosto - , não teve pingo, nem gota, nem água que pudesse ajudá-la a disfarçar a dor e o alívio daquele momento: o de transição. Não teve como esconder suas lágrimas e a chuva falhou pela primeira vez. Com ela...

Não tem problema. Foi a primeira vez, mas não será a última. Hoje, diferente de anos anteriores, teve sol e ele brilhou insistentemente. Talvez não seja de todo ruim. Talvez seja apenas um sinal de que ela irá começar a brilhar. Irá brilhar a partir de agora e, mais importante: por conta própria... Finalmente!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Universo Paralelo

Existe um rio imenso e caudaloso a nos separar. Não sei a que distância estamos um do outro, mas estamos longe o suficiente. Mesmo assim, consigo te enxergar do outro lado do rio: você é um pontinho amarelo a caminhar... Vou caminhando ao seu lado mesmo estando na margem oposta. Às vezes você acelera o passo e me vejo obrigada a correr pra te alcançar. Esquece que sou pequena e que preciso me equilibrar por entre as pedras que existem do meu lado. Às vezes, você pára do nada pra descansar e fumar o seu maldito cigarro. Sento em uma rocha, cruzo os braços ao redor dos joelhos e fico a te observar. Tão lindo, tão longe e, no entanto, tão impregnado e presente em mim. Te observo e espero pacientemente pelo nosso próximo passo...

Forço a vista para tentar enxergar o seu rosto, mas não enxergo tão longe e tão nitidamente. Não sei dizer quando você ri, chora, está brabo ou chateado. Não visualizo a movimentação da sua boca ao falar. Tento compreender através dos seus gestos, mas até mesmo esses me parecem contraditórios. É desesperador te ver e não saber ao certo como você está. Nesses raros momentos em que você pausa, tenho vontade de me fazer enxergar. É minha única chance de conseguir sua atenção. Aceno descontroladamente, pulo feito uma louca, grito como se minhas cordas vocais fossem arrebentar, mas é inútil. Você já não me ouve e não me vê. Pelo menos não como antes.

Todos os dias acordo decidida a cruzar o rio a nado, sem medo do que ele esconde em suas profundezas ou da turbulência de suas águas. Mas sei que a minha necessidade urgente de você acabaria por me matar no meio da travessia. Ao menos morreria tentando. Como o kiwi e seu desejo enorme de voar. Lembra? É triste, mas ainda não encontrei um barquinho a remo que pudesse me levar até aí, muito menos uma ponte que pudesse ligar o seu lado ao meu.

Faz quase 2 anos que estamos caminhando e a distância entre as margens antes parecia menor. Mesmo usando óculos você me enxergava. Costumava gritar palavras de carinho e dedicação e eu conseguia retribuir à altura. Fez com que eu acreditasse em nós, apesar das dificuldades. E elas eram tantas... Caminhávamos com pressa; ora rindo, ora chorando, os dois com o coração apertado. Não foi nada fácil e ainda não o é. Pelo menos não pra mim. Tínhamos esperança de nos encontrarmos na junção ou na nascente do rio. Essa hora mesmo que distante, contraditoriamente, parecia próxima.

Ao longo do tempo, o rio foi se alargando mais e você parou de olhar para o lado de cá. Escolheu não me ver. Nem ao menos disse adeus e isso é o que dói mais. Hoje caminho com um certo desânimo no olhar e um sorriso falso no rosto. O coração e a alma choram as lágrimas que meus olhos não conseguem derramar. Enquanto isso, a vida segue e vai se transformando à sua volta. Você se afastou da margem e está adentrando a floresta maravilhosa que existe aí do seu lado. Por entre árvores esparsas e arbustos isolados , vejo coisas que me cortam o coração. Mesmo estando longe, mesmo que não enxergue claramente. Você fez sua escolha e cabe a mim respeitá-la. Tenho tentado me afastar também, mas aqui só existem pedras e uma montanha íngreme que eu tenho preguiça e medo de escalar. Medo do que encontrar no outro lado ou lá no alto. A margem é minha segurança. Você foi e continua sendo o meu porto seguro.

Sei que de alguma forma você está bem deste lado. Tranqüilo e vivendo o presente sem se preocupar com o amanhã. Isso me consola: a sua felicidade é a minha e você deveria acreditar em mim. Você ainda caminha apressado, mas eu já sigo a passos lentos, bem mais pra trás. Não quero ver para onde o rio vai te levar, pois claramente não é pra perto de mim. Nosso universo é paralelo: os caminhos nunca se cruzam por mais que a gente queira. Por mais que eu queira... Siga sempre em frente e sem medo de olhar para o lado ou para trás. Uma hora já não estarei mais aqui... Deixe-me, pois aquela montanha ainda me espera. Mudar o rumo deveria ser fácil, mas o problema é que ainda te amo e insisto em seguir o curso do rio. O nosso rio...

Continuo sentada na rocha, com o mesmo coração apertado de outrora, vendo você se afastar cada vez mais. Ainda é possível te enxergar... Será que o amor e o desejo deixaram de existir em nós? E as alegrias e os sofrimentos terão sido em vão? E quanto aos sonhos: os meus, os seus, os nossos? O tempo foi pouco, mas há inúmeras recordações por trás e que você já não se lembra mais... Tínhamos esperança de nos encontrarmos na junção ou na nascente do rio. Foi doce a nossa ilusão. O rio, o nosso largo e vasto rio, parece desaguar de braços bem abertos... Para o mar...

sábado, 22 de novembro de 2008

Só mais um!

Babaca. O último pensamento que me vem à cabeça quando penso em você é esse. Você é um grande babaca, mas isso não muda nada. Somos amigos. Se quiser menos, somos meros colegas de trabalho. Ou fomos... Whatever também!

Você é um babaca, mas não consigo conter o sorriso quando penso em todas as coisas legais que aconteceram ou que você fez pra mim ao longo de 2 anos. Não bebo cerveja, obrigada. Foi o que eu disse no dia em que te conheci. Você me olhou incrédulo, mas eu juro que era verdade! Pelo menos era até então... Na primeira vez em que me levou pra casa, fiz você parar no supermercado só pra me comprar modess (não que eu precisasse na hora, mas foi a melhor desculpa que encontrei pra ganhar tempo com você) e um saco de balas 7 belo. Você acabou me beijando por entre os corredores . Isso tudo de madrugada e levemente alcoolizados. Na única vez em que você me cedeu um ingresso para assistir ao Furacão, o time perdeu e foi eliminado da Copa do Brasil. Só por causa disso, você me chama de pé frio até hoje. Juro que não sou, mas também não pisei mais na Baixada desde aquela vez...

Você não é o cara mais lindo que já conheci na vida. Mas isso não me impede de querer agarrá-lo quase toda vez que o vejo. Você compensa de outras formas e que me atraem muito mais do que o rostinho bonito ou físico sarado. Às vezes, você é tão orgulhoso que me tira do sério. Às vezes, não te agarro só de birra. Sigo o seu orgulho besta pra mostrar que eu também posso. Não somos namorados, apenas ficamos juntos quando temos vontade. Gosto desse nosso acordo...

Você me irrita profundamente e como ninguém. Pode me chamar de louca, mas eu adoro isso. E o pior é que você sabe. Idiota! Consegue me fazer rir até quando eu não quero, não posso ou não devo. Adoro quando você me olha fixadamente só pra me deixar sem jeito. Sabe que eu odeio ser observada ou ser o centro das atenções. Mesmo que seja só o seu. Segura minhas mãos ou meus braços para que eu não possa cobrir o rosto de vergonha. Não quero que você descubra o que penso a seu respeito através do meu olhar. Não queria ser tão transparente: olhos, boca e sorriso me entregam de mãos beijadas a você. Mesmo quando você não me merece...

Adoro suas mensagens no celular. Geralmente você manda de madrugada. Tanto faz o dia da semana. Acordo só para poder dormir com um sorriso no rosto outra vez. Tem vezes em que eu nem durmo, pois suas mensagens picantes - como você mesmo diz - , me acendem sobremaneira. Nessa hora te xingo, espumo em minha própria raiva e desejo. Quero transformar em ação cada palavra escrita por você naquela mesma hora. Se eu sou a chatinha, você continua sendo o falcatrua...

Odeio ter que admitir - pois você também é um tanto quanto convencido - , mas suas caronas são as melhores. Adoro ver sua empolgação ao cantar e a forma como descansa sua mão em minha coxa. Dá um jeito de sempre me 'roubar' um brinco, um anel ou o que quer que seja só pra poder me ver de novo. E ainda diz que EU faço isso e de propósito. Os absurdos que você fala me fazem bem. O seu olhar, o seu beijo, o seu toque me fazem bem. É sempre bom estar ao seu lado.

No entanto, fico levemente chateada com a sua falta de sensibilidade. Você já tem 30 anos, mas às vezes age como se tivesse 18. Você tá braba?, ainda ousa me perguntar antes de eu ir embora. Imagina, é claro que não... Eu adoro ver o cara que eu fico se atracando com outra. É tão legal! Qualquer mulher que se preze teria ficado, no mínimo, chateada. Até a mais moderninha e descolada. É fato! A máxima de que "o que os olhos não vêem, o coração não sente" nunca se fez tão presente na minha vida como nesse dia. Não te vi ainda depois disso e também nem sei se quero. Só queria ver o que você faria se eu tivesse feito a mesma coisa com você... Dói. Pode esperar porque dói...

Babaca. Você é um grande e um verdadeiro babaca. Perdeu alguns vários pontos depois dessa brincadeira, mas isso não é o pior. O pior é que você continua sendo o meu babaca preferido. Pelo menos por enquanto.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Insônia

Ela nunca foi de dormir muito bem. É raro conseguir pregar os olhos assim que deita. Só consegue essa proeza quando volta de uma balada, às 6h. Aí dorme feito uma pedra. Mas como não vive de baladas... Às vezes, passam-se horas até que ela consiga sossegar. Deita na cama e leva seus problemas, preocupações, tormentos, esperanças e alegrias, todos juntos para uma orgia sem fim. Continua pensando na vida, em tudo e ansiosa com o dia seguinte. Com o que fazer no dia seguinte, com o trabalho do dia seguinte, com o amor do dia seguinte, com as pessoas do dia seguinte. Ela lamenta a situação afundando o travesseiro em seu rosto como forma de protesto! No relógio, o tempo não pára de correr. Pensa que são 15 minutos a menos pra dormir... 1 hora a menos e esse hábito de cronometrar o sono vai tornando a madrugada ainda mais desesperadora... Não consegue desligar. Simplesmente não consegue. Voltou a sofrer de insônia...

Enquanto parte do mundo está dormindo, sonhando, recuperando suas energias e disposição para (re)começar tudo outra vez - no dia seguinte - , ela não pára de se virar e revirar pelo colchão. Abaixa o edredon até o pé, pois sente calor. Três minutos depois - talvez mais - puxa de volta o edredon, pois sente frio. Tira a meia, estrala os dedos, recoloca a meia. Roça um pé no outro para justamente perder as meias de vez. Adora fazer isso sem a ajuda das mãos. Acende a luz pra checar se o seu mundo continua lá, tal qual ela o deixou. Bebe água, folheia o livro de cabeceira. Reza, pois acha que talvez tenha rezado de menos naquela noite. Vai ao banheiro, faz xixi. Olha-se no espelho e se assusta com o tamanho de suas olheiras. Amanhã elas vão estar bem piores, maiores e horrorosas. Já que está lá, passa o creme anti rugas e anti olheiras, pela segunda vez. Mal não há de fazer, pensa enquanto se lambuza inteira. Perambula pelo corredor, vai analisando os títulos da biblioteca de seu pai. Talvez essa seja a minha próxima leitura. Ainda está ligada. Se estivesse na rua, provavelmente estaria cansada e louca por sua cama. É do contra. Impressionante.

Imagina que dormir também tenha um ritual - de preparação - e que seguindo todos os passos ela alcance o sono profundo, despreocupado e totalmente reparador. Mas não é boa com passos: faz o que quer e pula o que não quer. Talvez esse seja o seu problema. Às vezes, ela se imagina a maior retardatária do planeta. A única que não conseguiu fazer o que precisava ser feito - no dia - e que pensa ser possível resolver - algo ou tudo - agora, na hora de dormir. Afinal o seu dia ainda não acabou e pra ela, só é outro dia depois que se dorme...

Continua pensando nos seus próximos passos. Já chorou a falta de algumas coisas e pessoas - pois o choro tem vindo em doses homeopáticas ultimamente -. Já pensou naquilo que deixou de fazer, naquilo que fez, ou que ainda pode fazer. Lembrou dos shorts que comprou pra usar na festa do dia anterior e acabou usando o velho mesmo. Pensa que precisa engordar, pois está definhando a cada dia e está ficando horrorosa. Sua luta é desigual, ela tem muito o que comer. Muito o que pensar. Agora são quase 4h da manhã. Pensa no open bar de amanhã. Pensa em como seria bom estar na praia, pois lá ela dorme e acorda ao som das ondas do mar... Lá, seu relógio biológico funciona perfeitamente. Faz cafuné no próprio cabelo. Costuma fazer rolinhos com as mechas entre os dedos. Passa suas mãos pelos braços até os pelinhos arrepiarem. Pensa em como queria que ele estivesse ali. Não estariam dormindo, é fato. Mas estariam se esforçando horrores para chegar a esse fim... Pega o fone de ouvido e liga o som. Música ajuda às vezes. Se forem tristes demais, ela chora. Se forem animadas demais, ela começa a batucar mãos e pés no colchão. Não, música definitivamente não vai ajudar hoje...

Pensa no brinco que perdeu semanas antes quando ele a agarrou no carro. Por que será que ainda não devolveu? Pensa em todos os sinônimos para o ato sexual: transar, trepar, foder, fornicar, comer, cruzar, fazer sexo, dar... Não adianta, já são quase 4h30 e ela mistura prazer e amenidades com assuntos sérios e complexos ... Tudo isso ela faz e pensa enquanto você ainda dorme... E quando você acorda, pronto para outro dia, ela continua lá. Da maneira que queria estar desde o ínicio da saga: dormindo...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tudo é você...

Lembro de você toda vez que me deparo com a sinceridade e a preocupação genuína daqueles que gostam de mim ou me amam;

Lembro de não te conhecer e viver um Amor Platônico digno de filme. Lembro de então te conhecer e perceber - ao longo do tempo - que a amizade era o nosso melhor caminho. Foi linda e incondicional.

Música - Dazaranha, Capital Inicial, Tihuana -, violão, céu azul, sol, pancadas de chuva... Alegria sincera, sorrisos despreocupados e piscina me lembram você. Me lembram o melhor de você.

Porres com cachaça Luis(a) Alves e ressacas homéricas também me lembram você. Visualizar você ainda bêbado, mergulhando na piscina e saindo com um puta calombo na testa me faz rir até hoje. "Não tô bem ainda, galera. Acho que vou subir", foi o que vc disse na ocasião. Todos rimos horrores do seu já aparente e imenso galo, além da ressaca. Justo você, que quase não as tinha. Não era de beber muito. Eu em compensação, já era um verdadeiro caso perdido naquela época.

Lembro de você toda vez que vou à praia e vejo o seu apartamento ocupado por uma família que não é a sua. Chapéu de caçador, óculos escuros, cabelos desengrenhados, bermudas de surfista - vermelhas ou azuis - também me lembram você. Seu corpo escultural (desculpe, nunca consegui evitar de te olhar e mais ainda de te espiar pela janela do meu quarto, no 1o andar)... Meninas na sua cola, sem dar trégua, também me lembram você e me irritavam absurdamente. Ciuminho besta, - eu sei - , pois tive você da melhor maneira que eu pude e me foi permitido.

Lembro de você toda vez que tenho dificuldades tecnológicas ou exatas, pois é muita novidade e números pra uma cabeça tão desprovida deste tipo de razão. Palavras cruzadas, esportes 'radicais' com a galera (mesmo eu sendo a pereba de qualquer time), caminhadas pela areia também me lembram você. Nossas conversas ao vivo - sobre música, livros, baladas e casinhos complicados - ou pelo icq também me fazem muita falta.

Lembro do dia em que me declarei, mas já priorizando nossa amizade. Precisava tirar aquilo do meu sistema e foi difícil! Depois de 5 minutos estávamos os dois rindo da situação. Se tem uma coisa da qual não me arrependo foi de um dia ter te contado que você foi o mundo pra mim. Isso me conforta, de alguma maneira... Você ficou sabendo e o 'segredo' de então não morreu comigo... Ele foi declarado e foi embora com você...

Lembro da culpa enorme que você sentiu quando seu pai morreu naquela BR assassina em função de um acidente 'causado por você'. Era doído ver o seu sofrimento, era difícil saber o que te falar. Você também já não se abria mais. Mas isso já não importa, pois 2 anos depois, foi sua vez de partir... Vítima de uma meningite maldita...

Lembro do quanto era bom estar ao seu lado e penso na saudade absurda que sinto de você e o seu ombro gigante (de lutador de jiu-jitsu) a me consolar. Eu não mudei muito, o que significa dizer, que hoje você ainda estaria rindo de todas as coisas absurdas que fiz ou deixei de fazer. As minhas coisas complicadas...

Tenho tantas lembranças suas e de um tempo que foi curto demais... Pra você. Hoje, vivo com uma saudade imensa daquela época. Saudade essa, que nunca tinha conseguido disfarçar quando vc ainda era vivo e tampouco consigo agora...
Te amo, Gaban. E é pra sempre...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Banho demorado

São 19h e ela teve mais um dia de trabalho estressante. Não quer ter que teminar trabalho nenhum em casa. Agora está no trânsito, sem rádio no carro e com um engarrafamento dos infernos para enfrentar. Como a cidade fica cinza e insuportável nessas horas, ela pensa ao olhar pela janela. As cores no sinaleiro mudam, entre o vermelho, amarelo e verde, mas o seu carro mal sai do lugar. Que desespero, ela grita. A única coisa que ela queria e precisava bem agora era de um bom banho. Um banho bem demorado...

Apoiou a cabeça no encosto do banco e começou a divagar. O sorriso apareceu ao lembrar que seus melhores banhos acontecem quando o namorado está junto para ajudá-la a relaxar. Só ele sabe a facilidade com que ela se deixa afetar pelos problemas e o quanto suas massagens e companhia se fazem necessárias nessas horas. Será que ele vai aparecer hoje? Não moram juntos, mas namoram há tanto tempo que é natural ele ter uma cópia da chave do seu apê. Enquanto o carro acelerava uns poucos metros e parava, ela ia pensando no tão esperado ritual do banho...

Geralmente, antes de entrar no box e enrolada pela toalha, ela sai em busca dele pela casa. Às vezes ele está assistindo à TV; outras está preparando o que comer, quando não, atacando a geladeira em busca de uma cerveja. Independente do que for, ela olha pra ele e com toda inocênca do mundo, pergunta: ajuda eu? A toalha cai, 'propositadamente sem querer', e pronto. Ele já está mais do que disposto a ajudá-la... Às vezes, ela apenas grita escandalosamente de dentro do banheiro e ele sai em disparada, achando que ela caiu, se machucou ou viu alguma barata nojenta e que não tem capacidade pra matar. Mas não, é sempre ela querendo a ajuda dele...

Lembra com sofreguidão do quanto é bom quando ele a agarra pela cintura e começa a empurrá-la devagar para debaixo do chuveiro. A água que cai, ainda fria, vai deixando toda a pele dela arrepiada. Ela treme de frio enquanto ele desliza as mãos pelo corpo dela para ajudá-la a se acostumar com a temperatura da água. É bom alternar jatos quentes e frios, pois faz bem para pele. Quando ele ajeita os cabelos dela para trás da orelha, ela o beija e fica assim: abraçada ao corpo dele... Deslizando as próprias mãos naquela pele já escorregadia e branquinha. Ele vai massageando o cabelo dela, ela fecha os olhos e quase delira com o toque ora suave, ora firme de suas mãos. Era como se todos os problemas do mundo fossem desaparecer da sua cabeça de vento...

Logo, a água vai tirando toda a espuma, ele vai ajudando com as mãos, passando-as pelo rosto dela, pelos ombros, por sua nuca... Sempre com a suavidade e firmeza nos toques. Os músculos antes retesados, começavam a relaxar ao simples toque daquelas mãos. Ela sorria de felicidade e ele ainda nem tinha começado a ensaboar o seu corpo tão pequeno e cansado... Sentir o sabonete deslizar pelo seu colo, seios, sua barriga, para logo se perder em suas costas é simplesmente arrebatador. E aí ele vai descendo pelo bumbum, por suas coxas, panturrilhas, pés, até começar a subir de novo... Desta vez, pela frente... Ela aproveitava e esfregava o corpo já ensaboado no dele e seguia a seqüência que ele mesmo costumava fazer... No fim, ficavam os dois abraçados, bailando, embaixo do chuveiro enquanto a água ia levando embora a sujeira de mais um dia estafante de trabalho...

Entre o vermelho, amarelo e verde já ofuscantes, a esperança de que ele esteja lá para ajudá-la...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

26:11

Daqui a um mês é meu aniversário. É mais um ano que passa e eu não sei ao certo o que comemorar. Com 27 anos eu já me via casada, com uma casinha linda, mãe de no mínimo 2 filhos - não necessariamente um casal - e com um trabalho que me rendesse, antes de tudo, satisfação pessoal. Claro que uma boa graninha pra poder viver e pagar as contas, além de ususfruir de tooodos os meus luxos (que na verdade nem são tantos assim) seria ótimo. Essa era a vida que eu esperava e queria ter quando eu tinha uns 15 anos...

Os 27 anos estão chegando e, no entanto, estão vindo sem tooodo o resto. Não sou casada, não tenho filhos, não tenho emprego, muito menos o dinheiro pra poder (sobre)viver. Pra você ter uma idéia, até manicure virou luxo e acho que é uma boa desculpa pra começar a roer as unhas. De qualquer forma, acho que é hora de mentalizar a minha vida daqui uns 10 anos (que é tempo considerável pra eu mexer a minha bundinha e conseguir ao menos uma das coisas que eu sempre quis). Vou tentar ser a mais realista possível, dentro da minha realidade já um tanto fracassada... Relaxa, esse não é mais um post deprê, eu até acho graça quando falo da minha vida!

Quanto a casar, não estou nem perto. Me contentaria em apenas 'morar junto', mas me falta o namorado corajoso que se sujeite a aturar os meus quase 27 anos de manias, vícios, frescuras e chatices (algumas sem fundamento ou explicação, eu admito). Cortemos o marido pq é muito provável que ele não apareça mesmo. Minha vida pessoal e afetiva vai se resumir a casinhos complicados e relâmpagos - aquele tipo que eu atualmente odeio - . De falta de sexo é que eu não vou morrer, I hope!

Os filhos eu posso ter, mas vou ter que me contentar com um - como iria sustentar mais de um 'bichinho' se nem a mãe consegue se sustentar direito? Ter um fillho hoje em dia já é caro, imagine mais de um! A questão é se vou ter por método normal (o mais interessante e barato), inseminação artificial, fertilização in vitro, e etc e tal. Ainda preciso me atualizar sobre os métodos - eu estou meio por fora. E também vai uma boa grana nesse processo...

O trabalho, bom, não estou com saco pra pensar no trabalho no momento. É uma questão puramente de grana e eu não sou materialista! Não é pecado querer ter dinheiro pra poder fazer as coisas que se quer. Mas é provável que algo surja, não precisa nem ser na minha área. Dificilmente eu fique no mesmo lugar por longos 10 anos já que rotina é algo que eu tenho evitado criar... Uma hora ou outra, me estressa, me cansa, me irrita e eu preciso mudar...sempre. Meus planos para os 37? Bom, nem tudo parece perdido já que o baby e o trabalho eu consigo antes deste novo prazo de 10 anos vencer...

Mas voltando ao presente: lógico que eu agradeço e comemoro todo dia o fato de ter saúde, uma família que me ama e amigos que me apóiam. As pessoas com as quais convivo fazem toda a diferença pra mim. São o meu mundo! Quando falo que não tenho muito o que comemorar, quero dizer que não tenho nada, absolutamente NADA das coisas que planejei e quis - ainda quero - pra MIM! E isso é frustrante porque são coisas que não dependem de nada e nem ninguém. Não posso simplesmente ganhar um marido de presente ou uma passagem de ida pra Índia! São 'presentes' que dependem única e exclusivamente da Letícia. Não sei como deixei as coisas chegarem a esse ponto, mas chegar aos meus 27 anos sem perspectiva e totalmente fodida realmente não fazia parte dos meus planos... C'est la vie!

Anyway, que o dia 26 de novembro chegue logo e leve embora todo esse inferno astral maldito! Todas as minhas expectativas frustradas, os meus desejos não realizados e os meus planos antigos. No dia 27, quando eu acordar, eu comemoro... Ainda vai dar tempo de ser e ter aquilo que eu mais quero...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Palhaços

Existem para serem engraçados, mas não acho que o sejam sempre. Geralmente não vejo graça em suas palhaçadas e brincadeiras. Talvez eu não tenha o senso de humor 'apropriado' e se tiver ele deve ser péssimo. No mínimo, peculiar. Tudo em um palhaço é diferente. Suas roupas são extravagantes quando não, ridículas: coloridas e descombinantes, sapatos enormes, perucas, além do nariz vermelho dão um toque especial. Independentemente da roupagem, da cara pintada - aquele sorriso que ultrapassa os limites da boca - ele, o palhaço, é alguém que aparece e está ali pra te fazer rir. Ou pelo menos arrancar um sorriso, mesmo que ele seja amarelo, desdentado ou forçado. Não tenho nada contra palhaços, só deparei-me com uma curiosidade sobre-humana de saber o que diabos eles escondem. Ou melhor, em como escondem. Ninguém esconde algo ou nada tão bem quanto um palhaço... Talvez a maquiagem esdrúxula ajude, ou quem sabe os palhaços tenham uma inteligência emocional acima da média e, portanto, possam enganar e esconder seus problemas com facilidade, eu não sei...

Provavelmente eu tenha achado graça deles enquanto menina. Lembro de ter ido a circos, mas não me lembro dos palhaços. Talvez eu até tenha medo deles. Afinal, palhaços também podem ser assustadores. Depende de quem interpreta e dá vida ao palhaço, da sensibilidade na hora de brincar e fazer troça, sei lá. Alguns deles me assustam porque me parecem falsos: esbanjam uma alegria que não sentem e também escondem uma tristeza que dói na alma. Essa idéia de ficar disfarçando o que se sente enquanto tenta fazer outro rir é cruel. Por que os palhaços também devem querer chorar vez ou outra no meio do seu expediente. Os outros mortais podem se dar a esse luxo quando estão mal. É só dar uma corridinha até o banheiro, respirar fundo umas 20x, lavar o rosto e pronto. Os palhaços não. Eles não podem chorar pra não borrar a maquiagem, disfarçam e precisam achar graça pra fazer com que outros possam rir. Acho que os palhaços me intrigam tanto porque eles conseguem justamente isso: disfarçar. Parece algo simples, mas eu não sei e não consigo... Acho que o segredo dos palhaços está em abstrair. Só pode...

Sou fã desses palhaços e respeito o trabalho que desenvolvem à duras penas. Mas também existem aqueles palhaços que estão entre nós. Estes não usam maquiagem, nem peruca, nem nariz vermelho ou sapato quilométrico. Ou seja, pra reconhecer um palhaço desses já é bem mais difícil. É capaz de vc cruzar um desses na rua e nem saber. É capaz de você conviver com um e ainda não ter se dado conta. O problema destes palhaços é que eles não são engraçados. O problema destes palhaços é que eles existem pra fazer os outros de palhaço. Eles existem pra achar graça da sua vida...

O pior palhaço é justamente aquele que não quer ser, pois todo mundo já foi um, um dia. É duro quando você olha pro outro e se reconhece um. É uma merda quando te olham e você se dá conta de que é uma. Só que ser esse tipo de palhaço não é legal. Ainda mais quando riem da sua cara: linda e formosa, sem maquiagem nenhuma pra disfarçar.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Don't give up on me...

Pelo menos não ainda. É o que eu tenho vontade de te dizer. Aceitaria a sua desistência se você tivesse me olhado nos olhos e percebido: realmente aí não há nada que me faça querer ficar. E por mais que a gente tenha tentado, a nossa vez ainda não chegou. Você continua sem me ver...

Tenho vindo aqui, todas as noites, mas não consigo escrever. Os pensamentos, misturados aos sentimentos dão um nó. É um verdadeiro cabo de guerra. Graças a você, é uma briga igual - já que há mais de ano tenho deixado a minha emoção tomar conta. Eu que sempre tinha sido tão racional antes, me perdi inteira quando cruzei você. Hoje eu não sei o que eu sou, pois você faz parte daquilo que eu tenho de melhor e pior. E você sumiu, eu sumi. Não me reconheço sem você e isso dói porque é algo que eu não tenho controle. Pelo menos não ainda... Não me conformei e continuo sem entender certas coisas. Não fosse o meu orgulho besta, nem o seu, a gente poderia estar falando. Fazendo aquilo que a gente faz melhor e a única coisa que nos resta, que nos aproxima... Não sei dizer que força sobrenatural é essa que me impede de te alcançar. Só que essa maldita incomoda e incomoda muito... Tudo muda quando ela surge, tudo desanda de uma certa maneira, todo tipo de medo se instala e todo choro tem vazão e razão de ser. Acho que o negócio é comigo, afinal de contas você já passou por isso outras vezes e deram certo. É comigo que a coisa não anda nem desanda. Só queria saber o porquê... E pensar que a gente esteve a minutos de distância e não os malditos quilômetros de todo dia...

Talvez eu ainda tenha expectativas enormes com relação a você. Não imaginava que um sorriso seu, um abraço, um beijo, um toque, uma palavra ou uma lágrima fizessem parte do rol das coisas que eu não deveria ansiar tão exageradamente. Eu teria pago tudo, o pouco que eu tenho pra ter visto e vivenciado isso - e muito mais - em você e com você... Mas eu não consigo. É uma vontade que eu não consigo realizar... Se ao menos você pudesse me ajudar, mas como? Você não pode me ver, não pode me tocar, não pode me abraçar forte e me pegar no colo pra me jurar que tudo vai ficar bem... O quanto disso será nossa culpa? Afinal de contas o porquê diabos Ele faria a gente se encontrar se não conseguimos, não podemos ou não temos a menor possibilidade de ficarmos juntos? Não é justo...

Não me deixa ainda...Fica comigo? Me ajuda a dormir, pelo menos mais uma vez? Antes que o dia... A noite acabe e você finalmente se esqueça... Me esqueça mais uma vez...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A outra...

O corpete que ela está usando é lindo. Novinho e vermelho sangue bem do jeito que ele gosta. A calcinha é micro e até dá uma levantada naquele bumbum que ela quase não tem. Ela se olha no espelho e até que gosta do que vê. Geralmente ela só sabe reclamar do próprio corpo, mas ele faz com que ela enxergue o contrário em dois leves toques...

Está a sua espera já faz mais de hora. Ele quase nunca se atrasa. Sai do trabalho e vai direto pra lá. Eles não têm muito tempo. Umas 3 horas no máximo e com sorte. Ela odeia esse muquifo onde está, mas já não imagina suas quintas-feiras longe do lugar. Vazio e silencioso, ele dá medo. Mas quando 'cheio', com as roupas de ambos espalhadas pelos cantos, com seus corpos suados e em movimento constante, com o alcóol inebriante espalhado pelas mesinhas de cabeceira, além dos sons e gemidos destes mesmos corpos ardentes e que se desejam mais que tudo, o muquifo se enche de vida. A vida que é a deles...

Já faz 2 anos que estão saindo. São meros amantes. Se for pra seguir consensos, ele é mais um grande filho da puta e ela é apenas mais uma outra. Menos sério que isso, não tem como ficar. Ela não sabe os podres do casamento dele e prefere assim. É mais fácil poder agir e ser a outra sem estar a par de uma vida que não a pertence. Não pode fazer nada além de oferecer seu corpo e sua boca pra ele sem dó e com muito gosto. Apesar de ele ter uma mulher linda, cheia de saúde e um filho de 3 anos, ela sabe que ele sofre. É apenas um sofrimento diferente do dela...

Maldita a hora em que se conheceram. Ela estava sozinha tomando um café numa confeitaria movimentada, olhando a chuva lá fora quando ele parou buscando abrigo bem em sua frente. Ele, todo molhado, querendo saber o que acontecia lá dentro avistou-a e cruzou seus braços, tremendo como se dissesse: tá frio aqui! Ela sorriu e ergueu sua xícara de café quente, como se dissesse: um café ajudaria a esquentar! Ele entrou, tomou um café, conversaram - ela tinha ficado fascinada pela personalidade dele - e sairam rumo ao motel em menos de 1 hora. Rápido assim...


Agora estava sentada, tomando sua taça de vinho e relembrando os momentos que a colocavam bem ali: à espera pelo homem amado. O álcool ajudava-a pensar e a criar coragem para as coisas que não faria ou diria em sua sã consciência. E sim, ela o amava, independentemente do alcóol. Ela sabe que o sofrimento dele está em viver uma vida que ele nunca quis, mas aceitou por circunstâncias maiores do que ele. O sofrimento dela está em saber que eles se cruzaram tarde e que ela nunca será a única na vida dele, muito menos a oficial. Aquela que é apresentada nos jantares ou a que todos lembram quando o assunto é ele. Ela é uma artista e se ele fosse um pintor, ela seria o pincel e o pedaço da mente dele que dão graça aquele quadro cinza que sua mão carrancuda e pesada insiste em rabiscar. As nuanças que ela pinta, aqui e lá, não são exageradas, mas já enchem o quadro dele de cor, de paixão, de vida. Não queria ser um segredo, mas é isso que ela é. Não queria ser relegada a segundo ou terceiro plano, mas nem nestes, ela está. É mais uma, mais uma que sofre, que ama e que sabe que a vida que ela quer não é aquela que ela tem...

De súbito, tacou sua taça quase cheia contra a parede. O vinho escorria, fugindo de uma mancha hedionda. Os respingos pareciam lágrimas, lágrimas vermelhas, como que pra simbolizar aquele choro que vem da alma. Cansou de esperar. Ele nem ao menos ligou. E ela resolveu que mandaria ele se foder, caso ele desse algum tipo de notícia. Seu corpete e calcinha vermelha não passariam incólumes por aquela noite. Vestiu sua roupa, pegou a garrafa de vinho e bateu a porta atrás de si. Trancou-a como se nunca mais pretendesse voltar. Sabia que a reviravolta era momentânea, mas já que ela era somente a outra na vida de alguém que ao menos aproveitasse um outro. Um outro semelhante à ela...

sábado, 13 de setembro de 2008

Quero lutar com você...

25 anos de casados. Foi o que seus pais comemoraram ontem. Hoje estão a caminho da Europa onde pretendem descansar, (re) visitar e degustar os mais elaborados pratos e vinhos de todo o Mediterrâneo. Eles ficarão longe por 1 mês. 30 longos dias...

A tarefa mais chata que ela tem para fazer, enquanto seus pais estão fora é levar seu irmãozinho de 5 anos às aulas de judô. Uma hora do seu dia perdida assim, só para observar o irmão. Duas vezes por semana... O que diabos eu vou ficar fazendo enquanto essas crianças se matam em plena aula?

No primeiro dia levou um livro. Tão logo bateu os olhos no professor sabia que não leria nada naquele lugar. Ele era alto, cabelo raspadinho, pele morena e de olhos castanhos. O corpo só podia ser escultural, com músculos bem definidos. Ela não podia afirmar isso, pois o quimono escondia todo o objeto de desejo. Aquele que ela sentiu brotar num simples piscar de olhos...

Todas as cadeiras já estavam ocupadas por mães, babás e irmãs. Resolveu sentar no chão - como os índios - porque ficar de pé, aquela altura, era quase impossível. A voz dele era tão grave e cada comando para os pequenos parecia ser dirigido à ela. Todo mundo correndo, ele dizia. Ela pensava, só se você vier atrás de mim e me agarrar com tudo. Agora todo mundo fazendo flexão! Só se eu estiver embaixo de você e te prendendo com força entre as minhas pernas... Agora um pouco de abdominal, pessoal! Só se eu estiver sobre você requebrando sem parar... Ficou ruborizada com seus próprios pensamentos. O que significava dizer que estava ficando com tesão...

Enquanto ele falava, ela já se imaginava numa aula particular com o 'mestre'. Totalmente submissa, mas não sem antes ter lutado e cravado unhas e dentes... Ainda no aquecimento, os alunos escalavam o professor rumo ao topo. Encostar a mão no teto era o objetivo. Ela começou a sentir calor, muito... Os pequenos subiam, colocavam os pezinhos em suas coxas, se agarrando em seu pescoço e montando em suas costas. Estava passando mal só de imaginar o que ele não faria com ela e aquela força animal reprimida para não machucar as crianças. Como ela queria ser violentada por aquelas mãos. Sentir aqueles dedos compridos deslizando sobre o seu corpo, apertando sua carne... Olhou ao redor e viu mães conversando, babás folheando revistas de fofocas e relaxou... Estava longe de ser o centro das atenções, mesmo explodindo de tanto desejo.

Queria descer a calça, arrancar a própria calcinha e acabar com aquela urgência pelo corpo do professor, mas não podia. À essa altura, ele já estava direcionando os alunos para a luta, corpo a corpo. Olhar um brutamontes daquele "lutando" com uma criança quase indefesa atiçou ainda mais sua libido. Meu Deus, como queria ser eu aí, nesse tatame e te desafiando sem parar! Estava suando e sua respiração acelerada, entrecortada. Precisava se tocar, desesperadamente! Estava de tênis, com as pernas cruzadas. Já que não posso usar a mão, vou tentar com o pé, pensou. E começou a roçar o seu calcanhar em seu sexo, bem devagar... Enquanto movia o pé pra frente e pra trás, o calcanhar roçava mais e mais forte... Estava dando certo... Apoiou suas mãos às costas e arqueou o corpo de forma que o pé fosse mais pra baixo. Ah que perfeito, agora vou perder o controle mesmo! Começou a remexer o quadril de maneira quase que imperceptível e se deixou embalar por ondas 'contidas' de prazer...

Não sabia se estava sendo observada, não sabia se seus gemidos foram baixos o suficiente para não serem ouvidos, não sabia de mais nada... De olhos fechados, alheia ao mundo e a situação, pôde atender a alguns pedidos e anseios do seu próprio corpo. Não vê a hora de voltar para perto daquele tatame para mais uma 'aula'. Ao observar as crianças e seus movimentos vai aprendendo como lutar. Ela ainda há de derrubar e lutar com aquele professor...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

... É agora

Ele chegou. Dá apenas 3 passos e pára logo na entrada. Ela desliga a torneira, mas tem medo de fitá-lo. Compreendeu, enquanto lavava a louça, que o que menos queria era brigar. Respira fundo e vira com o seu melhor olhar. Aquele que diz: por favor, estou emocionalmente em frangalhos. Não quero brigar agora. Estou cansada. Podemos ir deitar?

Tarde demais. Por que o olhar que ela cruza é aquele possesso e que chama pra briga: vamos lá! O que foi que eu fiz ou deixei de fazer dessa vez? Vai, joga logo na minha cara! Vamos acabar logo com essa palhaçada... Ele, no entanto, não verbaliza esse seu desejo. Ela muito menos. Ele não sabe dizer o que ela está pensando naquele momento. Ela muito menos. Ninguém quer dar o primeiro passo, pois este é o mais incômodo e os dois são orgulhosos ao extremo.

Ela senta no balcão onde minutos antes tinha jantado sozinha. Dá um meio sorriso, sem jeito, olhando para o chão e em seguida pra ele, como quem diz: você é um besta, eu odeio várias coisas que você faz ou deixa de fazer, mas isso não muda nada: eu sou sua e te amo apesar de toda a sua teimosia e indiferença. Ele vai se aproximando e pensando nunca tenho certeza do que ela quer dizer ou pensa. É tão impulsiva, intensa e imprevísivel que eu não consigo ficar longe. Me surpreende toda vez. Amo você sua bestona e por mais que você duvide várias vezes, sou apenas seu. Ele chega bem perto, já esboçando um leve sorriso. Pára bem em frente a sua mulher. Os dois se olham. Ela já fecha um pouco a cara como que dizendo: você sabe muito bem do que se trata e agora fica aí se fazendo de gostosão pra cima de mim como que pra evitar tudo isso. Ele mantêm o 'quase sorriso' como quem diz: eu sabia. Você ainda teima em enxergar coisa onde não tem! Vive querendo me arranjar outra mulher quando você é a única que eu tenho, quero e preciso. Dá pra entender?

Ela fica sem jeito. Não sabe se acredita ou se aceita o fato de que é uma besta ciumenta. Puxa-o para si, envolve-o com seus braços e pensa em dizer: não me deixe nunca. Quero seu abraço, seu beijo e acordar ao seu lado pra sempre... No matter what! Ele a pega no colo e ela deita a cabeça em seu ombro. A caminho do quarto ele pensa em dizer: eu não vou a lugar nenhum... Sem você! O meu lugar é ao seu lado...

Ele a coloca na cama e deita junto dela. Ela finalmente diz eu te amo, já sem medo ou receio algum. Ele sorri, beija sua testa e diz eu tb. Sim, eles brigaram. As diferenças, as palavras não ditas, foram reveladas em pensamento. O amor tem dessas coisas e os dois entenderam. Hoje a briga foi tranquila e, pela primeira vez, silenciosa... Nunca foi tão fácil pensar em fazer as pazes. O silêncio que se fez presente em todo momento agora abrirá alas para os gemidos de prazer...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O momento apropriado...

Hoje é o dia...
Ela está com medo. Muito medo do que vai acontecer nessa noite. Ele ainda não chegou em casa e a espera por ele será tensa. Está pensando em fritar um ovo. Pega-o na geladeira e o óleo no armário suspenso, perto do fogão. Fica tranquila. Converse com ele, não faça acusações em função dos seus malditos medos. Ele estava pra chegar e uma briga iria acontecer. Ele mesmo já estava ciente disso, pois o dia já havia amanhecido diferente, sem cor, sem diálogo... Já não era mais possível adiar o inevitável: mais um bate-boca infernal. Fato a ser consumado dali a poucas horas, se bobear, em alguns minutos...

Seu estômago embrulhava: de fome e de nervosismo. Ele sempre era o responsável pela refeição de ambos, já que ela mal sabia o que fazer numa cozinha. Ele era praticamente um chef: cozinhava e inventava pratos como ninguém. Um fio de óleo depois e ela imaginava o que ele poderia fazer pra saciar a fome que ela costumava sentir depois de um dia de trabalho pesado. Qual terá sido a última vez que ele fez aquele penne ao molho de melão e presunto de Parma maravilhoso? Na última visita de seus pais? Ou em alguma comemoração? Desajeitadamente, jogou o ovo (no óleo já borbulhante) e acabou por queimar a mão. Merda! Presta atenção no que faz, mulher! Ela mexia com uma mão, enquanto sua língua aliviava a queimadura da outra. Nada dele chegar...

Desligou o fogão, pôs a frigideira ao lado e ligou a torneira pra esfriar a mão queimada e melecada. Ele não vai me entender. Quase nunca entende. Pelo menos não ultimamente. Só sabe jogar meus medos e inseguranças na minha cara. Pegou a frigideira, a colher de pau e sentou no balcão da cozinha a esperá-lo. Ele odeia que eu coma qualquer coisa diretamente da panela, mas quer saber? Ele não está aqui mesmo e vamos brigar de qualquer forma, então...what the hell!

Entre uma colherada e outra, relembrava tudo o que de bom tinha acontecido em suas vidas. Não eram casados, mas era como se fossem. Estavam juntos há quase 5 anos e dividir o mesmo teto parecia algo natural. Fazia apenas um ano que compartilhavam deste mesmo espaço físico. Um loft amplo, bem localizado e com a cara dos dois: cheio das modernidades tecnológicas dele aliado às quinquilharias rústicas dela. Tinham diferenças gritantes, mas no geral, se davam muito bem.

Se ao menos ele tranquilizasse os meus medos e aflições, como ele fazia antigamente, mas ele não tem tempo pra mais nada! Parece que não se importa comigo, nem com ele, nem com o que é nosso. Na última briga não conseguimos nem fazer as pazes direito, pelo amor de Deus! As pazes era feitas na cama. Ou a caminho dela. Sempre. Ela sempre conseguia fuzilá-lo com os olhos e as palavras duras, enquanto ele rebatia furiosamente suas acusações infundadas - dignas de uma louca. Um sempre queria falar mais alto que o outro e a medida que se xingavam, soltavam injúrias já sem (ou com) sentido, iam se aproximando. Cada vez mais. Ela ficava louca, pois sabia que era provocação dele e ela não ia resistir. Pouco importavam os móveis novos ou as roupas (des)alinhadas, pois não tinham nada de muito valor... Sempre se atracavam no meio da sala ou no balcão da cozinha ou na mesa de jantar, no chão, não importava. O momento de fazer as pazes é que fazia toda discussão besta valer a pena...

Já tinha terminado seu mísero jantar e estava lavando a louça. Quase meia hora depois de toda sua angústia e suas lembranças, ouve um barulho na fechadura. A porta pesada e de arrastar se abre. Ele chegou. (continua...)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Controle: ele acha que tem!

Ele é um cara bacana e divertido. Qualquer um enxerga isso. Um pouco insano, mas até isso já acaba sendo normal. É novo, quase 30 anos, mas já consegue vislumbrar no horizonte todo o rumo da sua vida. Nem todos os caras de 30 anos podem dar-se a esse luxo. Em seu trabalho é reconhecido e admirado. Ganha muito bem e dificuldade não faz parte do seu vocabulário. Acredita ser o 'dono da situação' e que tudo vai correr conforme a música que ele escolher. Enquanto seus desejos e vontades mais secretos não acontecem, ele vai vivendo muito bem com aquilo que tem. Não se preocupa com o tempo ou a falta dele. Não empenha-se em trazer para o presente parte daquilo que almeja para o futuro. Eu diria que ele é muito seguro num mundo entupido de incertezas. Ele sabe tudo o que quer. Pelo menos é o que ele diz. Ele engana a si mesmo, conseqüentemente, engana a ela também...

Os relacionamentos - que costumam governar o mundo - é que, às vezes, fodem com tudo. Tem muitos amigos, talvez os melhores. Tem idéia em quem pode confiar e em quem deve ficar de olho. Sua namorada é motivo de orgulho pessoal. Sabe que ela é, possivelmente, cobiçada por todos eles: amigos, inimigos e se bobear, até pelas amigas. É linda, simpática, batalhadora, além de uma legítima gostosa. Estão pensando em morar juntos, mas ele tem certeza quase absoluta de que não a ama. Está com ela por comodidade. Por puro egoísmo e medo de ficar sozinho. A carência é uma merda e homem nenhum consegue suportar isso. É mais fácil estar sofrendo nos braços de alguém... E a escolhida foi ela...

Ela sente-se amada. Ela acredita na união dos dois. Tem a certeza de que encontrou o amor da sua vida. Eles representam aquele casalzinho modelo que quase todo mundo inveja, mas ninguém admite. Ela faz das tripas ao coração por ele. Defende-o com unhas e dentes. Tem um puta orgulho daquele que acredita ser o SEU homem... Dúvidas com relação ao futuro? Ela até tem, mas são banais. Já as poucas dúvidas dele são aquelas essenciais. Aquelas que exigem respostas definidas e que norteiam a nossa vida – em direção ao sucesso ou ao fracasso - no que quer que seja.

Será que ele é tão injusto e cruel a ponto de levar algo tão sério adiante, pra depois desistir? Ele não parece ser um canalha ou um filho da puta insensível. Talvez ele apenas não saiba como dizer um lindo e sonoro, não! Do tipo: não, você não é a mulher da minha vida! Ou quem sabe ele realmente acredite e queira dar uma chance a esse relacionamento cômodo. Talvez seja uma boa hora pra ele abrir os olhos porque domínio de situação, definitivamente, ele não tem. Ele apenas acredita estar imune aos fatores e acontecimentos externos. Aqueles que independem da nossa vontade e que regem o mundo (para o bem ou para o mal). Como o amor, por exemplo. Aquele que ele ainda nem chegou a viver e corre o sério risco de um dia encontrar...

Controle, ele acha que tem. Infelizmente, ele não se deu conta de que este possível controle dele ainda vai ser o total descontrole de alguém. Provavelmente, o dela...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Se ele morresse amanhã...

Mais uma sexta-feira. Eram 21h e ele ainda estava sem planos para o final de semana. Também estava sem saco para ter que pensar, pesar prós e contras (dos locais e respectivas companhias), efetivamente sair e misturar-se com outros seres tão solitários e esquecidos quanto ele. Merda. Vou ficar bem aqui no meu canto, onde me sinto gente e não mais um animal em busca de algo supérfluo. Vou ficar em casa mesmo...

Lembrou que aquela sua torre com mais de 200 CDs precisava ser reorganizada. Era um bom dia pra isso. Havia muito lixo musical, de uma época que já havia passado e não voltaria mais: nem no tempo, nem pela falta de paciência para recordar esse seu 'passado musical'. Esfregava aquele paninho fofo e laranja pra tirar o pó das caixinhas e recolocar todos os CDS em ordem alfabética, por gêneros. Era um tanto quanto metódico. Em outras palavras (e para os outros), era um tanto quanto chato.

Lá pelas tantas, cansou-se. Pegou uma garrafa de vinho em sua mini adega e partiu em direção ao sofá. Enquanto bebia (no gargalo mesmo) e inebriava sua mente, pensou: e se eu morresse amanhã? Não foi difícil pensar em sua epígrafe, ou melhor dizendo, nas palavras que selariam sua vida para sempre. Ele definiu-se assim:

Morreu tendo feito muito menos do que desejou. Teve tempo, quase 40 anos, pra fazer tudo aquilo que quis e sonhou, mas não teve coragem o suficiente pra fazer. Trabalhou muito, conseguiu guardar um tanto e em função disso, aproveitou muito pouco. Viu o tempo passar e não conseguiu (com seus atos e vontades) fazê-lo parar. Não investiu em seu próprio tempo, não investiu em sua própria vida... Foi uma criança feliz, quase sem amigos e retraída. Conseguiu manter-se assim. Foi um adolescente rebelde, daqueles sem causa. O 'cool' era dar uma de malvadão, mesmo sem se saber o porquê. Seguiu algumas modinhas e tendências. Foi levemente influenciado: por companhias, por drogas (i)lícitas, por gostos que não eram seus e crenças que não lhe condiziam. Trepou muito, mas amor fez pouco... E também fez pouco caso do amor. Foi amado pelos pais, familiares e os amigos que conseguiu manter e contar nos dedos das mãos; mas não soube o que era ser amado por qualquer pessoa fora do seu círculo de convivência. Foi um estranho em seu próprio ninho. Não casou, mas quis. Não teve filhos, mas sonhou com 3. Conheceu belas mulheres, e no entanto, teve vergonha de algumas. Preocupou-se mais com a quantidade delas e ficou sem nenhuma. Acreditou ter amado, pelo menos uma vez, mas como não sentiu-se amado, pulou fora. Sua vida pôde ser resumida em inícios, desistências, sobrevivência e o fim, próximo. Em seus últimos dias, entrou em crise, uma espécie de depressão profunda. Ele havia percebido que não tinha vivido a vida, somente sobrevivido à ela... Não tinha nada, nem ninguém e estava prestes a terminar seus dias. Seu maior medo, o de morrer sozinho, finalmente acontecia...

Não conseguiu continuar. Deu um basta em seus pensamentos. Não queria que sua vida realmente terminasse assim. Depois de quase 15 anos sem uma única palavra voltada a Deus, ele se ajoelhou e rezou: Ó Deus, não permita que eu morra amanhã, pois não encontro-me preparado... Só agora ele havia conseguido parar o tempo. Só agora ele tinha se dado conta de que apesar da sua vida ter sido um quase nada até ali, ela não precisaria terminar assim: como nada. Só agora ele percebeu que quase não tem mais tempo para conquistar algumas das coisas que mais quis... Ó Deus, dê a este homem, aquilo que ele mais precisa e quer: um pouco mais de tempo...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cama de casal

Ela já estava cansada da sua velha cama de solteiro. Estava numa fase decisiva em sua vida. Depois de 10 anos acordando às 5h, tinha sido promovida. Iria começar a entrar no serviço às 13h. Finalmente iria poder dormir e acordar tarde, mas a cama já não corresponderia a essa nova fase. Mais liberdade para braços e pernas. Espreguiçadas nada contidas, resultado de um sono tranqüilo – ela esperava! Queria uma cama maior, bem maior. Com 33 anos na cara, já estava mais do que na hora de ela se dar uma de presente. Uma de casal, ela considerou.

Ela precisa de espaço. Muito. Chega de virar para o lado e quase cair. Chega de virar para o lado e realmente cair. Não tem mais idade e muito menos lugar no corpo para acrescentar outro roxão indecente, fruto de outra noite mal dormida. Já não tem nem mais tamanho para se equilibrar numa cama estreita. Quer espaço e quem sabe, num dia frio, compartilhar uma das metades da cama com o seu affair, o novo estagiário. Uma cama de casal, ela decidiu. Já na loja, foi bombardeada por perguntas:

- A Sra. tem alguma preferência? Cama de casal em madeira ou um Box? Queen ou King size? Temos vários modelos...

O vendedor continuava a falar e a explicar, mas ela já não prestava atenção. Não se conformava com aquele 'Sra'. Não tá vendo que eu não tenho aliança? A única preferência que eu tenho é que você pare de me chamar de senhora, pois sou solteira e só quero uma maldita cama de casal. Qual o problema? Não interessa se é Box, madeira, Queen ou King size! Interrompeu o vendedor e disse:

- Eu não sou casada, mas queria uma cama simples, grande e barata. Tem alguma assim? Só isso. Ah, e o colchão, lógico. Porra, essas coisas deveriam ser mais simples e menos embaraçosas, pensou antes de finalmente escolher.

A cama seria entregue dali a dois dias, mas ela não quis esperar. Levou a cama desmontada mesmo e o colchão pegaria no dia seguinte. Estava ansiosa demais, tinha limpado todo seu quarto só pra conseguir fazer com que a cama entrasse. Tudo bem que seus pais (sim, ela ainda morava com eles) iriam questionar essa mudança radical, afinal de contas, ela não é casada. Mas ela estava disposta a explicar aos dois, pacientemente, o porquê aquela cama maior era importante e o que ela representava em sua vida. É uma nova vida!

Passou horas, horas e horas tentando entender os malditos desenhos das instruções. Não conseguia juntar as ripas pesadas, não sabia diferenciar uma ferramenta da outra, nem o que deveria usar para parafusar os cantos. Queria tanto aquela cama que acabou não dando conta do recado. Não podia pedir ao pai, pois ele já passava dos 70 anos e tinha um problema na coluna. Estava exausta e já passava das 2h. Arrependeu-se amargamente de não ter comprado o Box, por não ter ouvido o vendedor. No dia da grande mudança em sua vida, depois de tanta expectativa, teve que se contentar em dormir no seu velho colchão de solteiro, no chão, sem cama nova, muito menos a velha.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sympathy for the devil?

Bom, eu não tenho nenhuma. Agora, o que eu fiz pra ele viver no meu encalço, eu não sei dizer. Nas minhas loucuras mais desvairadas, ele está lá: achando graça e rindo às minhas custas. Quando tenho vontade de dar só uma nadadinha no poço, ele insiste em me cansar pra tentar me afogar, puxando um dos meus pés bem pro fundo. Quando eu bebo e faço cagada (nunca as duas coisas juntas, óbvio), ele insiste pra que eu me lembre da cagada, todo santo dia. No mais, quer fazer com que eu sinta culpa, muita culpa. Por mim, por ele, pelo mundo, por tudo. Toda vez! É um ser nojento, mesquinho e fdp! De mim, consegue quase tudo o que quer. Maldito!

Sim, ele sabe que malditos são os meus vícios. Aqueles que ele coloca no meu caminho pra me derrubar. Aqueles que eu não consigo largar e alguns eu nem quero mesmo. Foda-se! Isso mesmo, devil (you bastard), stay here with me nessa minha hora perdida. Tô aqui, tentando te encarar, bebendo, embriagando a minha mente, queimando a minha garganta, enganando a minha fome só pra te mostrar que você pode me perseguir à vontade e até o fim do mundo. I don’t fucking care! Isso mesmo, eu me rendo aos meus vícios, todos eles! Manda mais, inventa mais, me derruba mais, me fode mais a vida! Sim, eu aceito de bom grado dar uma voltinha com você pelo seu inferno. Só não espere que eu fique aí, porque eu volto pra cá (não importa o quanto seja tentador). No fundo, tô me destruindo por dentro porque estou me preparando pra algo que você não me permite nunca. Algo que você não pode me proporcionar nem que você queira: sossego. É o que eu mais quero.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Minha cena

Hey my love,
Aqui onde moro está mto frio. Você não mora aqui, mas por alguma razão, você se faz presente nesta minha cena. O que visualizei foi o seguinte:

Hoje você deixou de sair pra balada e ficou com a Lê. Isso mesmo: você esteve na casa dela pra assistir filme, deitado no sofá e com edredom bem quentinho. Assistimos "Hitch - Conselheiro Amoroso"... Vc até deu risada, mas a Lê quase chorou em alguns momentos (ainda bem que vc nem percebeu!). Tomamos vinho e comemos pipoca. Eu sei: é uma combinação bizarra, mas vc cortou os meus chocolates – damn it! O filme acabou, me virei pra vc, te olhei com toda a intensidade do mundo! Toquei meus dedos suavemente nos seus cabelos, nos seus olhos... No seu nariz... Na sua boca e te dei um beijo de boa noite. Me virei de costas pra vc, ficamos de conchinha, bem juntinho debaixo do edredom. Você acariciava meus cabelos até descobrir a minha mancha de nascença, aquela que é enorme (e parece o mapa do Brasil de ponta cabeça) bem na nuca. Fez o contorno dela várias e várias vezes enquanto cantava pra eu dormir... E foi assim: bem feliz da vida, que adormeci em seus braços...

Assim teria sido a nossa noite chuvosa de sexta feira, se vc estivesse aqui e não fosse apenas fruto da minha imaginação...