segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Universo Paralelo

Existe um rio imenso e caudaloso a nos separar. Não sei a que distância estamos um do outro, mas estamos longe o suficiente. Mesmo assim, consigo te enxergar do outro lado do rio: você é um pontinho amarelo a caminhar... Vou caminhando ao seu lado mesmo estando na margem oposta. Às vezes você acelera o passo e me vejo obrigada a correr pra te alcançar. Esquece que sou pequena e que preciso me equilibrar por entre as pedras que existem do meu lado. Às vezes, você pára do nada pra descansar e fumar o seu maldito cigarro. Sento em uma rocha, cruzo os braços ao redor dos joelhos e fico a te observar. Tão lindo, tão longe e, no entanto, tão impregnado e presente em mim. Te observo e espero pacientemente pelo nosso próximo passo...

Forço a vista para tentar enxergar o seu rosto, mas não enxergo tão longe e tão nitidamente. Não sei dizer quando você ri, chora, está brabo ou chateado. Não visualizo a movimentação da sua boca ao falar. Tento compreender através dos seus gestos, mas até mesmo esses me parecem contraditórios. É desesperador te ver e não saber ao certo como você está. Nesses raros momentos em que você pausa, tenho vontade de me fazer enxergar. É minha única chance de conseguir sua atenção. Aceno descontroladamente, pulo feito uma louca, grito como se minhas cordas vocais fossem arrebentar, mas é inútil. Você já não me ouve e não me vê. Pelo menos não como antes.

Todos os dias acordo decidida a cruzar o rio a nado, sem medo do que ele esconde em suas profundezas ou da turbulência de suas águas. Mas sei que a minha necessidade urgente de você acabaria por me matar no meio da travessia. Ao menos morreria tentando. Como o kiwi e seu desejo enorme de voar. Lembra? É triste, mas ainda não encontrei um barquinho a remo que pudesse me levar até aí, muito menos uma ponte que pudesse ligar o seu lado ao meu.

Faz quase 2 anos que estamos caminhando e a distância entre as margens antes parecia menor. Mesmo usando óculos você me enxergava. Costumava gritar palavras de carinho e dedicação e eu conseguia retribuir à altura. Fez com que eu acreditasse em nós, apesar das dificuldades. E elas eram tantas... Caminhávamos com pressa; ora rindo, ora chorando, os dois com o coração apertado. Não foi nada fácil e ainda não o é. Pelo menos não pra mim. Tínhamos esperança de nos encontrarmos na junção ou na nascente do rio. Essa hora mesmo que distante, contraditoriamente, parecia próxima.

Ao longo do tempo, o rio foi se alargando mais e você parou de olhar para o lado de cá. Escolheu não me ver. Nem ao menos disse adeus e isso é o que dói mais. Hoje caminho com um certo desânimo no olhar e um sorriso falso no rosto. O coração e a alma choram as lágrimas que meus olhos não conseguem derramar. Enquanto isso, a vida segue e vai se transformando à sua volta. Você se afastou da margem e está adentrando a floresta maravilhosa que existe aí do seu lado. Por entre árvores esparsas e arbustos isolados , vejo coisas que me cortam o coração. Mesmo estando longe, mesmo que não enxergue claramente. Você fez sua escolha e cabe a mim respeitá-la. Tenho tentado me afastar também, mas aqui só existem pedras e uma montanha íngreme que eu tenho preguiça e medo de escalar. Medo do que encontrar no outro lado ou lá no alto. A margem é minha segurança. Você foi e continua sendo o meu porto seguro.

Sei que de alguma forma você está bem deste lado. Tranqüilo e vivendo o presente sem se preocupar com o amanhã. Isso me consola: a sua felicidade é a minha e você deveria acreditar em mim. Você ainda caminha apressado, mas eu já sigo a passos lentos, bem mais pra trás. Não quero ver para onde o rio vai te levar, pois claramente não é pra perto de mim. Nosso universo é paralelo: os caminhos nunca se cruzam por mais que a gente queira. Por mais que eu queira... Siga sempre em frente e sem medo de olhar para o lado ou para trás. Uma hora já não estarei mais aqui... Deixe-me, pois aquela montanha ainda me espera. Mudar o rumo deveria ser fácil, mas o problema é que ainda te amo e insisto em seguir o curso do rio. O nosso rio...

Continuo sentada na rocha, com o mesmo coração apertado de outrora, vendo você se afastar cada vez mais. Ainda é possível te enxergar... Será que o amor e o desejo deixaram de existir em nós? E as alegrias e os sofrimentos terão sido em vão? E quanto aos sonhos: os meus, os seus, os nossos? O tempo foi pouco, mas há inúmeras recordações por trás e que você já não se lembra mais... Tínhamos esperança de nos encontrarmos na junção ou na nascente do rio. Foi doce a nossa ilusão. O rio, o nosso largo e vasto rio, parece desaguar de braços bem abertos... Para o mar...

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