domingo, 7 de dezembro de 2008

Bola na rede

Ela amanheceu um tanto agitada. Ansiosa talvez seja a palavra mais adequada. Hoje acontece a última rodada do campeonato brasileiro e o São Paulo vai ser campeão, mas ela pouco se importa com isso. Está mais preocupada com a situação do seu time entre aqueles que ainda correm o risco de serem rebaixados. A verdade é uma só e nem adianta disfarçar: ela viveu num estado de nervosismo puro e constante a semana inteira e dali 90 minutos tudo estaria acabado. Ou ela iria lamentar e viver uma situação nunca vista antes - por ela - (seu time caindo pra segundona) ou comemoraria a permanência na primeira divisão como se fosse o título!

Às 17h já estava em frente ao computador, acompanhando os resultados dos demais jogos e com o rádio ligado no seu jogo. O time jogava em casa, mas ela preferiu não se aventurar, pois a última vez que pisou na Baixada o time foi eliminado de uma outra competição qualquer. Não quero ficar com fama de azarada, até mesmo porque eu nunca fui uma. Aguentar os amigos fanáticos culpando-a por uma possível derrota não foi lá muito animador. Pior, os amigos que torcem para o rival iriam pentelhá-la até o ano que vem! O mais prudente era ficar em casa e sofrer sozinha. Ou quase sozinha...

Aquela foto 3X4 do avô já está borrada. Ela costumava carregá-la a todos os jogos do Furacão. Guardava no bolso da jaqueta quando estava frio ou no bolso da sua calça quando estava calor. Quando muito nervosa, se agarrava aquela foto com tanta intensidade e fé que ao menor contato de suas mãos suadas o rosto do avô começou a sumir. Não importa, pois ela sabe que é ele, sabe o que ele representa e sabe o quanto era louco por futebol (foi jogador também) e atleticano fanático. No fundo, ele deve estar feliz por saber que tem uma neta tarada pelo esporte e que lembra de levá-lo toda vez para curtir aquela que foi sua grande paixão: o futebol.

À medida que os gols iam saindo, ela pulava, vibrava, aumentava o som para que a família soubesse da situação do time. Ah, mas a gente não vai cair mesmo, gritava e saia correndo feito uma criança pelos cômodos da casa. Os irmãos eram tomados pela sua alegria, assim como seus pais. Ninguém estava indiferente e cada um acompanhava à sua maneira. Ela tomava água sem parar, antes que a garganta secasse de tanta euforia. Nem os gols do time adversário desanimaram aquela que se redescobriu fanática. Tentava escrever algo que prestasse ao mesmo tempo em que ouvia o locutor exaltado e os repórteres mais ainda. Todo mundo torcendo junto. That's the spirit!, ela pensava. O nervosismo imperou do começo ao fim, mas foi um dia lindo. Pra ela, para o avô e para toda torcida atleticana.

O Atlético salvou o ano de 2008 para aquela que continua com sorte no jogo. O desgosto de cair para uma segundona está e continua bem longe dali. Já no bar, bebendo todas e rindo de tal façanha, decidiu que em 2009 voltaria a freqüentar o Caldeirão juntamente com o seu amuleto: a fotinho 3X4 do avô. Momentos de alegria como esse não podem mais ser evitados, Vô. Ainda mais tendo a certeza de que você estará ao meu lado. Seja lá qual for o resultado...

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