quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Como é grande o meu amor por você...

Você sabe que eu te amo. Nunca cheguei a dizer isso o bastante, mas eu amo e muito. Quando você partiu eu era pequena o suficiente pra não saber a importância de ouvir isso. Toda vez que você me chamava, eu fugia com um já vou, já vou! E quase não ia. Quando desatenta, me agarrava, me segurava forte e falava coisas ao meu ouvido, enquanto eu tentava me desvencilhar pra voltar a brincar. Se eu apenas soubesse, teria feito todas as suas vontades. Teria parado toda vez pra te ouvir, te encher de beijos e brincar com você. Teria feito mais, muito mais do que pude fazer. Eu só tinha 8 anos e o nosso tempo foi tão curto...

Você foi a primeira pessoa importante que eu perdi na vida. Aquela que doeu mais. Meu avô, meu herói. Lembro do último dia que te vi aqui em casa. Você estava sentado no sofá e eu estava em pé ao seu lado. Tinha um tubinho, - parecia um caracol - , com seu sangue correndo por dentro, grudado à sua mão. Deve ter me chocado, mas eu imaginava que tudo ia ficar bem. Você me explicou o porquê daquilo, mas na minha vida tão compromissada de criança, logo deixei você pra trás, mais uma vez. Também foi a última...

Meu pai foi o responsável por contar a notícia. À medida em que ele falava, meus olhos já estavam arregalados de tanta apreensão. Sabia que as pessoas partiam para um outro lugar... Só não imaginava que pessoas da minha família também fossem obrigadas a partir um dia. Nunca tive pressa em crescer e o medo de esquecê-lo depois disso era enorme... Lembro da 1a viagem com você e a vó Nina, sem meus pais junto. No meio do caminho estava chorando e pedindo pra voltar. Vocês fizeram de tudo pra me bajular e me acalmar durante o período. Também teve o dia em que caí da barra de flexão que fica presa entre o vão da porta. De tantas cambalhotas que dei, me achando a ginasta, afrouxei a maldita e ela caiu na minha cabeça. Desmaiei. Você estava lá pra acalmar os nervos da minha mãe e levar-nos ao pronto socorro.

E aquele jacaré que peguei com você? Nos embolamos na hora. Enquanto a onda me levava, ralei pernas, queixo, mãos. Quando consegui subir, avistei você: sorrindo como que para acalmar a minha cara assustada. Os apelidos carinhosos que você me deu são usados até hoje. Continuo sendo a neguinha fedida para o meu pai, ou a nega difícil. Mais do que ninguém, você já sabia que eu era dura na queda... Difícil de domar. Lembro do dia em que a minha sandalinha da Xuxa ficou presa na escada rolante. A escada parou e eu não conseguia desprendê-la. Você me acalmava enquanto tirava a dita cuja do meu pé. Também detonei meu joelho - a cicatriz ainda é visível - naquele escorregador de cimento que ficava na pracinha em frente ao seu prédio. Mais uma vez, você estava lá pra mim... Como sempre esteve. Eu só era muito nova pra perceber...

Não muito depois de você morrer, rezei por dias e dias. Talvez anos, pedindo a Deus que não levasse mais ninguém da família, pois a saudade e a falta doíam na alma. Criança nenhuma merece sofrer tamanha ausência. Você foi um excelente jogador de futebol, mas era cardíaco e diabético. Mentia inocentemente pra minha mãe e pra vó quando dizia que não estava mais jogando. Na verdade você jogava com a mesma freqüência e intensidade. O médico te alertava, mas você era teimoso e não iria deixar de fazer aquilo que amava. Se tem uma coisa que me consola é saber que você morreu feliz. Não me importo com o tempo, pois essas e outras lembranças permanecem fortes e eu já não tenho medo de esquecê-lo. É impossível. Seu coração parou de bater, mas o meu ainda não. Você ainda está aqui, eu só não posso te ver ou te abraçar. Hoje, mais do que nunca, sei que você sofre, vibra, vive e permanece com a sua neta mais velha e a mais complicada. Sei que está rindo de tudo isso enquanto eu choro a minha saudade. Vai ter volta! Te amo, vovô Bastos. Desde aquela época, até os dias de hoje e mais forte ainda, no amanhã...

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