
Às vezes, me assusto como suas estórias me consomem por dentro. Por vezes me falta o ar. Outras me sinto queimar de raiva ou de tanta paixão. Tem vezes em que eu me desmancho em lágrimas. É como se seus personagens ganhassem vida de encontro à minha. São tão reais quanto a minha existência. Sentem o mesmo que eu. Condenam outros da mesma forma. Sofrem, desistem, voltam atrás e apesar de todas as contradições, eles vivem. Fica fácil acreditar em você e naquilo que você tão habilmente me diz. Ou me escreve. Ou me inventa. Ou me conduz. Ou me induz.
Mas são apenas palavras e talvez eu não devesse fixar-me tão ingenuamente à elas. A sua vida não é aquela que você me faz acreditar, mas é aquela que por vezes me dói imaginar. Queria poder te dizer que eu sei o que é real. Que eu sei de onde todas as suas histórias partem. Que eu sei o porquê você escreve o que escreve. Que eu sei exatamente onde o real e o imaginário se misturam ou se separam por entre as linhas e as entrelinhas dos seus contos. Mas eu não sei. E existem certas coisas que a gente não deve buscar entender. Porque doem, porque ofendem, porque permanecem obscuras - quando e onde - não deveriam estar. Porque a razão é carrasca e o sentimento ingênuo. Porque ainda não sabem conviver. Porque se digladiam e já não se sabe mais o que pensar ou sentir. O que importa é que toda vez que eu te sinto, eu me sinto. Eu vivo. Eu sigo. Mesmo que no escuro e sozinha, mas sigo. E é o que vou continuar fazendo. Sabendo ou não de onde tudo vem. Sabendo ou não o que diabos você tenta e quer me dizer.
4 comentários:
Além da data de aniversário, eu também tenho muita coisa em comum com ele.
Como você, me percebo, me conheço e me reconheço em seus livros. Eles não se cansam de marchar em favor da minha insônia nem de militar contra o meu sossêgo.
Eles me perturbam. Apelam para o que me movimenta. Sussuram para mim sentimentos e idéias. E eu acredito em tudo.
Quando o li pela primeira vez "A tregua", com a sua doçura e desespero silencioso, eu chorei. E na segunda vez também. É o livro que eu gostaria de ter escrito. É o livro que me revela. E foi a maneira que encontrei para compartilhar com você o que sinto, quero e sou. Sem saber, você me levou pra casa com dedicatória e tudo!rs
Eu me surpreendi ao ler o seu texto, pois cada vez que você escreve há um crescimento qualitativo que me deixa realmente feliz e orgulhoso. Eu vibro mesmo. Mas confesso que não foi surpresa saber que "ele" fala com você como fala comigo. Afinal, a minha alma também sussurra coisas para a tua e vice-versa...
pffff
Chorei. E chorei muito. Nada que eu escreva como resposta vai tirar o brilho e a perfeição do seu comentário. Por isso demorei a responder. Você não facilitou a minha vida. Quase sempre eu consegui perceber ou desvendar seus gestos e palavras, mas você nunca tinha se revelado dessa forma antes. Foi uma surpresa que me desmanchou. O bom de tudo isso é que, assim como Benedetti e outros, você consegue falar e sussurrar coisas à minha alma. Coisas conflitantes, que me comovem, que me agradam, outras nem tanto, mas é assim que é e não teria como ser diferente: você também já é o escritor que um dia eu quero ser. Muito obrigada pelo seu comentário. É lindo e eu acredito em suas palavras. E pensar que a minha única semelhança com ele seja o nariz de batata. Mas acho que até com esse 'pequeno' detalhe eu deva ficar feliz... Certo? :)
Viu que ele faleceu ontem?
beijo,
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