"Não case e não tenha casa..."
Conselho de mamãe. Seguir ou não seguir? Quando eu estiver perto de uma coisa ou de outra ou das duas, eu penso! Not now...
O espetáculo da vida!
Há 6 anos

Penso muito em você. Não queria que esse texto fosse tão pessoal, mas hoje eu não pretendo transferir aquilo que sinto ou meus momentos, para um personagem qualquer. São momentos meus. Ou melhor, nossos. Também não vou correr o risco de que a minha memória comece a esquecer cada detalhe, de cada dia, dos 3 meses em que passamos juntos. Às vezes eu penso em como teria sido mais fácil se tudo tivesse permanecido no campo virtual. Você a um oceano de distância e eu aqui. Foram meses assim e já estava bom. Mas algum tempo depois a gente quis mais. Era preciso tornar real. Você veio pra cá e quando te vi, tão diferente daquele garoto que conheci na faculdade, o friozinho na barriga foi um sinal: soube exatamente que queria isso e que já não tinha mais volta. O sofrimento por ter que ver você partir - cedo ou tarde - , naquele momento, parecia tão distante. Eu escolhi e aceitei todas as conseqüências. Sim, eu ainda penso muito em você, mas é difícil descrevê-lo com poucas palavras, pois você representou uma infinidade de coisas pra mim. É tudo tão maior que eu e qualquer palavra ou tentativa vai soar pequena ou insignificante. Prefiro lembrar os momentos e eu lembro de tudo, tudo, tudo... Das conversas intermináveis dentro do meu carro, com você deitado ao meu colo e falando sobre o rumo de nossas vidas. Com os vizinhos do prédio ao lado a nos observar. Das cervejas, ices e vinhos que compartilhamos nos lugares mais banais ou diferentes. Davam a coragem necessária pra falar aquilo que ninguém mais sabia a respeito de nós mesmos. Não sinto falta do bigodinho, mas adorei o souvenier que você me deixou. Sinto falta de observar as pessoas caminhando no parque nos dias frios. De ver seus olhos consumistas brilharem por qualquer parafernália eletrônica. De você brabo comigo no meio da rua e me impedindo de dirigir levemente alcoolizada. Dos seus abraços, dos seus beijos intensos e que percorriam o meu corpo inteiro. Do toque das suas mãos. Da sua pele na minha. De você dividindo a minha cama. De dormir e acordar feliz por ter você ali. Das nossas pernas entrelaçadas. Do seu cheiro. Da sua presença. Dos amassos. De todos os blues possivéis e imagináveis. Dos nossos apelidos. Dos filmes e seriados que assistimos. Das suas histórias. Das nossas sobremesas. Da sua risada. Da nossa preguiça. Dos amigos que conheci através de você. Das baladinhas com eles e os programas a dois. Do seu olhar sério e o medo do que você poderia vir a me dizer. Do ciuminho saudável. De saber ser observada por você e me sentir totalmente aceita. De analisar suas fotos. De você capturando os meus momentos. De você não conseguir ler nos meus olhos aquilo que eu queria que você enxergasse. Das nossas mãos dadas. Do carinho. Do seu cuidado comigo. Da sua preocupação. De me encorajar a todo instante. Das mensagens que deixei no seu celular e suas ligações como resposta. Do medo de me apegar. Medo que você também teve. Da caminhada quilométrica e sem rumo do nosso último sábado juntos. Do descanso. Das cervejas pra matar a sede. De ouvir os planos da sua viagem. Do meu último choro acompanhado do nosso alívio. De ver você feliz. De estar feliz junto. De ter vivido tudo isso. De saber que teve muito mais. De não saber que o último dia era realmente o último. Foi tão simples... Se eu apenas soubesse...
A amargura do café não. Hoje não. Quero algo mais doce, mais cremoso... Com os pés descalços e a camisola folgando no corpo ela caminha até a cozinha para o café da manhã. Pega as latinhas de café, achocolatado, açúcar, leite em pó... Tudo para fazer o seu próprio cappuccino. Enquanto separa ingredientes, pega canecas e bacias, vai ponderando sobre os rumos de sua vida até então. Como é bom estar de férias! Não admitir que já sente falta do trabalho é estratégia para enganar a mente. Ela já está quase enlouquecendo de saudade. E se eles gostarem mais do substituto? O que diabos irá acontecer comigo? E se ele me contradizer na frente dos outros? E se ele rir ou roubar parte das minhas idéias? E se... Ah, pára de pensar nisso! Relaxa enquanto você pode...
Preocupação e ansiedade. Parece não ter fim.
Você caminha. Por horas e horas antes de parar para descansar. Você tem um rumo, mas não tem prazo ou data certa para chegar. Quem comanda o ritmo é você. Quem determina o quanto caminhar, também. E você vai... Segue. Para onde quiser. Livre de pensamentos. Outras vezes abarrotado por eles. É a tal viagem de autoconhecimento. De descobrimento. Chega de conforto. Você quer é sentir a dor na pele, nas juntas, nos músculos e articulações. Comendo e bebendo o suficiente para manter-se em pé. Vivendo como um andarilho. Aprendendo como ser humano.
Porque o melhor beijo é o seu... O abraço mais apertado... O mais sincero... A risada mais gostosa... O choro mais doído... Os olhos azuis mais lindos e transparentes são os seus: que me desmontam com um simples oi ou um eu te amo muito... Mesmo que você ainda não entenda completamente e não perceba a importância daquilo que diz... Porque você me enxerga não apenas como dinda, mas como amiga. Como criança. Alguém igual a você. Porque diante dos seus olhos consigo perceber o melhor de mim...Porque você enxerga a minha beleza onde ela realmente está. Você me respeita. Você me faz feliz. Descubro você - e vice-versa - todos os dias. Dizem que príncipes encantados não existem. Mas que sorte a nossa vivermos em um outro mundo! No nosso mundinho imaginário você já é quase rei...
[Silêncio na linha...]
O que dizer? Como definir o atual momento? Não convém pensar muito, pois o desgaste mental também é traiçoeiro. Pensar e pensar. E não encontrar. Não é isso o que eu quero dizer. Falta aquela palavra. Falta aquele sentimento. Falta lapidar aquela idéia. E ele precisa dela tanto quanto eu. Pensa, por favor, pensa. Na atual conjuntura não adianta forçar. Na falta de tu, vai tu mesmo. Roteiristas, compositores e escritores: me definam! Me 'dêem' algo que seja traduzível... Me ajudem!
"Como vocês conseguem dormir? São quase 15 relógios de parede e antigos espalhados pela casa!"
Não sei quem você é. Não sei se é homem ou se é mulher. Não sei de onde veio nem para onde vai. Desconheço suas crenças. Não sei da sua família, da sua vida, não sei nada. E mesmo assim, você fez a diferença. Mesmo assim eu penso em você. Nas coisas que deixou de fazer. No que te aconteceu ou em como as pessoas que você amava estão. Como pode um único fato proporcionar sentimentos tão diametralmente opostos àqueles que estão envolvidos? É difícil... A minha alegria acarreta a tristeza de alguém importante pra você. Mas ao mesmo tempo eu penso que você fez uma escolha. Simples - ou de repente nem tão simples assim -, mas o seu gesto foi extremamente nobre e humano. Uma única escolha que representa vida nova para tantas outras, apesar da dor e sentimento de perda que permanece para aqueles que estavam ao seu lado. Rezo por eles. Rezo por você e agradeço todos os dias. Porque o seu rim possibilitou e deu nova vida ao meu pai. Muito obrigada...
Já são quase 23h e eu ainda estou escrevendo a 7a página de uma história que eu comecei há umas 4h. Na verdade é mais um capítulo de um romance, mas deixei meu personagem tão complexo e ambíguo que por vezes fica difícil determinar onde ele começa e eu termino. Ou vice versa. Hoje está simplesmente impossível entrar na cabeça daquele homem xucro e turrão. Será que eu sou assim mesmo? A essa hora você deveria estar em casa. Anda estressado com o trabalho e resolveu sair para beber com os meninos. Esqueceu que eu tenho um puta deadline pra cumprir e também queria a sua companhia: me acalmando e sendo paciente com o meu desespero. Não faz drama, pequena! Vai dar tempo perfeitamente!
Órfã de você eu fiquei.
São quase 2h. Ela entra em casa cambaleando e se esforçando para não fazer barulho. Mal deixa as chaves na bancada da cozinha e ele acende a luz. Olha pra ela com uma cara de reprovação. Antes que ele possa dizer alguma coisa, ela já se defende.
Não quero me justificar. Só vou dizer o que é e como é pra mim. É só um desabafo. Relacionamentos não me fazem bem, não me fazem melhor, só me sugam o que eu tenho de bom e me fazem sofrer. Não existe troca.... Cansei de esperar e me dedicar por algo ou alguém que nunca vem ou que nunca se entregou por completo. Pelo menos não a mim. Não quero mais. Se tudo o que eu quisesse fosse viver uma historinha de cinema, daquelas bem besta onde tudo é tão perfeito e maravilhoso que irrita, eu até entenderia minhas frustrações e meus planos malfadados. Mas não. Só queria alguém disposto a aceitar e entender minhas neuras. Me esforçaria para entender as suas também. Alguém que me mostrasse caminhos ou escolhas. Alguém que se importasse comigo e que tivesse a certeza da reciprocidade na relação. Aceitaria suas dúvidas, te ajudaria a elucidá-las - se estivesse ao meu alcance. Ficaria feliz com suas certezas e conquistas. Viver a idéia de um aprendizado contínuo e de aceitar as diferenças é um desafio. É algo que exige, mas que tem lá as suas recompensas. Se escrevo sobre relacionamentos é porque gosto, porque são pequenos fragmentos de uma vida que eu queria ter e não tenho. Acredito neles, mas não consigo vivê-los. Não me pergunte o porquê, não me mostre a minha teimosia, não aponte só os meus defeitos, não me diga que ou o que eu mereço. Eu sei aonde está a minha culpa. Eu sou o sabotador da minha própria vida... Talvez a (des)graça esteja aí, não? Não seja como eu. Não se agarre aquilo que não existe. Dói ler tudo isso, eu sei. Mas você não tem a mínima idéia da dor que é realmente viver isso... Ou o coração está vazio ou ele virou pedra.
- É uma coisa da minha cabeça procurar a motivação de um acontecimento e tentar eliminar o acaso.
Não queria que as coisas que você escreve tocassem tanto o meu coração. Não queria sentir que vez ou outra perco meu próprio controle em função sua. Não queria acreditar nas maravilhas que você descreve, muito menos acreditar em suas dores. De uma forma ou de outra, elas acabam virando as minhas também. É algo maior que eu. A racionalidade - aquela que uso como armadura - se desmancha quando você me toca. Não fisicamente, mas com suas palavras. Não basta aflorar as emoções que eu tento esconder ou disfarçar, mas você também quer gerar a discórdia entre aquilo que penso e sinto. Por que é tão difícil balancear as duas forças? O que eu deveria aniquilar? Você já escreveu sobre essa disparidade. Parece simples, mas é algo que foge a minha compreensão que sempre buscou o complexo.
Estranho pode ser bom. Lembra? A gente costumava dizer isso quando algo incomodava. Não era exatamente um incômodo, pois não sabíamos ao certo definir se era algo bom ou ruim. Mas quando não se sabia ler e entender o próprio pensamento ou quanto mais entender um sentimento, a salvação era essa. Dizer que o estranho pode ser bom... E a gente ria pois era melhor acreditar nisso a tentar compreender aquilo que não se conseguia. O estranho era o elo. Você era a minha versão masculina. Éramos e ainda somos - de certa forma - tão parecidos que chega a ser assustador.
"Quando a gente não sabe se chora ou se ri...Ou quando faz as duas coisas ao mesmo tempo é sinal de estresse... Você ainda não percebeu que está trabalhando demais?" Aquele olhar de preocupação que ele lança faz com que ela pare pra pensar no caso. Eu mal comecei a trabalhar e já estou estressada? Isso não pode ser normal... Por que eu não aguentaria o tranco?
Você associa cobiça ao meu nome como se me conhecesse. Como se eu quisesse roubar alguém que - por livre e espontânea vontade - é seu. Ele não me interessa. Pelo menos não do jeito que você pensa. Mas você, com o seu ciúme besta e infantil, quer mantê-lo longe de quem julga ser uma ameaça ao seu conto de fadas moderno.
Tomara que ele não venha hoje. Tomara que ele não venha hoje. Calma. Ela não estava querendo evitar um carinha mala qualquer. O problema não era o cara. Aliás, ele era ótimo. Inteligente, carinhoso e de riso fácil. O problema era que, além de estar numa baladinha que odiava, ela estava com uma cólica terrível. Sabia que não seria a melhor companhia aquela noite. Deixou de beber porque achou que pioraria a dor. Quase não falou, mas sorria ao ouvir as histórias de seus amigos. Foi uma boa ouvinte. Mas, cedo ou tarde, ele chegou. Merda! E apesar de todo o esforço dela para ser simpática e querida, ele percebeu que tinha algo errado...
Cama de casal só pra mim? Pode ser interessante, ela pensou antes de deitar. Pegou o travesseiro dele e abraçou junto ao corpo. Ainda era possível sentir o cheirinho de maracujá. Fechou os olhos e já sentiu a falta. Dele. Foi se arrastando de leve para o outro lado da cama como se ele estivesse ali para escorá-la. Mas ele não estava. Só voltaria de viagem dali 3 dias. O lençol estava gelado e ela não parava de se arrastar de um lado para o outro. Não conseguia sossegar e achar uma posição confortável. Precisava que seu espaço fosse delimitado. Precisava sentir o calor do corpo dele. O mínimo contato para conseguir dormir. "Só eu mesmo pra te aguentar!", ele costuma dizer. Mas quando o assunto é dormir realmente ela não é fácil. É pior que criança. Às vezes tem pesadelos e acorda assustada. Sofre de insônia quando está estressada ou ansiosa. Geralmente é vencida pelo próprio cansaço ou pela sessão vigorosa de sexo de quase todo dia...
Hoje o dia foi estranho, mas o estranho - às vezes - até que cai bem. Acordei às 7h para o meu teacher training às 9h. Tenho acordado sem a ajuda do despertador em função da minha ansiedade e medo de perder a hora. Ter responsabilidade funciona que é uma beleza nesse caso. Passo 3 horas observando os outros teachers, gritando e gesticulando feito um bando de condenados. Não tem como escapar. Tem que dar a carinha pra bater. Palhaçada pura. E o mais legal: em outra língua. Mais dinamismo, pessoal. Mais rápido, mais alto. Vocês são os regentes! E funciona assim: Eu falo, você repete. Eu falo, você repete. Eu falo, você repete. Falar e repetir insistentemente por 1 hora. É bem fácil... Cheguei em casa exausta só de imaginar que estou - momentaneamente - disposta a 'gastar' 8 horas ou mais do meu dia assim. Mas por enquanto, vamos apenas focar no treinamento.
É engraçado pensar nas recordações que as pessoas costumam carregar relacionadas à infância. Eu, por exemplo, lembro de ter 8 anos e ficar com medo de não ter alguém em quem eu pudesse me apoiar (não emocionalmente e todos os 'entes' possíveis). Lógico que eu nem sabia o que era isso. O apoiar é no sentido de estar junto. Ou seja, naquela época eu devia estar mais preocupada em ter alguém para simplesmente brincar comigo. E só comigo, se fosse a nossa vontade (pois as crianças também podem ser más e cortar as outras das brincadeiras). Na minha cabeça meio precoce - eu imagino - as coisas funcionavam bem assim: o papai tinha a mamãe. O meu irmão mais velho tinha o irmão mais novo. Na sequência, eu. E depois de mim, vieram as gêmeas. Ou seja, quem ficou sem par na brincadeira da minha família fui eu. Até os cachorros tinham um ao outro. Mas eu, com 8 anos de idade não tinha ninguém. Acho que esse medo permaneceu comigo mesmo que em estado latente e eu acabei me isolando em várias situações ao longo da vida. O pai e a mãe continuam juntos. Os irmãos casaram. Cada um tem sua esposa. E o casal de sobrinhos (tem um ao outro, vejam só). E as irmãs continuam solteiras, mas elas têm uma à outra. E eu? Já quando criança não tinha par. E agora, depois de velha, continuo sem par. Não quero morrer sozinha e desamparada. Será que a nóia de criança cresceu e virou uma puta nóia de adulto? Só pode e eu continuo com medo. Talvez por isso o meu desejo de ser mãe seja enorme. Pelo menos teria alguém pra mim... Faz sentido?
Amanhã completo 77 anos. Há 1 ano fiquei viúvo. Só Deus sabe o quanto eu sinto falta da minha polaca. Não sei como ainda não perdi a noção do tempo, pois os dias depois de uma certa idade parecem todos iguais. Não existe mais novidade, não tenho mais ao meu lado a pessoa que fazia a diferença. Rezo todos os dias para o fim dos meus dias. Já vivi o suficiente, já vi muita coisa, ainda guardo na memória os momentos e pessoas que fizeram a nossa vida valer a pena. Claro que muita coisa já se perdeu aqui dentro, mas a idade e o passar dos anos também passam a ser cruéis com as melhores lembranças...
Seu psicólogo me ligou ontem querendo conversar. Quase tive um infarto ao imaginar que alguma coisa pudesse ter te acontecido, mas ele disse que você está bem. Hoje fui lá e ele me entregou uma carta. Pelo que entendi era um exercício e ele pediu que você a escrevesse justamente com a intenção de me entregar. Não quis ler na frente dele. Enquanto caminhava rumo ao escritório tentava adivinhar o conteúdo daquele envelope. A curiosidade era enorme, mas o medo ainda era maior... Estou no meu cubículo e acabei de lê-la. Não queria responder agora, no calor do momento, mas ao mesmo tempo não quero deixar os pensamentos e as respostas irem embora ou perderem força. Sempre senti um puta orgulho de você e das coisas que você escreve. Você sempre foi tão boa com as palavras, mas estas - carregando suas dúvidas e medos - só ajudaram a me estraçalhar ainda mais por dentro.
Ainda não acredito que você levou embora o laptop (que também é meu). Agora eu preciso escrever minhas matérias, textos, lembranças e o escambau a quatro tudo a mão! O pior tem sido recordar. O choro vem rapidinho e eu desisto das lembranças. Às vezes parece melhor esquecer, mas o psicólogo disse que me ajudaria. Não só a minha recuperação, mas também a entender o que acontece com a gente. Em função do acidente eu acabei quebrando as pernas e você saiu ileso. Não consigo nem lembrar o maldito porquê daquela discussão. Foi apenas um desvio de olhar e pronto. Hoje já faz uma semana desde a minha última cirurgia. Uma semana que eu estou deitada na nossa cama sem poder levantar pra quase nada. A Valéria às vezes me coloca na janela. " É bom pegar um solzinho. Vai levantar o astral da senhora". Engraçado como ela tem razão. O movimento na rua é incessante. O mundo acontece lá fora e eu esqueço de mim. Tenho tanto a observar...
Ele finalmente foi promovido. Além disso, vai poder escolher o país que pretende desbravar e continuar o seu trabalho. Tem como opções a Polônia, os Estados Unidos, o Peru e até os Emirados Árabes... Mas não é com o local que ele está preocupado agora. É com ela. Ela passou meses desempregada e justo agora que estava trabalhando em algo que gostava, ele ia estragar tudo. Pra ela. Ou para os dois. Não tem como não dar merda, ele pensava. Deitado no sofá e bebendo até neutralizar suas dúvidas, ele a esperava.
Era uma sexta-feira a noite e eles não quiseram sair. A semana já tinha sido regada a jantares com amigos, happy hours e eles estavam quebrados. Assistiam a um filme de aventura onde o mapa da mina deve estar localizado no inferno, ela pensava. Já não aguentava mais tanta cretinice. Virou para ele e disse:
Você me disse para escrever minhas idéias e sentimentos numa folha de papel, pois fluem melhor. Talvez você tenha razão. Apesar da pressa e do garrancho - ao qual tenho a coragem de chamar de letra - os sentimentos tornam-se claros como o verde dos seus olhos. "Aí vai a sua porção de piadinhas diárias como parte do tratamento, baixinha". Não tem depressão que resista ao seu esforço. Mesmo a vontade sendo a de chorar você conseguia me arrancar gargalhadas com as tirinhas infames do Dr. Pepper. Sempre me largava uma mensagem no msn com pensamentos positivos e querendo saber como eu estava. Mesmo longe, sua preocupação para comigo sempre foi real e sincera. Desde lá trás. Já não conseguimos falar com a frequência de antes, mas fazemos questão de lembrar ao outro a nossa existência. Continuo sempre aqui, polaco. Quando puder e tiver tempo, me chame... Quando finalmente conseguimos nos cruzar na nossa correria - mais sua do que minha - não perdemos tempo com nossas lamentações ou frustrações profissionais. Nem parece que o tempo passou, nem parece que ficamos meses sem trocar palavras. "Você é péssima pra se esconder, invocadinha. Sei exatamente quando está aí". Rimos das nossas besteiras, das piadas, da nossa vida, das nossas desgraças, mas sempre crentes de que tudo pode piorar. E é exatamente por isso que até estamos bem, eu diria.
Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Não consigo pensar em nada que tenha superado o atual momento. Assim que abri o resultado do exame e me vi grávida* chorei de tanta emoção. O sonho - o maior de todos - estava crescendo bem ali dentro de mim. Depois do choque, da euforia inicial, do susto e de todas as sensações conflitantes dignas de uma gravidez não planejada, pensei em você. E me deu medo. Muito medo.
Estamos conversando cara a cara e eu sei dizer que a sua vontade é a de me beijar. É algo evidente em seus olhos e seus gestos demonstram certo nervosismo. Seu sorriso é contido. Você fala coisas sem sentido e que não me interessam, pois está com medo do silêncio. Aquele que abre espaço ao beijo. Sei que é a sua vontade, mas você não vai me beijar. Não vou dizer que te falta coragem, acredito que seja uma questão de respeito. São quase 10 anos de diferença. A única explicação plausível é a de que eu sou uma mulher e você é um garoto. Poderia facilitar a sua vida e eu mesma partir para o ataque. Por que não? Sou uma mulher de atitude que nunca negou suas vontades e você é maior de idade. Poderia facilitar, mas não vou.
Ainda estou acordada e lutando com todas as minhas forças para me manter assim. Sentada na poltrona junto à cama, observo você dormir. Agora só me resta guardar na memória aquilo que minhas mãos, lábios, pernas e nariz sentiram em contato direto com o seu corpo. Tento capturar como uma máquina fotográfica cada detalhe minúsculo e que por ventura tenha passado despercebido tamanho o nosso desejo e afobação de horas atrás. Difícil tentar determinar a reação que você causou para cada um dos meus sentidos. Com minhas mãos percorri seu corpo inteiro entre toques suaves e vigorosos. Era essencial, como se me provassem que você realmente estava ali. Sua pele tão macia e branca feito leite contrastava com a minha que é morena. Reparei nas pequenas sardas dos seus ombros e que arranhei de leve como se pudesse apagá-las dali. Seu cheirinho de pêra me fez querer te lamber, morder e chupar feito fruta madura. O tempo todo. Meus lábios molhados percorreram cada pedacinho do seu corpo sem secarem uma única vez. Descobri que aquela sua marquinha abaixo do umbigo é irresistível. Minhas pernas, apesar da diferença de altura, procuravam o encaixe perfeito entre as suas. Você buscava me ler tanto quanto eu. Sua barba cerrada e me arranhando inteira de cima abaixo me levou à loucura. Seus beijos se alternavam tanto que eu já não conseguia corresponder à minha própria urgência de você. Seu hálito de cigarro, disfarçado pelas balas de menta, refrescavam a minha boca quente e sedenta. Seus dedos compridos e delicados sabiam exatamente onde eu queria e precisava ser tocada. Seus olhos me diziam todas as coisas que sua boca não conseguia e nem podia dizer na hora...Você apareceu do nada na porta da minha casa. Mal entrou e já foi me agarrando, arrancando minhas roupas com violência enquanto me beijava furiosamente e me apertava contra a parede, contra você. Cedi na hora. Formalidade pra quê? Já esperamos tempo demais... Só queria saber e sentir o seu corpo colado e transpirando junto ao meu e em perfeita sintonia. Até o fim. Foi uma briga de igual pra igual onde os dois sairam vitoriosos, mesmo que o atual cansaço mostre o contrário. Agora, estou aqui sentada e bebendo uma cerveja pra me acalmar. Não sei quando irei vê-lo novamente e eu preciso guardar esse momento com a maior riqueza de detalhes possível. Não posso e nem quero dormir. Quero estar acordada quando você for embora...Velando o seu sono tenho a certeza de que poderia ser mais do que isso. Respiraria, transpiraria, me alimentaria de você todos os dias, todas as horas, por tempo indeterminado... Mas eu só tive uma noite pra isso, pois amanhã você já está indo embora e não sei quando e se pretende voltar...
Faz alguns anos que não nos vemos e temos falado muito pouco. Você mudou de mala e cuia para a França e pelo que me consta, não parece querer voltar. Sua vida de escritor renomado tem tomado muito do seu tempo. No entanto, não posso deixar de te contar a novidade. Saiba que ao menos um de nossos sonhos saiu do papel. A nossa livraria está de pé e é exatamente do jeito que imaginamos um dia. Foi difícil no começo, pois a idéia sempre foi que a construíssemos e mantivéssemos juntos, mas já não tinha certeza da sua real vontade. Nosso mundinho está localizado em uma estrutura toda de tijolinhos. O espaço é lindo e não tão pequeno como o previsto. Consegui implantar as minhas idéias, sem esquecer-me das suas. Nada de abrir filial de alguma grande rede, nada de modernidades e distanciamentos para livros que vêm se mantendo ao longo de séculos. Estantes de madeiras, livros acessíveis e variados, atendentes solícitos. O tempo todo. É um cantinho perfeito. Não sei como descrever, mas imagine aquela sala de estar abarrotada de livros, almofadas coloridas para se ler deitado e algumas poltronas. As bancadas centrais respirando História, as paredes com quadros cheios de versos ou pinturas. Já não consigo mais ficar longe. Respiro, transpiro e me alimento de todo aquele saber 'semi embutido' nas estantes que são da cor de chantily. Temos uma programação cultural diferenciada. Principalmente para os idosos. Adoram os saraus e eu tenho me esforçado na minha péssima oratória. O que importa é que eles sentem-se em casa aqui. Acho que o que mais atrai nosso público é o fato de nossos exemplares poderem ser lidos sem a obrigação da compra. Se gostar, leva! Se não gostar devolve e muda o foco! Uma hora acha. A meta principal nunca foi a de lucrar horrores em função dos livros, mas fazer com que as pessoas criassem hábitos de leitura e viajassem a universos antes desconhecidos. Como a gente fez e ainda faz. É por isso que damos atenção especial às crianças. Se você apenas soubesse o papel de palhaça que eu faço nas oficinas ou encenações, ficaria horrorizado. Ou admirado, não sei. Parece bobo, mas na maior parte das vezes fico imaginando como seria ter você aqui. Sei que se ocuparia absurdamente nas estantes e bancadas dos clássicos, os seus preferidos. Poderia passar horas ali espanando e colocando os livros em ordem; lendo as orelhas de edições novas ou de exemplares que ainda nem chegou a devorar... Ao olhar para o lado me encontraria fácil nas estantes dos romances e escritores latino-americanos, os meus preferidos. Escolheríamos livros ainda não lidos, para no fim do expediente, nos encontrarmos nas mesinhas de café (sim, temos uma cafeteria minúscula, mas que faz toda a diferença). Comentaríamos sobre o nosso dia; discutiríamos formas de manter a 'casa' em ordem e as novidades das editoras. Você até poderia ter suas tardes e noites de autógrafos bem aqui. No seu lugar... É engraçado, mas hoje vejo que não tenho apenas o melhor trabalho do mundo. Eu simplesmente vivo esse mundo. Nunca havia me sentido tão realizada como agora... Saiba que quando vier e se vier, as portas - com a sineta anunciando - estarão abertas para você e o pão de queijo estará quentinho. Nossa livraria, como você mesmo previu, fica ali mesmo: just around the corner...