quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Como se fosse a última vez...

Ele finalmente foi promovido. Além disso, vai poder escolher o país que pretende desbravar e continuar o seu trabalho. Tem como opções a Polônia, os Estados Unidos, o Peru e até os Emirados Árabes... Mas não é com o local que ele está preocupado agora. É com ela. Ela passou meses desempregada e justo agora que estava trabalhando em algo que gostava, ele ia estragar tudo. Pra ela. Ou para os dois. Não tem como não dar merda, ele pensava. Deitado no sofá e bebendo até neutralizar suas dúvidas, ele a esperava.
Ela vai entender. É compreensiva como ninguém. Sempre me apoiou. Ela vai largar tudo pra ir comigo. Eu sei que vai! Entre um gole e outro, a certeza de segundos atrás, descia amarga goela abaixo. Puta que pariu! Ela não vai entender. Vai dizer que estou sendo egoísta e que só penso em mim. Vai querer ficar aqui, trabalhar nas exposições e ela ainda pode crescer tanto! Nosso canto já está quase com a nossa cara. Ela não vai querer trocar o certo pelo duvidoso! É tão cagona quanto eu...
A promoção veio antes da hora. Só Deus sabe o quanto ele veio se esforçando pra isso ao longo dos últimos 2 anos. Agora ele tem a oportunidade de assumir um cargo de chefia em alguma das filiais espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Passaria 3 anos longe de casa... Não parece, mas é muito tempo. Ela não precisaria ir já, poderia se acostumar com a idéia antes. E depois, não deve ser tão complicado ela encontrar algum trabalho. Dependente minha eu sei que ela não vai querer ficar. É orgulhosa demais pra isso...
Quanto mais pensava, mais deprimido ficava. Nenhuma saída parecia fácil. Essa porra de vodka nem pra me apagar ou me ajudar! Já não queria que ela chegasse logo. Não sem antes ter noção do que dizer, de como dizer e do que fazer. Longe um do outro não teria razão de ser e continuar. Não seria justo pra mim, muito menos pra ela... E eu trabalhei tanto pra isso. Não posso simplesmente fechar os olhos para a chance de uma vida. Mas como deixar a mulher que amo pra trás? Continuava deitado, pensando, quando ouviu o barulho da chave na fechadura. Ela mal abriu a porta, viu ele deitado e já entrou toda animada com aquele sorriso certeiro no rosto...
- Bb, você não vai acreditar no que a cliente número 1 me disse hoje...
Ele a interrompe.
- Não, pequena. Quem não vai acreditar no que aconteceu hoje é você...
Ela olhou pra ele assustada. Sabe que aqueles olhos lindos que ele tem não sabem esconder nada. O medo dele se instalou de vez enquanto ele a abraçava forte. Como se fosse a última vez. Lágrimas começaram a escorrer sem parar e ele já soluçava que nem criança pequena. Não imaginava que todo sonho a ser concretizado carregaria um pedacinho - minúsculo ou gigante - do inferno junto...

2 comentários:

Só para raros disse...

Pensam, sim! Ninguém quis montar a pousada retirada comigo porque suas mulheres são urbananóides! Pfffffffff
Eu não deixaria de fazer algo por alguém... Por quê, se eu já impeço a mim mesmo?rs
Mas é assim que funciona: não há prazer sem um pouquinho de dor ou renúncia...Acho!

beijooo

Letícia disse...

Mulheres urbananóides foi ótema! :)
Eu ainda acho que um homem não pensaria duas vezes antes de decidir esse tipo de coisa. É muito mais racional do que a mulher. De qualquer forma, I agree with you: "não há prazer sem um pouquinho de dor ou renúncia"...
Mas pq? Pq? Pq? Podia ser tão mais facinho, né? rsrsrsrsrsrs
Beijo