sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cama de casal

Ela já estava cansada da sua velha cama de solteiro. Estava numa fase decisiva em sua vida. Depois de 10 anos acordando às 5h, tinha sido promovida. Iria começar a entrar no serviço às 13h. Finalmente iria poder dormir e acordar tarde, mas a cama já não corresponderia a essa nova fase. Mais liberdade para braços e pernas. Espreguiçadas nada contidas, resultado de um sono tranqüilo – ela esperava! Queria uma cama maior, bem maior. Com 33 anos na cara, já estava mais do que na hora de ela se dar uma de presente. Uma de casal, ela considerou.

Ela precisa de espaço. Muito. Chega de virar para o lado e quase cair. Chega de virar para o lado e realmente cair. Não tem mais idade e muito menos lugar no corpo para acrescentar outro roxão indecente, fruto de outra noite mal dormida. Já não tem nem mais tamanho para se equilibrar numa cama estreita. Quer espaço e quem sabe, num dia frio, compartilhar uma das metades da cama com o seu affair, o novo estagiário. Uma cama de casal, ela decidiu. Já na loja, foi bombardeada por perguntas:

- A Sra. tem alguma preferência? Cama de casal em madeira ou um Box? Queen ou King size? Temos vários modelos...

O vendedor continuava a falar e a explicar, mas ela já não prestava atenção. Não se conformava com aquele 'Sra'. Não tá vendo que eu não tenho aliança? A única preferência que eu tenho é que você pare de me chamar de senhora, pois sou solteira e só quero uma maldita cama de casal. Qual o problema? Não interessa se é Box, madeira, Queen ou King size! Interrompeu o vendedor e disse:

- Eu não sou casada, mas queria uma cama simples, grande e barata. Tem alguma assim? Só isso. Ah, e o colchão, lógico. Porra, essas coisas deveriam ser mais simples e menos embaraçosas, pensou antes de finalmente escolher.

A cama seria entregue dali a dois dias, mas ela não quis esperar. Levou a cama desmontada mesmo e o colchão pegaria no dia seguinte. Estava ansiosa demais, tinha limpado todo seu quarto só pra conseguir fazer com que a cama entrasse. Tudo bem que seus pais (sim, ela ainda morava com eles) iriam questionar essa mudança radical, afinal de contas, ela não é casada. Mas ela estava disposta a explicar aos dois, pacientemente, o porquê aquela cama maior era importante e o que ela representava em sua vida. É uma nova vida!

Passou horas, horas e horas tentando entender os malditos desenhos das instruções. Não conseguia juntar as ripas pesadas, não sabia diferenciar uma ferramenta da outra, nem o que deveria usar para parafusar os cantos. Queria tanto aquela cama que acabou não dando conta do recado. Não podia pedir ao pai, pois ele já passava dos 70 anos e tinha um problema na coluna. Estava exausta e já passava das 2h. Arrependeu-se amargamente de não ter comprado o Box, por não ter ouvido o vendedor. No dia da grande mudança em sua vida, depois de tanta expectativa, teve que se contentar em dormir no seu velho colchão de solteiro, no chão, sem cama nova, muito menos a velha.

2 comentários:

antes que a natureza morra disse...

Interessante teu blog...diria mais : instigante !
Morei 3 anos em Curitiba (1970/71/72), época em que nem teus pais tinham nascido ainda...rsss
Morei em frente à Galeria Minerva, no Edificio do Cartório Volpi, na Marechal Deodoro (nem sei se existem ainda o edifício e o cartório).
Se quiser me visitar, estou aqui :

www.professorpizarro.blogspot.com

E se tiver "saco" e procurar meu currículo lá nas postagens antigas,verás o que faço e fiz...rsss

Beijo

James Pizaro

Letícia disse...

Olá James! Obrigada pela visita! Não esperava uma tão cedo (já que acabei de criar o espaço e ainda nem me empenhei em 'divulgá-lo'). No entanto, fico genuinamente feliz pq consegui prender a sua atenção! rsrsrs

Quanto a galeria e o cartório, realmente não sei dizer, mas posso verificar! Vou visitá-lo sim, e vc tb trate de voltar (com críticas, sugestões ou um simples oi!)

Beijo,