quinta-feira, 19 de março de 2009

A que preço?

"Quando a gente não sabe se chora ou se ri...Ou quando faz as duas coisas ao mesmo tempo é sinal de estresse... Você ainda não percebeu que está trabalhando demais?" Aquele olhar de preocupação que ele lança faz com que ela pare pra pensar no caso. Eu mal comecei a trabalhar e já estou estressada? Isso não pode ser normal... Por que eu não aguentaria o tranco?
Ela se sensibiliza com o comentário e ri, meio sem jeito. A vontade era chorar... Se ela não tinha percebido o excesso daquela jornada de trabalho absurda, ele sim. Bom, hoje eu entrei às 8h30 e só saio às 22h... Será mesmo um exagero? Mal sabe ela que sim, mas de que adianta? Trabalhar mais ou menos é uma questão que foge totalmente ao seu controle. Ela não manda, é mandada. E obedece. Não basta jogar (in)diretas à gerência, pois ninguém parece ligar. E porque ligariam? Ela é apenas mais uma pecinha totalmente substituível em caso de algum dano irreversível. Já teve uma crise nervosa uma vez. Resolveu não se responsabilizar se tiver uma próxima e bem no meio ou no fim do expediente. Foram avisados. E antes que possam mandá-la embora, ela mesma irá pendurar as próprias chuteiras. Tô trabalhando e ganhando dinheiro a que preço? Já não durmo, quase não como, não paro de pensar em trabalho, não tenho mais vida social, muito menos tempo pra mim. Aquele tempo indispensável e só pra mim. Dizer que ela era feliz e não sabia é até maldade. Já sentia saudade daquele tempo, da vida que levava antes - não quando estava desempregada - mas quando podia fazer seu próprio horário e ainda recebia pra isso.
Enquanto ela pensa, sentada à mesa ele está se servindo de café e preocupado com algumas anotações sobre a aula. Não quer olhá-lo nos olhos porque se o fizer vai chorar. E ela não quer que ele tenha razão sobre o que disse antes. Disfarça brincando com um guardanapo entre os dedos para se acalmar. Sabe que a vida não está fácil, mas não vai desistir. Não mesmo. Enquanto aguentar, enquanto conseguir disfarçar seus problemas, seu cansaço, suas carências e limitações, ela vai levando. Até mesmo por que, ela faz isso por ele. Ajudá-lo, vê-lo sorrindo em função de algo que ela proporciana é a maior recompensa. Se não a única. Não estava disposta a perder isso ainda...

3 comentários:

Aty Sales disse...

Acho q entendo perfeitamente "ela", ainda que por motivos diferentes.
:)

Letícia disse...

Jura?
Aposto que "ela" teria ficado feliz com a sua compreensão! :)
Ah, que motivos diferentes seriam esses?

Aty Sales disse...

Trabalhando tanto qto "ela", mas por mim, ou no máximo por amor a arte... sou mais "egoísta" que "ela", hehe